Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

FRIEDRICH NIETZSCHE

 

Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 — Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. (...)

Nietzsche começou sua carreira como filólogo clássico— um estudioso da crítica textual grega e romana— antes de se voltar para a filosofia. Em 1869, aos vinte e quatro anos, foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Basileia, a pessoa mais jovem a ter alcançado esta posição. Em 1889, com quarenta e quatro anos de idade, sofreu um colapso e uma perda completa de suas faculdades mentais. A composição foi posteriormente atribuída a paresia geral atípica devido a sífilis terciária, mas este diagnóstico vem entrado em questão. Nietzsche viveu seus últimos anos sob os cuidados de sua mãe até a morte dela em 1897, depois ele caiu sob os cuidados de sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, até falecer, em 1900.

Foto e fragmento de biografia: wikipedia.

 

SELEÇÃO DE POEMAS

extraídos de

 

NIETZSCHE, Friedrich.  Fragmentos do espólio: primavera de 1884 a outono de 1885.       Seleção, tradução e prefácio de Flávio R. Kothe.   Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008.   680 p. 
ISBN 978-85-230-1226-7   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

        28 (10)

         Mero fragmento se torna agora tudo
         A águia de minha esperança tem à vista
         Uma nova terra grega, uma Grécia pura
         Sacra para os ouvidos e para os sentidos.

         Saindo da letargia dos tons tedescos
         Mozart Rossini e Chopin
         Saio em busca das terras helênicas
         Voltando o navio para ti, Orfeu teuto.

         Oh, não vaciles em dirigir o barco do desejo
         Para as terras do Sul, para as ilhas idílicas,}
         Brincadeira das ninfas gregas,
         Nenhum navio teve já meta mais linda.

         Mero fragmento tudo ora se torna em mim
         O que alguma vez minha águia já viu—:
         Mesmo que muita esperança já seja cinza.
         —Feito uma flecha me atingiu a tua melodia
         Curando os ouvidos, curando os sentidos,
         Daquilo que do alto me levava a reboque

         A melodia que do alto me atingia

         Para lá, para as regiões helênicas
         O mais belo navio das musas volver

         28(15)

         — os prisioneiros da riqueza
         seus pensamentos ressoam pesadas correntes

         28(16)

         a santa preguiça eles se inventaram
         e a volúpia de segundas e dias de trabalho

         28(21)

         O paladino da verdade ? Tu o viste ?   
         Parado, rígido, frio, liso,
         Transformado em coluna e estátua,
         Cariátide a sustentar templos — confessa:
         Isso te agrada
?
         Não, tu procuras máscaras, mudança
         e pelagens de arco-íris
         Coragem de gato-do-mato, a saltar pela janela
         para a selvageria de todo o acaso!          
         Não, tu precisas de mata virgem
         para degustar  o teu mel,
         saudável e belo feito um pecado,
         feito um felino de pelo pintado.          

         28(27)

                   6. O poeta – tortura do criativo    

         Ah, vigias das vias!Vosso agora eu sou
         O que estais querendo, resgate
?
         Muito deveis exigir — assim diz o meu orgulho — 
        
e pouco falar: assim aconselha o meu outro orgulho
         eu gosto de aconselhar: mas isso facilmente se cansa

    

para onde a minha fuga ?

 

         Quieto estou deitado,

         espichado

         feito um semimorto a quem se aquecem os pés

         — os besouros se amedrontam com o meu silêncio

         —fico na espera

         Bendigo tudo

         rama e grama, alegria, graça e chuva

 

         28(41)

 

         O corpo mais lindo — somente um véu

         Em que se esconde — ainda mais belo céu —

 

         28(54)

 

                   Enigma

 

 Resolvam o enigma que na palavra encobre:

 “A mulher inventa enquanto o homem descobre ——

 

28(55)

                   O solitário fala

 

Ocupar-se com idéias ? Bom!— assim são minhas.

Mas preocupar-se —isso eu quero desaprender!

Quem se preocupa — já está tomado, possuído,

Eu nunca nem jamais vou querer me submeter.

 

28(67)

 

Acolá a forca, e a corda cá,

Cá o carrasco e a raça do carrasco,

Narizes vermelhos, venenosos olhares

E do sacerdote a barba honorável:

Já vos conheço de cem andanças —

Com prazer eu vos cuspo na cara —

Para que enforcar ?

Morrer ? Morrer — e não aprendi.

 

Mendigos, vos! Pois para inveja vossa

Eu já era o que vós — jamais alcançais.

De fato, eu sofro, de fato eu sofro —

Mas vós — estais morrendo, estais!

Eu, mesmo após cem andanças mortais,

Consigo me reencontrar com a luz —

Para que enforcar!

Morrer ? Morrer — eu não aprendi.

 

Por isso ressoou na Espanha longínqua

A canção das castanholas, para mim,

Em torno a lanterna mirava sombria,

Claro o cantador, contente e vadio.

