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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

Um quadro de Heine, por Moritz Daniel Oppenheim

 

HEINRICH HEINE

 

 

Christian Johann Heinrich Heine (Düsseldorf, 13 de dezembro de 1797 — Paris, 17 de fevereiro de 1856) foi um poeta romântico alemão, conhecido como "o último dos românticos". Boa parte de sua poesia lírica, especialmente a sua obra de juventude, foi musicada por vários compositores notáveis como Robert Schumann, Franz Schubert, Felix Mendelssohn, Brahms, Hugo Wolf, Richard Wagner e, já no século XX, por José Maria Rocha Fereira, Hans Werner Henze e Lord Berners.

 

Heinrich Heine nasceu numa família judia assimilada, em Düsseldorf, sob o nome de Harry. (...)

 

Heine trocou a Alemanha por Paris em 1831, onde sofreu influência dos socialistas utópicos, seguidores do conde Saint-Simon, cujo partido político intitula-se, em português, São Simonistas, que pregava um paraíso igualitário baseado na meritocracia.

 

A opção por Paris, a principio foi voluntária, pois Heine acreditava que encontraria na capital francesa maior liberdade de expressão e maior compreensão de suas ideias por parte da sociedade francesa, o que de fato aconteceu. (...)

 

 

O Brasil também se encontra presente na obra de Heine. No poema O Navio Negreiro, do original alemão Das Sklavenschiff, de 1853/54, o escritor alemão retrata a condição dos prisioneiros de um navio negreiro aportado no Rio de Janeiro. O poema foi base de inspiração para o escritor brasileiro Castro Alves, em seu poema também intitulado de O Navio Negreiro.

 

Fonte: wikipedia

 

 

 

HEINE, Heinrich. Heine, hein?  Poeta dos contrários.   Trad. André Vallias. São Paulo: Perspectiva; Goethe Institut, 2011.      541 p.  (Signos, 53)  ISBN 978-85-273-0915-8    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

"As traduções de André Valllias têm (...), alta qualidade estética." AUGUSTO DE CAMPOS, na orelha do livro.

 

 

Estamos diante de um dos grandes tradutores brasileiro: Andrés Vallias. A edição do presente livro, inclui uma extensa e erudita apresentação, ainda que uma linguagem acessível, sobre Heine.  544 páginas, edição bilíngue alemão e português. Leitura obrigatória para quem desejar aprofundar-se na obra do grande poeta alemão. Exemplares disponíveis em nossas melhores livrarias, pela internet e certamente disponível em algumas bibliotecas.  ANTONIO MIRANDA

 

 

 

ICH TANZ NICHT MIT, ich räuchre nicht den Klötzen,
Die außen goldig sind, inwendig Sand;
Ich schlag nicht ein, reicht mir ein Bub die Hand,
Der heimlich mir den Namen will zerfetzen.

 

Ich beug mich nicht vor jenen hübschen Metzen,
Die schamlos prunken mit der eignen Schand';
Ich zieh nicht mit, wenn sich der Pöbel spannt
Vor Siegeswagen seiner eiteln Götzen.

 

Ich weiß es wohl, die Eiche muß erliegen,

Derweil das Rohr am Bach, durch schwankes Biegen,

In Wind und Wetter stehnbleibt, nach wie vor.

 

Doch sprich, wie weit bringt's wohl am End' solch Rohr
Welch Glück! als ein Spazierstock dient's dem Stutzer,
Als Kleiderklopfer dient's dem Stiefelputzer.

 

[1821]

 

 

 

Não entro nessa dança, não incenso
Os ídolos de ouro e pés de barro;
Tampouco aperto a mão desse masmarro
Que me difama e distribui dissenso.

Não galanteio a linda rapariga
Que ostenta sem pudor suas vergonhas;
Nem acompanho as multidões medonhas
Que adoram seus heróis de meia-figa.

Eu sei: carvalhos têm que desabar,
Enquanto o junco se abaixando espera
Passar o vento forte da intempérie.

 

Mas do que pode um junco se orgulhar?
Tirar poeira de capacho ao sol,
Curvar-se para a linha de um anzol.





Gib her die Larv', ich will mich jetzt maskieren
In einen Lumpenkerl, damit Halunken,
Die prächtig in Charaktermasken prunken,
Nicht wähnen, ich sei einer von den Ihren.

 

Gib her gemeine Worte und Manieren,
Ich zeige mich in Pöbelart versunken,
Verleugne all die schönen Geistesfunken,
Womit jetzt fade Schlingel kokettieren.

