POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Imagem e (fragmento) da biografia: Wikipedia
FREDERICO SCHILLER
(1759-1805)
Johann Christoph Friedrich von Schiller (Marbach am Neckar, 10 de novembro de 1759 — Weimar, 9 de maio de 1805), mais conhecido como Friedrich Schiller, foi um poeta, filósofo, médico e historiador alemão. Schiller foi um dos grandes homens de letras da Alemanha do século XVIII e, assim como Goethe, Wieland e Herder, é um dos principais representantes do Classicismo de Weimar, e é tido como um dos precursores do Romantismo alemão. Sua amizade com Goethe rendeu uma longa troca de cartas que se tornou famosa na literatura alemã.
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Em dezembro de 1788, Schiller, que também sempre mantivera um grande e profundo interesse por História, é indicado, a ser professor de Filosofia e História na Universidade de Iena, após indicação de Goethe. Essa vaga era, no início, sem salário, mas com perspectivas de ganho futuro. Schiller porém não se sente à vontade nesse cargo, e pensa até em abandoná-lo, tanto por um sentimento de inadequação com a comunidade acadêmica quanto pelo seu estado de saúde constantemente debilitado.
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Em 1799 Schiller deixa Iena e fixa residência em Weimar, onde recebe um título de nobreza - podendo se chamar a partir de então Friedrich von Schiller. É quando produz a peça de maior sucesso de toda sua obra: em 1799 Wallenstein é representada pela primeira vez. Em 1800, publica “Maria Stuart”, peça que trata da rainha da Escócia e de seus conflitos com a realeza britânica. Em 1801 é finalizada a peça A Donzela de Orleans, representada pela primeira vez em Leipzig. Em 1803, publica “A Noiva de Messina” e, em 1804, a peça Guilherme Tell, cujo personagem principal, à la Robin Hood, era um anti-herói que roubava de ricos para dar aos pobres, e foi tanto amado (tornou-se herói nacional da Suíça) quanto odiado (durante a era do Nacional-Socialismo).
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A produção teatral e filosófica de Schiller teve grande influência na constituição do Romantismo. Em suas obras transparecem valores iluministas, como o Humanismo, a Razão e um enaltecimento da então emergente classe burguesa. Suas peças foram traduzidas para diversas línguas e foram recebidas em diversos países. Na Inglaterra, por exemplo, a peça "Os Bandoleiros" (primeira tradução de A.F.Tyler em 1792[4]) foi recebida com entusiasmo pelo público, que identificou no personagem Karl Moor conflitos como os de Hamlet de Shakespeare e de Lúcifer de Milton.
Estátua de Schiller em Stuttgart.
ESPERANÇA
Os homens falam de melhores dias.
É seu sonho de todos os instantes.
E vão correndo em frente, perseguindo
as horas de ouro da felicidade.
Este mundo envelhece e se renova,
e sempre eles esperam melhor sorte.
A esperança introduz o homem na vida.
De sua infância em volta ela flutua.
Sua irradiação fascina os moços.
E quando, na velhice, desce ao túmulo,
no fim de uma existência fatigante,
ressurge então, no túmulo, a esperança.
A esperança não é somente um sonho
criado por um cérebro insensato.
O coração murmura que nascemos
para um mundo melhor edificarmos.
E a voz interior que sempre ouvimos
jamais iludirá a alma que espera.
(Tradução de Edmundo Moniz (1911-1997)
COLETÂNEA POÉTICA. Novos poetas do Cariri paraibano. Prefácio pel Profa. Maria da Conceição Gonçalves Pereira Araújo. Boqueirão, PB: ABES –Associação Boqueirense de Escritores 2010. 110 p. Capa: Medesign. ilus. fotos dos autores. 14,5 x 21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
A L U V A
Tradução de ARY DE MESQUITA
No jardim dos leões, para assistir à luta,
O imperador galeia. Em derredor se escuta
A corte a sussurrar. Sob as mantas escuras,
Junto ao trono, reluz o arnês das armaduras,
Enquanto nos balcões, em volta, descortina
A seda de os dosséis a graça feminina.
O augusto imperador com os dedos fez sinal,
E, emperrado, a ranger nos gonzos, o portal
Lentamente se abriu, e, majestoso, assoma,
Abrindo a goela enorme e sacudindo a coma,
Um vulto silencioso. Agita-se a bancada,
Inquieta se debruça a corte entusiasmada.
E o fulvo caçador das selvas, o leão,
Com os olhos em fogo espreita a multidão
Até que enfim descansa os músculos na arena.
Do trono, o imperador mais outra vez acena;
E um segundo portão se escancarando, em frente,
Deixa um tigre sair, aos saltos, de repente;
Ele fita rugindo o rei dos animais,
Lambe-lhe a rubra língua os dentes colossais,
E a cauda mosqueada e forte, que serpeia,
Açoita devagar a palidez da areia.
Rodeia enraivecido ao grande leão deitado,
E, engrolando um rugido, estira-se a seu lado.
Pela terceira vez o imperador acenas;
Ao seu gesto recua uma grade pequena,
E a rugir e a saltar pintalgados e pardos,
Lançam-se de uma vez dois leopardos.
Engrifam-se ante o tigre, e, arqueando o dorso hirsuto,
Aferventam, bufando, a cólera do bruto,
Que, recolhido nos rins, projeta-se e com a garra
Volteando no ar, veloz, os leopardos agarra.
E ruge o leão soerguendo o pescoço jubado,
Olhando os dois no chão do circo ensanguentado,
Nas bóbedas restruge em ecos o alarido
E entre as aclamações do povo erra perdido,
Ai, do peitoril florido de um balcão,
Uma luva caiu de encantadora mão,
E, como por querer, caiu exatamente
Entre o vulto do tigre e o do leão horrente.
E Cunegundes bela, a sorrir de ironia,
A um jovem vigoroso e esbelto lhe dizia:
“Se é verdade que é tão ardente e tão vibrante
O amor que proclamais a todo e todo instante,
Cavalheiro Delorge, alevantai do chão
A luva que caiu há pouco desta mão.”
A sentença fatal apenas ele ouvia
E já o podiam ver descendo a escadaria
Que dava para o circo, e, sem voltar o rosto,
Sem olhar para trás, com o semblante composto,
Com as fidalgas feições serenas e severasss,
Nos dedos levantou a luva junto às feras.
E da mesma expressão indiferente e fria,
Escutava ao subir, de volta, a escadaria,
Entre as damas gentis e os nobres de valor,
Um murmúrio correr de pasmo em seu louvor.
O sorriso da bela, amável, lhe assegura
Num próximo futuro a próxima ventura.
Mas Delorge, orgulhoso, antegozando a ofensa:
“Eu rejeito, senhora, a vossa recompensa”.
Com um sombrio prazer nos olhos cintilantes,
Ia partir, porém, tardou ainda, e, antes
De deixar para sempre aquela que ele amara,
A luva lhe atirou, com força, em plena cara.
Página publicada em julho de 2020; Página ampliada em agosto de 2020
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