POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
GERARD MANLEY HOPKINS
(Stratford, Londres, 28 de Julho de 1844- 8 de Junho de 1889), um padre jesuíta, foi um dos maiores poetas da literatura inglesa.
Sua primeira grande obra foi o poema "O naufrágio do Deutschland" (1875), ao qual seguiram-se poemas líricos como "O francelho", "A calhandra enjaulada"", "O Oxford de Duns Scotus", e "Henry Purcell". Em 1877 escreveu seus trágicos "Sonetos Obscuros", o primeiro dos quais é "Carrion Comfort" (c. 1885). Sua obra completa foi publicada em 1930.
Os impulsos homoeróticos de Hopkins, dirigidos sobretudo a Digby Mackworth Dolben, um colega de Eton, parecem ter tido uma influência decisiva sobre o tom, qualidade e mesmo com o conteúdo da sua poesia. O autor de uma biografia de Hopkins, Robert Bernard Martin afirma que o encontro com Dolben, por ocasião do 17.º aniversário de Hopkins, foi provavelmente o momento mais marcante emocionalmente da vida de Hopkins, sobre o qual escreveu abundantemente nos seus diários e a quem dedicou inúmeros poemas, incluindo muitos de caráter elegíaco, considerados dos melhores de Hopkins, após a morte por afogamento de Dolben em 1867.
TEXTS IN ENGLISH - TEXTOS EM PORTUGUÊS
Extraído de
POESIA SEMPRE - Ano 6 – Número 9 - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro - Ministério da Cultura. Volume 9 sob a direção de Antonio Carlos Secchin. Ex. bibl. Antonio Miranda
The Windhover
To Christ our Lord
I caught this morning's minion, king -
dom of daylight's dauphin, daple-dawn-drawn Falcon,
in his riding
Of the rolling level underneath him steady air, and striding High there, how he rung upon the rein of a wimpling wing
In his ecstasy! then off, off forth on swing,
As a skate's heel sweeps smooth on a bow-bend: the hurl
and gliding
Rebuffed the big wind. My heart in hiding
Stirred for a bird, — the achieve of, the mastery of the thing!
Brute beauty and valour and act, oh, air, pride, plume, here
Buckle! AND the fire that breaks from thee then, a billion Times told lovelier, more dangerous. O my chevalier!
No wonder of it: sheer plod makes plough down sillion Shine, and blue-beak embers, ah my dear,
Fall, gall themselves, and gash gold-vermilion.
Felix Randal
Felix Randal the farrier, O he is dead then? My duty all ended,
Who have watched his mould of man, big-boned and hardy-
handsome
Pining, pining till time when reason rambled in it and some
Fatal four disorders, fleshed there, all contended?
Sickness broke him. Impatient he cursed at first, but mended
Being anointed and all; though a heavenlier heart began some
Months earlier, since I had our sweet reprieve and ransom
Tendered to him. Ah, well, God rest him all road ever he offended!
This seeing the sick endears them to us, us too it endears.
My tongue had taught thee comfort, touch had quenched thy tears,
Thy tears that touched my heart, child, Felix, poor Felix Randal
How far from then, forethought of, all thy more boisterous years,
When thou at the random grim forge, powerful amidst peers,
Didst fettle for the great grey drayhorse his bright and battering
sandal!
Pied Beauty
Glory be to God for dappled things —
For skies of couple-colour as a brinded cow;
For rose-moles in all stipple upon trout that swim; Fresh-firecoal chestnut-falls; finches wings;
Landscape plotted and pieced — fold, fallow, and plough;
And all trades, their gear and tackle and trim.
All things counter, original, spare, strange;
Whatever is fickle, freckled (who knows how?)
With swift, slow; sweet, sour; adazzle, dim;
He fathers-forth whose beauty is past change:
Praise him.
N.Wales, Summer 1877
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Falcão ao vento
A Cristo Nosso Senhor
Vi de manhã o mimo da manhã montando,
Delfim do despertar do dia, fulvo Falcão em luz listrando-se,
O sob si sinuoso ar sereno, e após alçando-se
Ali tão alto: que altivo o seu freio e mando
Da ala ondulosa do êxtase! e então avante, avante, quando,
Qual pé de patim que rala rente a curva arcada, o impulso
pando
Vencia o vasto vento. Meu coração, guardando-se,
Ansiava por uma ave — tanto domínio e mestria, tanto!
Brutos e belos o valor, o ato, oh ar, arrogo e plumas, ei-los
Aliados, e a flama a fulgir em ti, essa um bilhão
De vezes dita mais graciosa, e perigosa, oh sim, meu cavaleiro!
Não admira: mero amanho faz a leiva no chão
Brilhar, e brasas azul-gelo, ah meu cordeiro,
Caem, cortam-se e cospem ouro-vermelhão.
Tradução de José Paulo Paes
Felix Randal
Morreu Felix Randal, ferrador? — Que a luta eu suspenda.
Eu que o vi — um modelo de homem, belo e espadaúdo,
Definhando, definhando, até que o delírio em tudo
Se estendeu — e lhe encarnou quatro males em contenda!
A doença o quebrou. E praguejou, mas veio a emenda
Depois de ungido: embora um coração com mais virtude, o
Entendesse antes, pois eu lhe estendia o nosso mudo
Perdão. Deus lhe perdoe nos feitos tudo que O ofenda!
Isso de ver doentes nos liga a eles, sim, liga!
Consolei-te e te enxuguei lágrimas com mão amiga,
As tocantes lágrimas, meu filho, Felix Randal: e a
Sorte tão imprevisível, nas horas de mais fadiga!
Quando ao cavalo cinzento, da forja tosca e antiga
Calçaste com brilhante e percussora sandália!
Tradução de Jorge Wanderley
Beleza matizada
Glória a Deus pelas coisas de cor variada —
Céu pintalgado, como novilha malhada;
Pintas-rosas salpicando a truta que nada;
Castanhas que caem, como carvões-em-brasa;
Asas de pintassilgo; paisagem de vária
Nuance — terra de aprisco, arada, baldia;
Ofícios do homem, sua equipagem e indumentária.
Tudo que é raro, original, estranho, oposto;
Variável, variegado (por que o seria?) —
Lesto, lento; doce, azedo; faiscante, fosco —
Aquele cuja beleza é imutável os cria:
Louvai-o.
Tradução de Aila de Oliveira Gomes
Página publicada em janeiro de 2018
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