So tanz ich auf dem großen Maskenballe,
Umschwärme von deutschen Rittern, Mönchen, Köngen,
Von Harlekin gegrüßt, erkannt von wen 'gen.

Mit ihrem Holzschwert prügeln sie mich alle.
Das ist der Spaß. Denn wollt' ich mich entmummen,
So müßte all das Galgenpack verstummen. 

  • (1821)



    Me passa a máscara: vou desfilar
    De plebe; a rica escória do salão,
    Em paetês e plumas de pavão,
    Não há de me tomar por um de lá!

Maus modos e o baixíssimo calão
Me passa, eu vou vestir-me de gentalha!
Renego cada sílaba que saia
Da boca de um janota de plantão.

Assim, eu vou pulando o carnaval
Em meio a reis, valetes e rainhas,
Cumprimentando apenas o arlequim.

E todos seguem me lascando o pau.
Mas só retiro a máscara do rosto,
Quando acabar a farsa de mau gosto.
 

 

ICH LACHE ob den abgeschmackten Laffen,
Die mich anglotzen mit den Bocksgesichtern;
Ich lache oh den Füchsen, die so nüchtern
Und hämisch mich beschnüffeln und begaffen.

Ich lache oh den hochgelahrten Affen,
Die sich aufhlähn zu stolzen Geistesrichtern;
Ich lache oh den feigen Bösewichtern,
Die mich hedrohn mit giftgetränkten Waffen.

Denn wenn des Glückes hübsche Siebensachen
Uns von des Schicksals Händen sind zerbrochen,
Und so zu unsern Füßen hingeschmissen;

Und wenn das Herz im Leibe ist zerrissen,
Zerrissen, und zerschnitten, und zerstochen—
Dann bleibt uns doch das schöne gelle Lachen.

                        [1821]



EU RIO do pernóstico velhaco,
De bode, me encarando a noite inteira;
Eu rio da raposa sorrateira
Que fuça em busca do meu ponto fraco.

Eu rio do acadêmico macaco,
Que arrota regras e vomita asneira;
Eu rio dessa víbora embusteira,
Querendo me emboscar de seu buraco.

Pois quando nos atinge a mão irada
Do acaso, e a nossa vida se estilhaça,
E os cacos vão caindo pelo chão;

E quando em nosso peito o coração
Se rasga, dilacera e despedaça —
Nos resta uma sonora gargalhada.



IM HIRN SPUKT mir ein Märchen wunderfein,
Und in dem Märchen klingt ein feines Lied,
Und in dem Liede lebt und weht und blüht
Ein wunderschönes zartes Mägdelein.

Und in dem Mägdlein wohnt ein Herzchen klein,
Doch in dem Herzchen keine Liebe glüht;
In dieses lieblos frostige Gemüt
Kam Hochmut nur und Ubermut hinein.

Hörst du, wie mir im Kopf das Märchen klinget?
Und wie das Liedchen summet ernst und schaurig?
Und wie das Mägdlein kichert, leise, leise?

Ich fürchte nur, daß mir der Kopf zerspringet —
Und ach! da wär's doch gar entsetzlich traurig,
Käm der Verstand mir aus dem alten Gleise.

                           [1821]




NO CÉREBRO
uma história da carocha
Me assusta; nela escuto uma cantiga,
Onde circula, pula, chora e briga
 Uma menina-flor que desabrocha.

Seu coração, contudo, é tão tacanho,
Que lá o amor jamais logrou morar;
No antro escuro e frio de amargar
Só coube uma soberba sem tamanho.

Não vês como esta fábula incomoda?
E como a tal canção me desespera?
E o quanto a menininha tripudia?

Receio que a cabeça ainda me exploda
E arre! o que pior me acontecera
Do que a razão sair do trilho um dia?

 

 

HEINE, Heinrich. Alemanha. Um conto de inverno. Edição bilíngue.  Tradução,  introdução e notas:  Romero Freitas; Georg Wink.  Belo Horizonte, MG: Crisálida, 2011.  216 p. 14x21 cm.   ISBN 9787-85-87961-72-3   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

O livro contém 27 capítulos. Selecionamos dois deles, dos mais curtos, como exemplo... O livro deve estar disponível em algumas livrarias e sebos na internet, e seguramente na editora: www.crisalida.com.br / editora@crisalida.com.br

 

 

