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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

ELIZABETH BISHOP

 

Elizabeth Bishop (Worcester, 8 de fevereiro de 1911 - 6 de outubro de 1979) foi uma autora americana, considerada uma das mais importantes poetisas do século XX a escrever na língua inglesa.

O pai, William Thomas Bishop morreu antes de ter ela um ano e a mãe, Gertrude Bulmer Bishop, tinha transtornos mentais, foi internada num hospital psiquiátrico quando Elizabeth tinha cinco anos. A família materna a levou para viver em Great Village na Nova Escócia, Canadá. Sua mãe ficou no hospital até morrer em 1934 mas Elizabeth nunca mais a veria. Guardou de sua vida inicial no Canadá lembranças enternecidas e escreveria sobre sua infância de modo idealizado.

Foi mais tarde educada pela família do pai em Worcester e Boston. Viveu nove meses infelizes com os avós paternos em Boston, como se vê em The Country House, começando a sofrer de asma e de eczema, a primeira de suas numerosas alergias. Viveu na França na década de 1920, graças a sua colega em Vassar e amante Louise Crane, herdeira da famosa indústria de papel. Estudaria em Vassar durante quatro anos - entrou em 1929, bem no ano da quebra de Wall Street.

Conheceu a grande poetisa Marianne Moore, 24 anos mais velha, de quem se tornou muito amiga. Seus primeiros poemas, muito influenciados por George Herbert, Gerard Manley Hopkins e Moore, surgiram na revista de Vassar College, que ajudou a fundar com Mary McCarthy, escritora um ano mais velha, Margaret Miller e duas irmãs Clark, e que se intitulava Con Spirito. Influenciada por Marianne Moore, abandonou a intenção de se tornar médica e se dedicou à poesia. Sua era educação excelente era financiada por dinheiro aplicado pelo pai, que ia entretanto diminuindo com a inflação.

Residiu em Nova Iorque por um ano, escrevendo poemas mais amadurecidos, entre eles The Map e The Man-Moth. Viveu depois intermitentemente na Europa por três anos, depois de comprar uma casa em Key West, Florida, em 1938. Depois de rejeições por alguns editores, o primeiro de seus volumes de poesia («North and South») apareceu em 1946. No ano seguinte conheceu Robert Lowell, de quem se tornou amiga durante o resto da vida.

Marianne Moore demonstrou grande interesse por seus trabalhos. Quatro anos se passaram antes que Elizabeth começasse a chamá-la nas cartas Cara Marianne e a pedido de Moore! A amizade entre ambas, que perdura na extensa corresponência, durou até a morte de Moore, em 1972.

Em 1946, Moore sugeriu seu nome para o Houghton Mifflin Prize (prêmio de poesia) e ela venceu. Quando da publicação de North and South, o mais importante crítico de então nos Estados Unidos, Randall Jarrell, escreveu que «all her poems have written underneath, I have seen it" ou seja, «todos seus poemas, como percebi, tem uma segunda escrita».

Bishop, que a vida toda teria dificuldades para sustentar sua carreira, dependia bastante de doações, empréstimos, prêmios e outros incentivos universitários. Em 1951, ao receber 2,500 dólares dos Estados unidos do Bryn Mawr College (importância então considerável) pode decidir-se a navegar ao redor da América do Sul. Chegou a Santos em Novembro, esperando ficar duas semanas, para desfrutar da paisagem numa curta pausa de sua semanas em sua longa viagem, mas sua estada se estendeu por mais de vinte anos.

O Brasil marcou sua vida como temática de numerosos poemas, contos e cartas, e, como afirma a obra «Brasiliana da Biblioteca Nacional», de 2001, em sua página 107, «como vivência afetiva, pautada sobretudo pela longa relação amorosa com Lota de Macedo Soares.» Tal relação lhe daria estabilidade e amor e estabeleceu residência no Rio de Janeiro, depois nos arredores, em Petrópolis e mais tarde em Ouro Preto.

Diz a mesma obra: «Representante ilustre da poesia moderna norte-americana, Bishop residiu no Brasil como estrangeira voluntariamente exilada de seu país, mas profundamente conectada com o movimento cultural norte-americano», principalmente com o poeta Robert Loewe e com sua mentora Marianne Moore. (....) «Traduziu poemas dos principais expoentes do modernismo brasileiro e manteve relações cordiais com vários desses artistas.»

Chegou no último governo Vargas, documentou o suicídio do presidente, viu a ascensão de JK e a queda de Jango Goulart. Endossava as opiniões de sua namorada Lota, paisagista e amiga de Carlos Lacerda, partidária de posições udenistas. Com simpatias pelo Partido Democrata nos Estados Unidos, crítica ao sistema de segregação racial norte-americano. A verdade é que a política jamais foi tema de interesse central para ela, não podendo ela ter uma maior compreensão teórica do assunto. Sua percepção das contradições brasileiras é, no entanto, sutil e perspicaz em poemas sobre a paisagem de Santarém, por exemplo, na evocação das chuvas tropicais, na sátira social explícita (poema Pink Dog, por exemplo) no retrato dos pobres urbanos.

Vendendo a casa de Ouro Preto após o suicídio de Lota, no início da década de 1970 retornou defitinivamente aos Estados Unidos.

Enquanto vivia no Brasil, em 1956 recebeu o Prémio Pulitzer de Poesia pelo livro North & South — A Cold Spring. Receberia mais tarde o Prêmio Nacional do Livro (the National Book Award) e o prêmio nacional do círculo dos Críticos literários (the National Book Critics Circle Award) assim como duas bolsas Guggenheim e uma da Fundação Ingram Merrill. Tornou-se poeta residente na Universidade de Harvard em 1969. Começou em 1971 uma relação amorosa com Alice Methfessel que duraria até sua morte em 1979.