Como eu auscultando as profundezas

A minha água mais funda afundou,

Parecia-me que eu dormi, dormia

Sempre saudável e sempre doentio.

 

 

 

 

NIETZSCHE, Friedrich. Obras incompletas. Seleção de textos de

GérardLebrun. Tradução de notas de Rubens Rodrigues Torres

Filho. Editor: Victor Civita.  São Paulo: Abril S. A. Cultural e

Industrial, 1974.    434 p.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

      

VOCAÇÃO DE POETA

        (Das Canções do Príncipe Livrepássaro, poemas de 1882-1884,
         publicados em apêndice à Gaia Ciência, na edição de 1886).

 

         Ainda outro dia, na sonolência
       De escuras árvores, eu sozinho,
       ouvi batendo, como em cadência,
       Um tique, um taque, bem de mansinho...
       Fiquei zangado, fechei a cara —
       Mas afinal me deixei levar
       E igual a um poeta, que nem repara,
       Em tique-taque me ouvi falar.

       E vendo o verso cair, cadente,
       Sílabas, upa, saltando fora,
       Tive que rir, rir, de repente,
       E ri por um bom quarto de hora.
       Tu, um poeta? Tu, um poeta?
       Tua cabeça está assim tão mal?
       — “Sim, meu senhor, sois um poeta”,
       E dá de ombros o pica-pau.

       Por quem espero aqui nesta moita?
       A quem espreito como um ladrão?
       Um dito? Imagem? Mas, psiu! Afoita
       Salta à garupa rima e refrão..
       Algo rasteja? Ou pula? Já o espeta
       Em verso o poeta, justo e por igual.
       — Sim, meu senhor, sou um poeta”,
      

 

 

E dá de ombros o pica-pau.

Rimas, penso eu, serão como dardos?
Que reboliços, saltos e sustos,
Se o dardo agudo vai acertar dos
Pobre lagartos os pontos justos.
Ai, ele morre à ponta da seta
Ou cambaleia, o ébrio animal!
— “Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E dá de ombros o pica-pau.

Vesgo versinho, tão apressado,
Bêbeda corre cada palavrinha!
Até que tudo, tiquetaqueado,
Cai na corrente, linha após linha.
Existe laia tão cruel e abjeta
Que isto ainda — alegra? O poeta — é mau?
— “Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E dá de ombros o pica-pau.

Tu zombas, ave? Queres brincar?
Se está tão mal minha cabeça,
Meu coração pior há de estar?
Ai de ti, que minha raiva cresça!—
Mas trança rimas, sempre —o poeta,
Na raiva mesmo sempre certo e mau.
— “Sim, meu senhor, sois um poeta”,
E dá de ombros o pica-pau.   

 

 

NATAL 

(Das Canções do Príncipe Livrepássaro.)


Eis –me suspenso a um galho torto
E balançando aqui meu cansaço.
Sou convidado de um passarinho
E aqui repouso, onde está seu ninho.
Mas onde estou? Ai, longe, no espaço.

O mar, tão branco, dormindo absorto,
E ali, purpúrea, vai uma vela.
Penhasco, idílios, torres e cais,
Balir de ovelhas e figueirais.
Sul da inocência, me acolhe nela!

Só a passo e passo — é como estar morto,
O pé ante pé faz o alemão pesar.
Mandei o vento levar-me ao alto,
Aprendi com pássaros leveza e salto —
Ao sul voei, por sobre o mar.

Razão! Trabalho pesado e ingrato!
Que vai ao alvo se chega tão cedo!
No voo aprendo o mal que me eiva —
Já sinto ânimo, e sangue e seiva
De nova vida e novo brinquedo...

Quem pensa a sós, de sábio eu trato,
Cantar a sós — já é para os parvos!
Estou cantando em vosso louvor:
Fazei um círculo e, ao meu redor,
Malvados pássaros, vinde sentar-vos!|

Jovens, tão falsos, tão inconstantes.
Pareceis feitos bem para amantes
E em passatempos vos entreter...
No norte amei — e confesso a custo —
Uma mulher, velha de dar susto

 

“Verdade”, o nome dessa mulher.

 

(Dos Poemas, 1871-1888)

 

 

O ANDARILHO

Um andarilho vai pela noite
A passos largos;
Só curvo vale e longo desdém
São seus encargos.
A noite é linda —
Mas ele avança e não se detém.
Aonde vai seu caminho ainda?
Nem sabe bem.

