POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
HENRIK NILSSON
Henrik Nilsson nasceu em 1971, em Malmö, no sul da Suécia, onde mora atualmente. Publicou o primeiro livro de poesia, Sem Sapatos, em 1993, É considerado pelo jornal sueco Svenska Dagbladet "uma das estreias de poesia mais promissoras e apaixonantes dos últimos anos". É uma coleção de poesia experimental e metafórica. Demorou vários anos até ser publicado o próximo livro, a coleção de contos As Noites, Verónica, (Forum, 2006) que ocorre em Lisboa, onde o escritor residiu durante vários anos. Este livro também foi publicado em Portugal - Um Piano em Sesimbra (Presenca, 2010). Ultimamente, o escritor tem passado períodos de tempo em Istambul, o que resultou, entre outras coisas, no poema extenso Se Chove Quando Chegas a Istambul (aura latina, 2007). Como crítico literário, tem diversas áreas de interesse pessoal, por exemplo, as literatura da língua espanhola, portuguesa e turca. Colabora com várias revistas literárias suecas, Karavan, Lyrikvännen, Post Scriptum e Pequod, tal como em estrangeiras. Parte da sua obra está traduzida em espanhol, português, turco e romeno. Henrik Nilsson é crítico literário no jornal Sydsvenskan há alguns anos e participa regularmente no programa de radiofônico Obs, na rádio sueca P1. Nos últimos tempos, tem-se dedicado, também, à traducção de poesia de origem espanhola e portuguesa, por exemplo Fernando Pessoa e Francisco Ruíz Udiel.
TEXTOS EM PORTUGUÊS - TEXTOS EM SUECO -
II BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA – Poemário. Org. Menezes y Morais. Brasília: Biblioteca Nacional de Brasília, 2011. s.p. Ex. único.
Cabe ressaltar: a II BIP – Bienal Internacional de Poesia era para ter sido celebrada para comemorar o cinquentenário de Brasília, mas Governo do Distrito Federal impediu a sua realização. Mas decidimos divulgar os textos pela internet.
Algures no outro lado da cidade
Algures no outro lado da cidade
alguém abre uma janela
e é como se todas as janelas se abrissem
um homem se levanta, uma palavra desperta
um dia começa, demasiado escuro demasiado curto
mas mesmo assim um dia
lança-se um olhar pelo mundo
que ainda não existe
desperta uma palavra
e é como se todas as palavras despertassem
uma mão se abre, um fruto rijo
noturno cai
alguém começa a treinar numa obra difícil
pela primeira vez
alguém se pergunta
com tal fúria na sua força
que a pergunta em si se torna a resposta
um homem levanta-se
e é como se
todos os homens se levantassem.
Någonstans på andra sidan staden
Någonstans på andra sidan staden
öppnar någon ett fönster
och det är som om alla fönster öppnas
reser sig en människa, vaknar ett ord
börjar en dag, alltför mörk alltför kort
men ändå en dag
kastas en blick ut över världen
som ännu inte finns
vaknar ett ord
och det är som om alla ord vaknar
öppnas en hand, en hård frukt
från natten faller ur den
börjar någon öva på ett svårt stycke
för allra första gången
ställer någon sig en fråga
med en sådan ursinnig kraft
att frågan själv blir svaret
reser sig en människa
och det är som om
alla människor reser sig.
O dia inteiro
O dia inteiro fiz tudo
para não pensar em ti
esquecer o teu rosto
destruir o teu olhar
mas os teus olhos estão em todo lado
em cada esquina em cada janela
em cada folha de papel
o vazio tem o teu cheiro
o esquecimento os teus traços
o dia inteiro fiz tudo
para te matar, te queimar
mas tu continuas
a aparecer em todos os rostos
a sussurrar em todas as palavras
o dia inteiro fiz tudo
para não pensar em ti.
Hela dagen
Hela dagen har jag gjort allt
för att inte tänka på dig
glömma ditt ansikte utplåna
din blick
men dina ögon finns överallt
i varje gathörn varje fönster
varje pappersark
tomheten doftar av dig
glömskan bär dina drag
hela dagen har jag gjort allt
för att döda dig bränna dig
men du fortsätter
skymtar i alla ansikten
viskar i alla ord
hela dagen har jag gjort allt
för att inte tänka på dig.
Quando leres esta carta
Quando leres esta carta estarei
muito longe, mais perto de ti.
Quando leres esta carta
as noites estarão enfraquecidas,
ter-se-ão iluminado as ruas e os quartos
onde tentamos viver as nossas vidas.
Os carvalhos por onde passeamos estarão petrificados
e haverão surgido cristais sobre os seus ramos.
Quando leres esta carta
ter-se-ão silenciado as armas
e a pólvora assentado.
Terão sido retirados os nomes das portas
e os jardins reflorescido.
Ter-se-ão esvaziado os hotéis
e as recepções abandonadas:
todas as portas estarão abertas.
As fotografias terão desaparecido dos álbuns
e os quadros removidos das paredes.
Todos os relógios terão parado.
Todos os números empalidecido.
Quando leres esta carta
os navios terão voltado aos seus portos
e os mapas pulverizados.
Os pianos terão sido desmantelados
e as suas teclas dispersadas.
As lágrimas terão sido arrumadas em arquivos
dos quais não sabemos nada.
Quando leres esta carta estarei
muito longe, mais perto de ti.
Página publicada em abrilde 2019
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