POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
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DUO DUO
Duo Duo ou Duoduo (chinês: 多多) (Pequim, China, 1951) é o pseudônimo do poeta contemporâneo chinês, Li Shizheng (chinês: 栗世征), um dos principais exponentes da corrente "nebulosa" ou "escura" da poesia chinesa moderna (朦胧诗). Duo Duo foi premiado com o Prêmio Literário Internacional Neustadt em 2010.
Durante a Revolução Cultural, Duo Duo foi enviado para uma escola no campo de Baiyangdian (白洋淀), onde começou a ler e escrever poesia. Os seus primeiros poemas eram curtos e referiam poetas ocidentais como Charles Baudelaire, Marina Tsvetaeva e Sylvia Plath. Apesar deste amor da literatura ocidental, a prosódia chinesa clássica permaneceu profundamente enraizada na poesia de Duo Duo. Seu trabalho representa assim essa tensão entre as culturas. Ao longo de seu trabalho, Duo Duo se separou conscientemente da influência da tradição ocidental para criar um estilo e abordagem própria. Na década de 1980, seu estilo sofreu uma mudança e seus poemas ficaram mais longos e mais filosóficos. Em contraste com o estilo baseado em imagem de Bei Dao, Duo Duo tende a utilizar mais o som e a retórica com linhas mais longas e fluidas. Duo Duo testemunhou os protestos da praça Tian'anmen de 1989 e depois foi morar por muitos anos no Reino Unido, Canadá e Países Baixos. Sua distância da China incitou a segunda mudança em sua poesia: ele começou a escrever sobre o exílio e desarraigamento. Crossing the Sea, 1998 mostra o desenvolvimento de seu trabalho desde os primeiros dias da Revolução Cultural até os acontecimentos de junho de 1989 que levaram ao seu exílio. Duo Duo retornou à China em 2004 e a comunidade literária o recebeu com honra e louvor. Posteriormente, começou a ensinar na Universidade de Hainan na ilha tropical de Hainan, onde contínua atualmente.
Biografia: pt.wikipedia.org
POESIA SEMPRE Número 27 – Ano 14 – 2007 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Nos campos abandonados do Norte há um
Arado que me traz dor
Nos campos abandonados do Norte há um arado que me traz dor.
Quando a primavera desaba como um cavalo, de uma
carroça vazia que recolhe cadáveres
uma cabeça de pedra
reúne as tempestades da morte.
Os cabelos de ferro da tempestade se arrepiam:
debaixo de um chapéu
há um vazio — o tempo depois da morte
e já lhe tirou a face.
Uma barba ruiva se estende
para recolher a dignidade do Norte há tempo abandonado.
A primavera é como um sino que lhe morde o coração
como a voz de um menino que caiu no fundo de um poço,
como um menino que se queima no fogo:
a sua dor — e como a de um gigante.
Serra as árvores destruídas
como se ele serrasse a própria perna,
um som mais flébil que um fio de angústia
atravessa a madeira amontoada, atravessa essas pilhas solitárias:
é a solidão do semeador que chegou ao fundo do campo.
Uma camponesa cor de linho
sem rosto agita as mãos
na direção do rosto do lavrador que se distancia.
A mãe enferrujada sem memória
agita as mãos — como uma pedra
que vem de antepassados distantes...
Despertar
Fora da janela o céu é límpido
dentro da caixa o pensamento é brilhante.
Em cem anos apenas um voltear a cabeça
em mil anos apenas um encontro.
No muro de tijolos vermelhos escritas com provérbios:
Logo
se juntam nossos rostos
ao menos por um instante:
lábios límpidos, sonos límpidos
Folhas caídas, cicatrizes violáceas
antes eram apenas lembrança.
Ah!, deram-nos somente uma coisa:
sonos límpidos, sonos límpidos.
Olhando na direção da morte
Olhando na direção da morte podemos ver sempre
quem não devemos ver por toda a vida,
sepultado em algum lugar
soprando aqui ou ali, e enterrar-se lá
enterrar-se no lugar que odeiam.
Deitam sobre teu rosto uma pá de terra.
é preciso agradecer-lhes e agradecer ainda
porque teus olhos não verão mais inimigos.
Assim, na direção da morte há de se transmitir
o grito de quando estavam imersos na hostilidade
mas não há como perceber
pois tudo aquilo é um grito de dor.
1983
O menino agarra vespas
Quando não há vento, há pássaros
"pássaros, mas não a manhã''
0 menino agarra vespas entra do lado direito do quadro
A demanda da árvore foi acolhida pelos pássaros.
"Mamãe, os campos de grão olham na minha direção"
três sóis correm atrás de um pássaro
"Mamãe, o vitelo dentro de teu ventre se move!"
o cavalo mais preto do mundo chega a galope
"mamãe, o caixão veio do sul"
a madeira mede a cabeça do menino
Os gritos do menino aderem ao pé da pereira
mais e mais gente fica fora do quadro
0 menino sabe ficar de pé com cinco pés
seus pés agora são de areia
a árvore jovem que não dá folhas começa a soluçar
uma ameixa madura continua a chamar "vocês-nós"
1992
Página publicada em fevereiro de 2019
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