O livro que o leitor tem em mãos é um evento poétieo singu­lar. Seu autor o definiu como “quadros de viagem versificados”. Tais quadros pertenceriam a “um gênero inteiramente novo”, mas deveriam ter “o valor duradouro de uma poesia clássica”. A moldura desses quadros é a rima despreocupada, a linguagem co­loquial e o humor. As figuras que se apresentam neles evocam um país cheio de ideais sublimes, mas com estradas enlameadas, uma Deusa bêbada, um Imperador de sonho, tiranos e censores - tudo isso ubiquamente bafejado por um gélido vento de inverno. Em alguns momentos, o leitor terá a impressão de estar diante de uma espécie de ensaismo humorístico metrificado; em outros, ele poderá pensar que lê algo como um poema de cordel filosófico. (...)   ROMERO FREITAS & GEORG WINK

 

         Caput IX

 

         Von Köllen war ich drei Viertel auf acht
Des Morgens fortgereiset;

         Wir kamen nach Hagen schon gegen drei,

         Da wird zu Mittag gespeiset.

 

         Der Tisch war gedeckt. Hier fand ich ganz
Die altgermanische Küche.
Sei mir gegrüßt, mein Sauerkraut,

         Holdselig sind deine Gerüche!

 

Gestovte Kastanien im grünen Kohl!

So aß ich sie einst bei der Mutter!

Ihr heimischen Stockfische, seid mir gegrüßt!
Wie schwimmt ihr klug in der Butter!

 

Jedwedem fühlenden Herzen bleibt
Das Vaterland ewig teuer ?

Ich liebe auch recht braun geschmort
Die Bücklinge und Eier.

 

         Wie jauchzten die Würste im spritzelnden Fett!
Die Krammetsvögel, die frommen
Gebratenen Englein mit Apfelmus,

         Sie zwitscherten mir: “Willkommen!”

         “Willkommen, Landsmann” - zwitscherten sie -
“Bist lange ausgeblieben,

         Hast dich mit fremdem Gevögel so lang
In der Fremde herumgetrieben!”

 

Es stand auf dem Tische eine Gans,

Ein stilles, gemütliches Wesen.

Sie hat vielleicht mich einst geliebt,

Als wir beide noch jung gewesen.

 

Sie blickte mich an so bedeutungsvoll,

So innig, so treu, so wehe!

Besaß eine schöne Seele gewiß,

Doch war das Fleisch sehr zähe.

 

Auch einen Schweinskopf trug man auf
In einer zinnernen Schüssel;

Noch immer schmückt man den Schweinen bei uns
Mit Lorbeerblättern den Rüssel.

 

 

 

Capítulo IX

 

Nós partimos de Colônia
Faltando quinze pras oito;

As três chegamos a Hagen,

Bem na hora do almoço.

 

Na mesa posta encontrei
Velhos pratos e costumes.
Saudações, caro chucrute,

Como é doce teu perfume!

 

Castanhas feitas na couve!

Assim a mãe fazia, meiga!
Bacalhau, meus cumprimentos!
Tu nadas bem na manteiga!

 

A pátria é sempre eterna
Em todo peito sensível -
Também gosto de sardinhas
E ovos muito cozidos.

 

Como as salsichas se alegram!

Os tordos, puros anjinhos
Bem passados na maçã,

Me veem e cantam: “bem vindo!”

 

“Bem vindo, meu conterrâneo,
Que sumiço demorado...
Brincaste muito lá longe
Co´as aves do outro lado!”

 

Sobre a mesa havia um ganso,
Um ser bem quieto, agradável.
Talvez gostasse de mim,

Em época imemorável.

 

Me olhava de modo grave,
Triste, fiel, com ternura!

Tinha uma alma formosa,
Mas a carne era bem dura.

 

Depois trouxeram o porco
Numa bandeja de couro;

O focinho ainda enfeitam
0 Aqui com folhas de louro.

 

 

 

Caput X

 

Dicht hinter Hagen ward es Nacht,

Und ich fühlte in den Gedärmen

Ein seltsames Frösteln. Ich konnte mich erst

Zu Unna, im Wirtshaus, erwärmen.

 

Ein hübsches Mädchen fand ich dort,

Die schenkte mir freundlich den Punsch ein;
Wie gelbe Seide das Lockenhaar,

Die Augen sanft wie Mondschein.

 

Den lispelnd westfälischen Akzent
Vernahm ich mit Wollust wieder.

Viel süße Erinnerung dampfte der Punsch,
Ich dachte der lieben Brüder,

 

Der lieben Westfalen, womit ich so oft
In Göttingen getrunken,

Bis wir gerührt einander ans Herz
Und unter die Tische gesunken!

 

Ich habe sie immer so liebgehabt,

Die lieben, guten Westfalen,

Ein Volk, so fest, so sicher, so treu,

Ganz ohne Gleißen und Prahlen.

