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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

 

EMILE VARHAERN

 

Émile Verhaeren (Saint-Amand, 21 de Maio de 1855 - Ruão, 27 de Novembro de 1916) foi um poeta belga de expressão francesa.

Foi autor de contos, peças de teatro e crítica literária, além de poesia, evoluiu do naturalismo (As Flamengas, 1883) para um misticismo que o levou a uma crise espiritual (Tochas Negras, 1890).

 

TRADUÇÃO
       por JOSÉ JERONYMO RIVERA

 

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 2,
Número 4,  jul./dez., 2020.     
Brasília. DF: Editora Cajuína,
2020.  139 p.  ISSN 2674-8495

 

         QUANDO VIERES FECHAR OS MEUS OLHOS...

Quando vieres fechar os meus olhos à luz,
Oh! beija-os longamente, eles terão mostrado
Tudo o que pode haver de amor apaixonado
No derradeiro ardor que o último olhar traduz.

Sob o imóvel clarão do círio mortuário,
Inclina ao seu adeus a face bela e ansiada:
Que neles, para sempre, ela fique gravada
Sozinha, como num sacrário.

E que eu possa sentir, na hora da despedida,
Tua mão em minha mão, num transporte final,
E ter — supremo dom! — tua fronte ideal
Por derradeira vez, junto a mim, comovida!

E há de manter por ti, quando distante e for
Este meu coração uma chama tão forte
Que, através da distância, e despeito da morte,
Os outros mortes vão sentir-lhe o ardor.

 


TEXTES EN FRANÇAIS   - TEXTOS EM PORFUGUÊS

 

ALMEIDA, Guilherme de.  Poetas de França. 5ª ed. São Paulo: Babel [211]  223 p. capa dura e sobrecapa.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Toute la Flandre

(Fragment)

 

 

Depuis l'ombre s'est faite sur la Flandre!

Mais mon rêve survit et ne veut point descendre

Des tours, où tant d'orgueil, jadis, le fit monter.

Je regarde de là nos pensives cités;

J'écoute se taire leur silence;

Je vois s'ouvrir, comme un faisceau de lances,

L'abside en or des églises, le soir:

Un bruit de cloches, un envol d'encensoir,

 

Là-bas des anges...

Et la ville s'endort en des louanges.

 

Je vois aussi du haut de ces énormes tours,

Les champs, les clos, les bourgs,

Les villages et les prairies,

Autour des larges métairies.

Les vieux pommiers vaillants,

Au temps d'Avril et des sèves nouvelles,

Semblent une troupe d'oiseaux blancs

Laissant traîner leurs ailes

En des vergers pleins de soleil.

Le vent est clair, l'air est vermeil.

L'amour des gars et des femmes superbes

Pousse, comme les fleurs, est se lève de l'herbe,

Robuste et fécondé.

On écoute rire et baguenauder,

Près des mares et des landes,

Les naïves légendes;

Les vieilles coutumes mêlent encor

Leur beau fil d'or

Au solide tissu des moeurs et des paroles;

On croit toujours aux sorcières et aux idoles;

On est crédule et défiant, tout à la fois;

On est rugueux, profond et lourd, comme les bois,

Et sombre et violent, comme la mer brumeuse.

 

Oh! l'Océan, là-bas, et sa fête écumeuse

A l'infini, sur les plages, l'hiver!

En ai-je aimé le vent et le désert!

En ai-je aimé la vie, en des barques tragiques,

Qui s'en allaient fouiller les eaux mythologiques

Où les grands dieux du Nord appairaissent encor!

En ai-je aimé les ports, les caps, les baies,

Le môle en bois blanchi que l'ouragan balaie,

Les vieux pêcheurs usés, têtus, tranquilles,

Les pilotes tannés et forts,

Les mousses clairs, les belles filles!

 

Oh! l'ai-je aimé éperdument

 

Ce peuple - aimé jusqu'en ses injustices, Jusqu'en ses crimes, jusqu'en ses vices! L'ai-je rêvé fier et rugueux, comme un serment, Ne sentant rien sinon que j'étais de sa race, Que sa tristesse était la mienne et que sa face Me regardait penser, me regardait vouloir, Sous la lampe, le soir,

Quand je lisais sa glorie en mes livres de classe!

 

 

 

Toda a Flandres

(Fragmento)

 

Depois, desceu a sombra sobre a Flandres!

Mas meu sonho ainda vive no alto dessas grandes

Torres a que o elevou meu grande orgulho, outrora.

Olho de lá nossas cidades cismadoras;

Ouço calar-se o seu silêncio;

Vejo abrir-se num feixe de alabardas

A abside de ouro das igrejas pardas:

Dobram sinos, esvoaçam véus de incenso,

 

Os anjos pensam...

E a cidade adormece ao som de bênçãos.

 

Vejo também, do alto das torres colossais,

Campinas e cerrados

E burgos, e aldeias, e prados

Em torno dos fartos casais.

As velhas macieiras,

Em abril, quando é nova a seiva, são

Como bandos de aves brancas que vão

Roçando as asas ligeiras

Pelos vergéis, ao sol dourado.

O vento é claro, o ar é encarnado.

O amor dos rapagões e raparigas

Brota das ervas como as flores e as espigas,

Robusto e fecundado.

Ouvem-se rir, vagabundeando, ao lado

De charnecas e pauis,

As legendas azuis.

Ainda há usanças de um tempo imorredouro

Bordando de ouro

A trama forte das palavras e dos usos; Acredita-se ainda em ídolos e bruxos; Agente é ingénua e ao mesmo tempo desconfiada; Como o bosque, é pesada e profunda e enrugada, E, sombria e violenta, é como o mar brumoso.

 

Ah! o Oceano, lá longe, e o seu riso escumoso

Nas praias quietas, no infinito incerto!

Como eu amei os ventos e o deserto!

Como eu amei a vida em naves ideológicas

Que iam esquadrinhar as águas mitológicas

Nas quais ainda se vêem grandes deuses do Norte!

Como eu amei os portos e as baías,

Os molhes que fustiga e varre a ventania,

Os pescadores velhos e teimosos, e ainda

Os pilotos tisnados e fortes,

Grumetes claros, moças lindas!

 

Como eu amei perdidamente

 

Esse povo - até mesmo em suas injustiças,
Até em seus crimes, até em seus vícios!
Sonhei-o altivo e sério como um juramento,
Não sentindo senão que eu era dessa raça,
E que a sua tristeza era a minha, e a sua face
Me via meditar e me via querer
Sob a lâmpada, ao ler

A sua, a nossa história em meus livros de classe!

 

 

 

Página publicada em maio de 2020


 

 

 
 
 
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