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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

EDOARDO SANGUINETI

(1930 - 2010)

Nascido em Gênova, em 1930, o poeta esteve ligado à chamada Neovanguardia da década de 60, e ao Gruppo 63, que reuniu outros poetas e escritores como Nanni Balestrini, Aldo Palazzeschi, Elio Pagliarani, Giorgio Manganelli e Amelia Rosselli, para citar apenas os mais conhecidos no Brasil.

 

Edoardo Sanguineti estreou com o livro Laborintus, em 1956. A ele seguiram-se muitos outros, como Erotopaegnia (1960), Wirrwarr (1972), Due Ballate (1984), Novissimum Testamentum (1986), Corollario (1997). Reuniu sua poesia no volume Mikrokosmos. Poesie 1951-2004. O poeta morreu em Gênova, sua cidade natal, nesta manhã de 18 de maio de 2010, aos 79 anos de idade. 

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE.  Revista Semestral de PoesiaAno 3 – Número 6 – Fevereiro  1995.           Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro.   ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Che cosa potevo fare o dire, Vasko, quando quella seria Shirley
Temple in technicolor mi ha raggiunto correndo sulla Lijnbaan, agitando la sua rossa coda, ridendo? ho subito sentito i suoi artigli
come si dice nel mio cuore:
                   tiene il mio teschio tra le sue zampe, ma la sua faccia, adesso, è pulita: e succhia la mia spina dorsale sopra questo deserto di Rotterdam, dentro questo Number One, in questo literary supper: è una cosa (lei) del genere Holbein d.J. (penso al Portret
van een onbekende vrouw): non è riuscita cosi bene, si capisce, ma
è più magra: e con il pipistrello in testa, per esempio: e senza tutto quel velo giallo: le ho chiesto anche il nome (lo hai sentito anche tu): una parola come Inneke,
credo:
         e poi, che cosa posso scrivere, ormai, se devo ancora discutere fino alle sei del mattino, camera 348, con l'europeo Tchicaya,
con Breyten, con te? (non riesco nemmeno a telefonare a mia moglie, vedi, a finire le Affinità elettive): e ho anche un paio di pustole in faccia:

 

 

Que podia fazer ou dizer, Vasko, quando aquela séria Shirley
Temple em tecnicolor me alcançou correndo pela Lijnbaan, agitando
a cauda ruiva, e rindo ? de repente senti as suas presas
— como se diz — no coração:
                                      tem a minha caveira entre as patas, mas sua cara, agora, está limpa: e suga minha espinha dorsal sobre este deserto de Roterdã, dentro deste Number One, neste literary supper: é uma coisa (ela) do género Holbein d. J. (penso em Portret van een onbekende wrouw): não tão bem feita, é claro, mas
é mais magra: e com o morcego na cabeça, por exemplo: e sem todo aquele véu amarelo: também lhe perguntei o nome (você também ouviu): uma palavra como Inneke,
creio:
         e depois, que poderia escrever mais, se devo ainda discutir
até às seis da manhã, no quarto 348,com o europeu Tchicaya.

com Breyten, com você? (não consigo nem mesmo telefonar a minha mulher, e nem acabar as Afinidades eletivas): e tenho ainda um par de espinhas na cara:

 

Tradução de Ivo Barroso

 

Non saprei scriverla più, per te, una lettera infinita, sopra fogli di scuola con rigatura regolare, con fregi a matita rossa e blu, con festoni di cuori e fiori, piena di D maiuscole (per Du, per Dein), di
fùr uns sottolineati con forza:
                                      (una lettera come quella che spiavamo
l'altro giorno, in mano a due civili fanciulletti, al piano superiore
di un Bus 94):
                   nemmeno se tu fossi quella minuscola pseudo
hawaiana berlinese senza seno, senza reggiseno, che si esibiva incautamente per noi: (per noi, seduti a succhiarci una coppa alla banana, sotto una bandierina con la scritta "EIS", da un gelataio galante che sembra un macellaio):
                   nemmeno se io fossi quell'osceno fauno di mezza
età che io sono davvero, ormai:
                                          guardami in faccia, almeno
quando mi tagli i capelli sul balcone, che sto li a torso nudo, nel vivo sole di mezzogiorno, nel vento:

mi sognavo simile a un Hoffmann in delirio: e sono quasi il sosia di un mediocre comico inglese:

 

 

Já não saberei escrever-te uma carta infinita, em folhas de papel de escola com pautas regulares, com frisos a lápis de cor azul e rosa, guirlandas de corações e flores, cheia de D maiúsculos (em vez de   Du, de
     Dein), de fúr uns sublinhados com força:
                            (uma carta como aquela que bisbilhoteávamos outro dia, nas mãos
                            de dois meninos educados, no andar superior de um ônibus 94):

nem mesmo que fosses aquela minúscula pseudo
havaiana berlinense sem seios, sem sutiã, que se exibia incautamente para nós: (para nós, sentados a sugar um milk-shake de banana, sob uma bandeirinha com a legenda "EIS", num sorveteiro galante que parecia um açougueiro):
                   mesmo se eu fosse aquele fauno obsceno de meia-idade que eu, agora, de fato sou:
                                      olha-me no rosto, pelo menos enquanto me cortas os cabelos na varanda, que ali estou de peito nu, ao vivo sol do meio-dia, ao vento:
                                  eu que me imaginava igual a um Hoffmann em delírio: e sou quase o sósia de um medíocre cómico inglês:

 

Tradução de Ivo Barroso

 

 

Página publicada em dezembro de 2017


 

 

 
 
 
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