 

Wie standen sie prächtig auf der Mensur
Mit ihren Löwenherzen!

Es fielen so grade, so ehrlich gemeint,

Die Quarten und die Terzen.

 

Sie fechten gut, sie trinken gut,

Und wenn sie die Hand dir reichen

Zum Freundschaftsbündnis, dann weinen sie;

Sind sentimentale Eichen.

 

Der Himmel erhalte dich, wackres Volk,

Er segne deine Saaten,

Bewahre dich vor Krieg und Ruhm,

Vor Helden und Heldentaten.

 

Er schenke deinen Söhnen stets
Ein sehr gelindes Examen,

Und deine Töchter bringe er hübsch
Unter die Haube - Amen!

 

 

 

Capítulo X

 

Depois de Hagen - a noite.
Bem nas tripas eu senti
Uns calafrios estranhos.

Só em Unna eu me aqueci.

 

Lá eu vi uma beldade;
Ponche me serviu no bar;
Cabelos loiros de seda,

Olhos mansos qual luar.

 

O sotaque da Vestfália
Ouvi com grande paixão.

O ponche ferveu memórias,
Eu pensei nos meus irmãos.

 

Os caros vestfalianos,

Com quem bebi tantas vezes
Felizes nos abraçavamos,
Caíamos sob a mesa.

 

Sempre gostei muito deles,

Os amigos da Vestfália,

Um povo firme, fiel,

E sem sinal de prosápia.

 

Aprumam-se na esgrima
Com coração leonino!

Seja em quarta, seja em terça
Os golpes são genuínos.

 

Lutam muito, bebem muito,

E se oferecem a mão,

Para selar amizade,

Eles choram um montão.

 

Que Deus proteja esses bravos
E lhes abençoe as relhas,

E que os afaste da glória,

Dos heróis e das bandeiras.

 

Que presenteie os seus filhos
Com bons exames também,

E que suas belas filhas
Se casem logo - Amém.

 

 

HEINE, HeinerichLivro das canções. Seleção de tradução e notas: Jamil Almansur Hadad.  S.l. : Hemus Livraria, Distribuidora e Editora, 2008.  158 p.    Capa: Segio Ng.  ISBN  978-85-289905-95-3   Ex. bibl. Salomão Sousa. 

 

 

         Bem si que a tua vida é sem ventura;
         É-nos comum esta funérea sorte.
         Cai sobre nós a mesma noite escura,
         E isto não finda sem que chegue a morte.

 

         Se vejo nesse olhar um rir travesso,
         E em teus lábios a insolência costumada,
         E o orgulho inflar teu coração ... padeço
         E murmuro : “és como eu, tão desgraçada!”

 

         Bem sei que ris, mas o teu lábio treme:
         Nos teus olhos azuis o pranto brilha:
         Tens orgulho, a essa voz suspira e geme...
         Como nós somos desgraçados, filha!

 

                                      Trad. Gonçalves Crespo

 

         Eu não creio no calmo Paraiso
         De que me falava o cura pachorrento
                  Do meu torrão natal...
         Creio no teu angélico sorriso,
                   Que o meu isolamento
         Faz resplender de luz celestial.

 

         Eu não creio no Deus onipotente
         — Pastor dos homens e senhor dos céus —
             De que falava o cura reverente...
         Só no teu coração creio; somente...
                   Não conheço outro Deus.

 

         Eu não creio que exista um tal diabo,
         Nem nos horrores que pintava o cura
                   Das penas infernais...
         Creio no ardente olhar que me tortura,
         Creio que ele aos meus dias dará cabo...
                   Não creio em nada mais...

 

                            Trad. Rodrigo Otávio         

 

 

 

            Oh! não, não jures, basta que me abraces...
         Não creio em vãos protestos femininos.
         Tua voz é suave... Inda mais suave
         É o teu beijo, o beijo que te roubei.
         É a voz... tua voz...

 

         Não! Jura-me, querida,
         Ainda! Ainda! Sempre! Amor protesta!
         Eu creio em ti! Dize-me uma só palavra!
         Contra o teu peito a fronte repousando
         Eu sou feliz e creio na ventura!
         Creio que amas: creio que há amar
         Além da morte... sempre... eternamente.

 

                            Trad. Raul Pompéia

 

 

Tenho veneno nos versos!...

Pois que menos pode ser ?

Eu era quase uma criança,

Quando mo deste a beber.

 

Tenho veneno nos versos!...

Pois veja: veneno tem.

Também tenho serpes n´alma

E a ti, amada, também.

 

                             Trad. Gonçalves Dias   

 

 

 
 
 
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