| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS Foto e biografia: wikipedia   DIMITRIS TSALOUMAS   Tsaloumas  nasceu na Grécia, na ilha de Leros , uma das ilhas do Dodecaneso, que estavam  sob o domínio italiano (de 1912 a 1947). Conseqüentemente, sua educação formal  era em italiano. Sua formação posterior foi em Rhodes onde ele também estudou  violino. Ele atingiu a maioridade durante a ocupação italiana e alemã da Grécia  e participou da resistência, atuando como mensageiro. Na Grécia, antes de migrar  para a Austrália, ele publicou duas coleções de poesia, uma das quais foi  impressa com a ajuda do escritor inglês Lawrence Durrell , que conheceu  Tsaloumas em Rodes e ficou impressionado com seu trabalho.  Ele  partiu para a Austrália em 1952 por causa de perseguição política e ganhou a  vida ensinando. Ele começou a escrever novamente (em grego ) e teve vários  volumes publicados.  Ele ficou conhecido  pelos leitores ingleses quando uma seleção de seus poemas gregos foi publicada  na edição bilíngue The Observatory, em 1983. Os primeiros poemas que ele  escreveu inteiramente em inglês foram publicados em 1988 na Falcon Drinking.  Depois disso, ele publicou vários outros volumes de poesia em inglês. Ele  costumava voltar para a Grécia, passando grande parte do tempo em Leros. Entre  os prêmios que recebeu por sua escrita estão o National Book Council Award  (1983), o Patrick White Award (1994) e o Emeritus Award do Literature Board do  Australia Council por sua contribuição extraordinária e vitalícia à literatura  australiana (2002). Quatro dos poemas de Tsaloumas, "Eu tomei o caminho  para a montanha", "O estrangeiro", "A romã" e  "Cartas com más notícias", foram tocados pelo compositor  greco-australiano Costas Tsicaderis. Os dois últimos foram publicados em 1985  no Live at The Boite. Uma versão de estúdio de "The Pomegranate" foi  incluída na antologia das canções e músicas gregas australianas In a Strange  Land.  "Eu tomei o caminho para a  montanha" e "The Foreigner" estão no álbum de Irine Vela e  Costas Tsicaderis, grego 3CR .     PAES, José Paulo.  Gaveta de Tradutor.  Versões de poesia. Florianópolis,  SC: Letras        Contemporâneas, 1996.   160 p.   16 x 22,5 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda  José Paulo Paes, além  de extraordinário poeta, e crítico literário, era também um dos nossos mais  extraordinários tradutores !!! Quem puder, deve adquirir o livro acima!!!     UM CRENTE NÃO-ORTODOXO TEM O SEU REQUERIMENTO INDEFERIDO   Recebemos as belas amostras de vosso trabalho porém o requerimento foi indeferido pelo Comitê.
 Reconheceu-se evidentemente a boa disposição que vos anima
 mas vossa linguagem rescende a servilidade de raiá, falta-lhe
 o condimento do estilo oficial. De vossa paleta
 estão ausentes as cores brilhantes, a centelha do
 trabalhador que contribui para a ebriez do futuro.
 Vossas canções saudosas não lhes ecoam o pesar aos domingos
 em que o trabalho é proibido. Há outrossim a vossa propensão
 de mencionar Deus e as paixões dos homens,
 de espiar para dentro de poços ou de falar ao vento
 e outros elementos que pusemos a dormir: não convém
 que poetas licenciosos irrompam agora
 em serenatas de nostalgia pequeno-burguesa.
 Vinde ser aprendiz nosso por uma ou duas luas
 e apresentai novo requerimento quando se ilumine o vosso coração.
 Pós-escrito
 Notamos que fostes recusado pelos que vestem camisa de luto, e isso não nos surpreende.