Em 1976, foi a primeira mulher a receber o Prêmio Literário Internacional Neustadt e continua sendo o único americano a recebê-lo.

Escreveu muito para a revista The New Yorker, e em 1964 escreveu o obituário de Flannery O'Connor para a The New York Review of Books. Fazia muitas conferências, e durante uns poucos anos ensinou na Universidade de Washington, antes de se mudar para Harvard por sete anos. Ensinou ainda na New York University, antes de terminar seus dias de ensino no Massachusetts Institute of Technology.

Gastava meses, por vezes anos, escrevendo um poema apenas, trabalhando para obter um sentido de espontaneidade. Apaixonada pela exatidão, recriou os mundos do Canadá, América, Europa e Brasil. Não admitia ter pena de si mesma, mas seus poemas mal escondem todas as dificuldades como mulher, como lésbica, como órfã, como viajante sem raízes, ou asmática frequentemente hospitalizada, mulher que sofria de depressão e por vezes alcoolismo.

"I'm not interested in big-scale work as such," disse uma vez a Lowell. "Something needn't be large to be good." O que simplesmente quer dizer que não estava interessada por trabalho em larga escala, por não acreditar que algo precisasse ser grande para ser bom…

Faleceu em 06 de outubro de 1979 aos 68 anos. Encontra-se sepultada no Hope Cemetery, Worcester Massachusetts no Estados Unidos.

Fonte: wikipedia, em que aparece toda a bibliografia da autora.

****

 

ACALANTO

                Poema de Elizabeth Bishop

                        Tradução de MANUEL BANDEIRA

 

Nana nana.

Nana, dorme o adulto

E a criança dorme.

Ao largo, ferido de morte, naufraga

O navio enorme.

 

Nana nana.

Batalhem os povos

E morram: não faz diferença.

A sombra do berço desenha uma imensa

Gaiola no muro.

 

Nana nana.

Breve a guerra acaba.
Solta esse brinquedo
Bobo, e apanha a lua,
Que é melhor brinquedo.

 

Nana nana.
Se acaso disserem
Que não tens juízo,
Não dês importância:
Sorri o teu sorriso.

 

Nana nana.

Nana, dorme o adulto

E a criança dorme.

Ao largo ferido de morte, naufraga

O navio enorme.

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE Revista Semestral de Poesia. Ano 5 – Número 8.  Junho 1997.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional – Ministério da Cultura. Departamento Nacional do Livro, 1997.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

To Manuel Bandeira, with a present

 

 

Your books are here; their pages cut.
O
f course I want to thank you, but
h
ow can I possibly forget
t
hat we have scarcely spoken yet?

 

Two mighty poets at a loss.

unable to exchange a word.

to quote McCarthy, "It's the most

unheard — of thing I've ever heard"!1

 

Translators of each other's tongue!

(I think that I may make this claim.)

The greater, relatively young,

sculptured in bronzeJ and known to Fame!

 

Smiled on by Fame and Miss Brazil!3

In this the man to keep so still?

The gallant man who rendered in
m
ore graceful language, Elinor Glyn?4

 

Gave lovely Latin things to utter
to Tarzan4
who could barely mutter,
a
nd polished Edgar Burrough's brute?
S
hould such a man as this be mute?

 

 

1 Recent remark of senator McCarthy to the press.

2 0 Globo). January 5th, 1955.

3Manchete, August, 1954.

4 ltinerário de Pasárgada. p. 100, n.

5 Idem.

 

 

And I, I am no raconteur,

my repartee is often weak,

but English-speaking friends, I fear,

would tell you I can speak,

and speak, and speak, sometimes for days,

not giving any indication

of stopping or of feeling the need

of substitutes for conversation.

 

O conversations gone to pot!

But please believe I've never thought
"Your book is fine; I like it lots,"

is best expressed by apricots;
"You put all rivals in the shade,"
is well — implied in marmalade

I haven't; but accept and spread
these compliments upon your bread,

 

and, Manuel, may this silent jelly
speak sweetly to your poet's belly;6
and once more let me say I am
devoted with a jar of jam.

 

 

6   If I may be allowed the expression.

 

 

Fundação Casa de Rui Barbosa

 

 

 

 

Neo-Pasárgada, 22 VII. 58

 

 

Manuel querido e alegria,
sou bravo, de morte,
sou filho da sorte,
meu canto, do Norte,
Guerreiros, ouvi:

 

CARO BANDEIRA, dou curso
aqui à mor gratidão
pelo que, no seu discurso,
de mim, e em tanta ocasião,
Você disse. Não sou urso:
te hasteio no coração.

 

Ao nosso Afonso te peço
dizer um recado meu:
seu louvor e nobre apreço
grata alegria me deu;
e ora vejo, penso e meço:
agora, mais me venceu.

 

Tudo bem, Manuel. Somente,
embora eu seja robusto,
eleição espanta à gente;
e só penso nisso a custo:
constrange-me o "aurisplendente"
e o processus me dá susto.

 

Rosa-chá? Rosa do voto?
(Devoto, sim.) Mas seria

melhor persistir remoto
sem espinho ou nostalgia.
Louros e não rosas, noto,
vão bem a uma Academia.

 

E, se não cuido nem maldo.
vamos, pois, ficar assim —
no sertão, juntos. O saldo
de afeto, já tens em mim,
com Lalino e Riobaldo,
"Maçarico" e Miguilim.

 

Abraço, perene,
         do seu

         Guimarães Rosa

 

P.S. — Se você não ler, tudo, logo,
eu um dia chego aí e
 "esculhambo a vossa porta"!

 

 

 

Fundação Casa de Rui Barbosa

 

Página publicada em janeiro de 2018

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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