Um passarinho canta na noite:
“Ai, minha ave, que me fizeste!
Que meu sentido e pé retiveste,
E escorres mágoa de coração
Tão docemente no meu ouvido,
Que ainda paro
E presto atenção? —
Porque me lanças teu chamariz?”—

A boa ave se cala e diz:
“Não, andarilho! Não é a ti, não,
Que chamo aqui
Com a canção —
Chamo uma fêmea de seu desdém —
Que importa isso, a ti também?
Sozinho, a noite não está linda —
Que importa a ti? Deves ainda
Seguir, andar.
E nunca, nunca, nunca parar!
Ficas ainda?
O que te fez minha flauta mansa,
Homem da andança?

A boa ave se cala e pensa:
“O que lhe fez minha flauta mansa,
Que fica ainda?
O pobre, pobre homem da andança!”’  

 

 

 

DA POBREZA DO RIQUÍSSIMO

 

(Dos Ditirambos de Dioniso, 1888: Estas são as canções de Zaratustra,
         que ele cantava para si mesmo, para suportar sua última solidão.”)

Dez anos já —
e nenhuma gora me alcançou,
nem úmido vento nem orvalho de amor
— uma terra sem chuva...
Agora pelo à minha sabedoria
que não se torne avara nessa aridez:
corra ela própria, goteje orvalho;
seja ela a chuva do ermo amarelado!

Um dia mandei as nuvens
embora de minhas montanhas —
um dia eu disse, “mais luz, obscuras!”
Agora as chamo, que venham:
fazei escuro ao meu redor com vossas ubres!
— quero ordenhar-vos,
vacas das alturas!
Leite quente, sabedoria, doce orvalho do amor
derramo por sobre a terra.

Fora, fora, ó verdades
de olhar sombrio!
Não quero ver em minhas montanhas
acres verdades impacientes.
Dourada de sorrisos,
de mim se acerca hoje a verdade,
adoçada de sol, bronzeada de amor —
só uma verdade madura eu tiro da árvore.

Hoje  estendo as mãos
às seduções do acaso,
bastante esperto para guiar, tapear o acaso,
como uma criança.
Hoje quero ser hospitaleiro
com o mal-vindo,
contra o destino mesmo não quero ter espinhos
— Zaratustra não é um ouriço.

Minha alma, insaciável com sua língua,
já lambeu em todas as coisas boas e ruins,
em cada profundeza já mergulhou.
Mas sempre igual à cortiça,
sempre boia outra vez à tona,
bruxuleia como óleo sobre os mares morenos:
por ter essa alma me chamam o Afortunado.

Quem são meu e mãe?
Não é meu pai o príncipe Supérfluo,
e mão o Riso atencioso?
Não me gerou esse duplo conúbio,
em animal de enigma,
eu monstro luminoso,
eu esbanjador de toda a sabedoria de Zaratustra?

Hoje doente de delicadeza,
um vento de orvalho,
Zaratustra está sentado, esperando, esperando,
                                  [em suas montanhas —
em seu próprio suco
tornado doce e cozinhado,
embaixo de seu cume,
embaixo de seu gelo,
cansado e venturoso,
um criador em seu sétimo dia.

— Quietos!
É minha verdade! —
De olhos esquivos,
de arrepios aveludados
me atinge seu olhar,
amável, mau, um olhar de moça...
Ela adivinha — ah! o que ela inventa? —
Purpúreo espreita um dragão
no fundo de um olhar de moça.

Quietos! Minha verdade fala!

Ai de ti, Zaratustra!
Pareces alguém
que engoliu ouro:
ainda hão de te abrir a barriga!

És rico demais,
corruptor de muitos!
São muitos os que tornas invejosos,
são muitos os que tornas pobres...
A mim própria tua luz faz sombra —
ela me congela:? vai embora, tu, que és rico,
vai, Zaratustra, sai de teu sol!

Queres presentear, distribuir teu supérfluo,
mas tu próprio é o meu supérfluo!
Sê esperto, tu, que és rico!
Presenteia antes a ti próprio, ó Zaratustra!

Dez anos já —
e nenhuma gota de alcançou?
Nem úmido vento? nem orvalho do amor?
Mas quem haveria de te amar,
ó mais que rico?
Tua felicidade faz secar em torno,
torna pobre de amor
— uma terra sem chuva...

Ninguém mais te agradece,
mas tu agradeces a todo aquele
que toma de ti:
nisso te reconheço,
ó mais que rico,
 ó mais pobre de todos os ricos!
Tu te sacrificas, tua riqueza te atormenta
tu dás,
não te poupas, não te amas:
o grande tormento te força o tempo todo,
o tormento dos celeiros saturados, do coração
                                                     [saturado,
mas ninguém mais te agradece...

O tormento dos celeiros saturados,
[do coração saturado
ninguém mais te agradece...

Tens de tornar-te mais pobre
sábio insensato!
queres ser amado.
Ama-se somente aos sofredores,
só se dá amor aos que têm fome:
presentei antes a ti próprio, ó Zaratustra!

— Eu sou tua verdade...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Página publicada em junho de 2018; ampliamos a página em maio de 2020

 

 

 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar