POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
GIORGOS SEFÉRIS
Giórgos Seféris (em grego: Γιώργος Σεφέρης) (Esmirna, 13 de março (29 de fevereiro, no calendário juliano) de 1900 — Atenas, 20 de setembro de 1971) foi um escritor grego, um dos poetas mais importantes da "geração de 30", que introduziu o Simbolismo na moderna literatura grega, filiado então à tradição intelectualista deste, a de Paul Valéry e Mallarmé.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1963 com sua poesia que também foi influenciada pelas obras de Konstantinos Kavafis, Ezra Pound e T. S. Eliot.
Nascido Giórgos Seferiádis (Γιώργος Σεφεριάδης), abandonou a sua cidade natal em 1914, para viver em Atenas e mais tarde em Paris. Em 1925 volta à Grécia, tendo seguido a carreira diplomática, o que o levou a habitar diversos países, sobretudo no Médio Oriente entre 1953 e 1956. Foi embaixador da Grécia no Reino Unido entre 1957 e 1962.
Fonte da biografia e foto: wikipedia
SEFÉRIS, Giorgos. Conto & Gimnopédia. 1ª. edição – 2ª. tiragem (de 40 exemplares, ex. n. 04. Desterro, SC: Edições Nephelibata, 2010. 84 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Obs. Recomendamos aos interessados na leitura completa do livro, a aquisição direta vipela editora: https://edicoesnephelibata.blogspot.com.br/
VI
M. R.
O jardim com suas fontes na chuva
verás somente da janela baixa
de trás da vidraça embaçada. Teu quarto
será iluminado apenas pela chama da lareira
e por vezes, nos relâmpagos distantes aparecerão
as rugas de tua fronte, meu velho Amigo.
O jardim com as fontes que eram em tua mão
o ritmo de outra vida, fora dos mármores
quebrados e das colunas trágicas
e uma dança em meio aos oleandros
próximo às novas pedreiras,
um vidro opaco o terá cortado de tuas horas.
Não respirarás; a terra e a seiva das árvores
rebentarão da tua memória para bater
nessa vidraça onde bate a chuva
do mundo lá fora.
VIII
Mas que procuram nossas almas viajando
sobre conveses de navios arrasados
espremidas com mulheres amarelas e bebês que choram
sem poder distrair-se nem com os peixes-voadores
nem com as estrelas que os mastros apontam.
Gastas pelos discos dos fonógrafos
amarradas involuntariamente a peregrinações inexistentes
murmurando pensamentos quebrados de línguas
estrangeiras.
Mas que procura nossas almas viajando
nesses cascos podres
de porto em porto?
Movendo pedras quebradas, respirando
com mais dificuldade a cada dia o frescor do pinheiro,
nadando nas águas desse mar
e daquele mar,
sem tato
sem homens
em uma pátria que não é mais nossa
nem vossa.
Sabíamos que eram belas as ilhas
em algum lugar aqui perto que tateamos
um pouco mais baixo ou um pouco mais alto
um ínfimo espaço.
X
Nossa terra é cerrada, só montanhas
quem tem o céu baixo como teto dia e noite.
Não temos rios não temos poços não temos fontes,
apenas poucas cisternas, também vazias, que ecoam e que
adoramos.
Som estagnado oco, idêntico a nossa solidão
idêntico ao nosso amor, idêntico aos nossos corpos.
Parece-nos estranho que outrora pudéssemos construir
nossas casas, cabanas e currais.
E nossas bodas, as frescas grinaldas e os anéis
tornam-se enigmas inexplicáveis para nossa alma.
Como nasceram, como criaram-se nossos filhos?
Nossa terra é cerrada, Encerram-na
as duas Simplégades negras. Nos portos
quando descemos para respirar ao Domingo
vemos iluminarem-se no pôr-do-sol
madeiras quebradas de viagens que não terminaram
corpos que não sabem mais como amar.
XXI
Nós que partimos para essa peregrinação
olhamos as estátuas quebradas
esquecemo-nos e falamos que a vida não se assim tão
fácil
que a morte tem caminhos inexplorados
e uma justiça própria,
que quando em pé nós morremos
dentro da pedra irmanados
unidos com a dureza e a fraqueza,
os velhos mortos fugiram do círculo e ressuscitaram
e sorriem em meio a uma estranha calma.
Página publicada em dezembro de 2017.
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