| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS 
 
 GUILLERME IX DE  AQUITÂNIA   Guilherme  IX da Aquitânia, o Trovador (22 de outubro de 1071 – 10 de fevereiro de 1126)  foi Duque da Aquitânia e da Gasconha e Conde de Poitiers (como Guilherme VII)  entre 1086 e 1126. Foi também um dos líderes da Primeira Cruzada e um dos  primeiros trovadores [1] e poetas vernaculares. (...)  O maior legado histórico de Guilherme foi no  campo das artes. Foi um dos primeiros poetas líricos da Europa e um dos  primeiros trovadores. As suas cantigas caracterizavam-se pelo uso de forte  linguagem vernacular e cantavam temas diversos, apesar de a maioria ser sobre  sexo, amor e mulheres. Esta escolha de tema na Idade Média (quando a música era  quase exclusivamente composta de cânticos religiosos) provocou admiração e ao  mesmo tempo escândalo e choque. Guilherme era um homem que gostava de chocar e  não reformou a sua conduta apesar de ter sido ameaçado de excomunhão várias  vezes. Chegou mesmo a planear a construção de um convento onde as freiras  seriam escolhidas entre as raparigas mais bonitas da região. O projecto acabou  abandonado e para o fim da vida Guilherme doou somas importantes à Igreja,  talvez para se redimir da má impressão causada.        Fonte: pt.wikipedia.org   
                    
                      |  |  GUILLERME IX DE  AQUITÂNIA.   Poesia.   Tradução e introdução de Arnando Saraiva.           Campinas,  SP: Editora da Unicamp, 2009. 93 p.    14 x 21 cm..   ISBN 978-85-268-0839-3   Ex. bibl. Antonio Miranda
   VIII. Farai  chansoneta nueva    Farai chansoneta nueva ans que vent ni gel ni plueva;
 ma dona massai é m prueva,
 quossi de quai guiza l'am;
 ejaperplagque m'en mueva
 no m solvera de son liam.
   Qu'ans mi rent a lieis é  m liure,  qu'en sa carta'm pot  escriure; e no m'en tengatzper iure,
 s'ieu ma bona dompna am,
 quar senes lieis non puesc viure,
 tant ai près de s'amor gran fam.
   Que plus es blanca  qu'evori, per qu'ieu autra non azori.
 Sí m breu non ai ajutori,
 cum ma bona dompna m'am,
 morrai, pel cap Sanh Gregori,
 si no'm baiz'en cambr'o sotz ram.
   Quaipro i auretz, dompna  conja, si vostr'amors mi  deslonja? Par que us vulhatz mètre  monja!                     VIII. Farei cançoneta nova   Farei cançoneta novaantes que vente, gele, chova;
 minha dona me ensaia e prova
 para saber como a amo;
 mas por mais mal que me mova
 não me livrará do seu liame.
 
 
 Pois me rendo e prendo mais,que me inscreva em seus anais.
 Por ébrio não me tenhais
 se esta boa dona amo;
 sem ela não vivo, tais
 o amor e a fome com que a chamo.
 
 Mais branca sois que marfim,outra alguma adoro assim.
 Se em breve não tenho o sim
 da boa dona que eu amo,
 por S. Gregório, é meu fim
 sem seu beijo em cama ou sob  ramo.
 
 Que vos vale, dona ideal, se vosso amor me não vale?
 Quereis ser monja, afinal?
 Pois sabei, tanto vos amo,temo que a dor me apunhale
 se a bem não passa o mal que chamo,
 Que vos vale se me enclausuro
 e por vós não sou seguro?
 Todo o bem é nosso, juro,
 se me amais, dona, e eu vos amo.
 A Daurostre, amigo puro,
 peço e mando que cante piano.
 
 Por esta tremo e estremeço,
 de tão bom amor a amor.
 E cuido que de igual preço
 mais não dará de Adão o ramo.
 
    X. Ab la dolchor del temps novel  Ab la dolchor del temps novel foillo li bosc, e li aucel
 chanton, chascus en lor lati,
 segon lo vers del novel chan;
 adonc esta ben com saisi
 d'acho dont hom a plus talan.
 
 De lai don plus m'es bon e bel no' m ve mesager ni sagel,
 per que mos cors non dorn ni ri
 ni no m'aus traire adenan,
 tro qu'eu sac h a be de la fi
 s'el' es aissi com eu deman.
 
   La nostr'amor va enaissi com la branca de l'albespi
 qu'esta sobre l'arbre tremblan,
 la nuoit, ab la ploja ez al gel,
 tro l'endeman, que' l sols s'espan
 per la fiucilla vert el ramel.
 
                     Enquer me menbra d'un matique nos fiezem de guerra fi
 Ze que m donet un don tan gran,
 sa drudari'e son anel.
 Enquer me lais Dieus viure tan
 qu'aia mas mans soz so mantel!
  Qu'eu non ai soing de lor lati
 que' m parta de mon Bon Vezi,
 qu'eu sai deparaulas com van
 ab un breu sermon que s'espel,
 que tal se van d'amar gaban,
 nos n'avem la pessa e'l coutel.
   X. Com tempo doce e renovado  Com tempo doce e renovado brotam os bosques e em todo o lado
 aves cantam em seu latim,
 segundo as leis do novo canto;
 bom é que cada qual, enfim,
 encontre o que queria tanto.
   Lá de onde está o meu agrado não vejo vir nenhum recado.
 Dormir não posso ou rir, assim,
 nem ouso adiantar-me enquanto
 não saiba se o que vem no fim
 é o que peço, o meu encanto.
   O nosso amor parece afimdo espinheiro na ruim
 noite em que treme com o quebranto
 da chuva e do vento gelado
 mas de manhã vemos com espanto
 esbelto e verde ao sol dourado.
   Lembro a manhã em que o clarim da paz me trouxe um novo sim
 e o dom que tenho por mais santo:
 o seu anel, ou o noivado.
 Que Deus me deixe viver quanto
 baste para ter seu corpo amado.
 
 Não separa qualquer latim o meu Bom Vizinho de mim,pois sei entendê-lo entretanto
 por este célebre ditado:
 de amor se gabam tantos tanto,
 e é nosso o seu melhor bocado.
     Página publicada em dezembro de 2018   
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