       VELHO AMIGO   Vim, como sabes, mas encontrei o portão fechado e arame farpado em cima dos  muros. Para além das folhagens, sombras pintalgadas de sol numa parede distante. A casa não estava no lugar de outrora. Tive notícias tuas no café — do quanto lutaste, das tuas conquistas; ao que parece, os sonhos da minha mocidade se cumpriram em ti. Não te queixes de eu ir-me sem te ver. Nós não temos mais nada a partilhar.     CARTA DE UM GENERAL ROMANO   Senhora dos meus devaneios, dona do meu coração, Domitia Fúlvia, saudações.
 Justa a vossa censura, justa a vossa queixa;
 porém nos encontrou a hora da necessidade
 com planos inadequados e sem norteio
 a palavra dos sábios. Os céus talvez
 quisessem adiar de novo
 o verão. Desgovernados estão os nossos tempos, difíceis de entender. Flagelos terríveis caíram sobre os países dos bárbaros: hordas vindas dos desertos mais distantes do mundo, tropel e faca e estridor de fogos a raivar, ventos turbilhonantes, chuvas sem medida, e depois a brecha enorme no céu de onde saiu, maligno, um sol de olho selvático que torrou a crosta da terra exausta, as veias do alburno, e ressecou o mundo, a que oprimia um grande contágio. E trazendo consigo seus animais e suas esquálidas famílias, chegavam os miseráveis até o largo rio aos empurrões, multiplicando-se feito gafanhotos. Vigilantes junto aos reparos, nossos homens comiam em silêncio seu toucinho. Fumos negros e cheiro de carne queimada à nossa volta traziam lágrimas aos olhos e nos aturdia a alma o rebôo da multidão sempre a afluir. Querida minha, lâmpada das minhas noites sem sono, o tempo usurpador apressa o nascimento de uma alvorada estrangeira e o lusco-fusco invade as vizinhanças de minha alma, obscurecendo a crónica de nossos dias idos. Com força aperto o fio do amor. Pois rotas e fronteiras vão ser mudadas e os mapas da noite gravados sem constelações. Quanto ao demais, esta cidade embala campanários e estátuas à beira do Danúbio, as ruas cheias de gente e carruagens, os teatros repletos. Certas vezes, de noite, o coração a transbordar, eu saio e me sento nos balcões de mármore dos palácios e dali contemplo a galáxia que arde sem saída, acompanhando por veredas serpeantes o cadáver de Cleópatra, os cantos fúnebres e as lamentações de longas cabeleiras ou a amarga procissão de rumo ao Gólgota, seguida por vendedores de pistache, de sorvete, de xaropes, e por crianças e cães frenéticos. Outras vezes, dos confins do mundo, ouço a trombeta de chamados fratricidas e testemunho marchas fatais, e legiões a convergir para o deserto de ossos e para o reino do destino. E isso. Não lhe chames covardia, que calamidades nutrem as fontes da bravura e as armas dos bravos estão sempre de guarda. Saudações, então. Lá fora batem cascos, nas primeiras neblinas outonais, cavalos já selados: o correio tem pressa de partir. Que nem minha esperança nem meu amor pereçam algum dia no clima sulino dos vossos pensamentos.       À ESPERA DA GUERRA   Baixo as persianas e fico sentado no escuro, pensando. O tempo carranqueia em minhas mãos:
   vai haver guerra. Grossas correntes deixaram sulcos fundos no deserto. Mas em meu jardim
   as folhas caem no pino do estio. Muitas aves pequenas tombaram mortas no betume. Veneno
   de rato, dizem, o róseo grão da morte. Eu lhe sei as outras cores; este porém não é um tempo
   de lembrar. Devo fechar os ouvidos à fraqueza. Lá fora, no tórrido calor, todas as vozes
   protestando inocência soam alquebradas. Bem por isso homens implacáveis sentam-se junto ao bruxuleio
   de lagoas avaliando a situação e em minha cabeça durante o dia todo três corvos gordos como cisnes
   cruzam e recruzam uma região desértica e outros erguem vôo, feito moscas, de suas ravinas.   Tenho de alcançar lugares de mais sombra, trechos de mais verde. A paciência do mundo está no fim.
     Página  publicada em setembro de 2019 
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