POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Foto extraída de https://comicvine.gamespot.com/
DIANE DI PRIMA
(Nova Iorque, 6 de agosto de 1934) é uma poeta, escritora e artista estadunidense, parte da chamada Geração Beat, e também uma militante feminista e ativista dos direitos humanos. É também dramaturga e professora, tendo escrito mais 40 livros, que foram traduzidos para mais de 20 idiomas.
Diane nasceu no Brooklyn, na cidade de Nova Iorque, em 1934, a segunda geração de italianos nascidos nos Estados Unidos. Começou a escrever aos sete anos de idade e decidiu tornar-se poeta aos 14 anos. Ingressou no Swarthmore College, mas largou o curso para se tornar poeta em Manhattan. Seu avô materno, Domenico Mallozzi, era um ativo anarquista, associado a outros membros do movimento, como Carlo Tresca e Emma Goldman.
Diane começou a escrever bem cedo e aos dezenove anos se correspondia com escritores como Ezra Pound e Kenneth Patchen. Seu primeiro livro de poesias, This Kind of Bird Flies Backward, foi publicado em 1958, pela Totem Press, dirigida por LeRoi Jones. O livro é considerado um dos marcos iniciais do movimento beat, do qual Di Prima participou tanto como escritora, como editora.
Durante as décadas de 1950 e 1960, Diane viveu em Manhattan, onde participou do surgimento e do crescimento da geração beat. Dividindo seu tempo entre as costas oeste e leste, ela acabou se estabelecendo permanentemente em San Francisco e foi uma figura que ligou o movimento criado pela geração beat e os hippies, bem como os artistas dos dois lados dos Estados Unidos.
Foi editora do jornal The Floating Bear com LeRoi Jones e foi co-fundadora do New York Poets Theatre, tendo fundado também o Poets Press.[1] Em várias ocasiões, Diane foi acusada de obscenidade pelo governo dos Estados Unidos por seu trabalho. Em 1961, ela foi presa pelo FBI por publicar dois poemas no The Floating Bear. Segundo Diane, os federais continuamente a ameaçaram e pressionaram devido à natureza de seus poemas.
Em 1969, ela escreveu uma ficção erótica contando em detalhes suas experiências com o movimento beat chamado de Memoirs of a Beatnik. De 1974 a 1997, ela lecionou no Naropa Institute, em Boulder, no Colorado. Em 2001, publicou Recollections of My Life as a Woman: The New York Years.
Fragmento de biografia extraído da Wikipedia.
POESIA BEAT. Org. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Beco do AzougueEditorial, 2012. 215 p. ilus. (Azougue especial) Capa: Thiago Gonçalves. ISBN 978-85-7920-093-9
Equipe Azougue: Anita Ayres, Barbara Ribeiro, Evelyn Rocha, Lariassa Ribeiro, Luciana Fernandes, Thaís Almeida, Tiago Gonçalves e Wellington Portella. Ex. bibl. Antonio Miranda
Tradução: Revolutionary Letters (1968) e Pieces o a song (2001), por SERGIO COHN. “The practice of magical evocation”, trazido pro Evelyn Rocha e Sergio Cohn.
REVOLUTIONARY LETTERS
1
I have just realized that the stakes are myself
I have no other
ransom money, nothing to break or barter but my life
my spirit measured out, in bits,
spread over
the roulette table, I recoup what I can
nothing else to shove under the nose of the maitre de jeu
nothing to thrust out the window, no white flag
this flesh all I have to offer, to make the play with
this immediate head, what it comes up with, my move
as we slither over this go board, stepping always
(we hope) between the lines
2
The value of an individual life a credo they taught us
to instill fear, and inaction, 'you only live once'
a fog in our eyes, we are
endless as the sea, not separate, we die
a million times a day, we are born
a million times, each breath life and death:
get up, put on your shoes, get
started, someone
will finish
Tribe
an organism, one flesh, breathing joy as the stars
breathe destiny down on us, get
going, join hands, see to business, thousands of sons
will see to it when you fall, you will grow
a thousand times in the bellies of your sisters
4
Left to themselves people
grow their hair.
Left to themselves they
take off their shoes.
Left to themselves they make love
sleep easily
share blankets, dope & children
they are not lazy or afraid
they plant seeds, they smile, they
speak to one another. The word
coming into its own: touch of love
on the brain, the ear.
We return with the seas, the tides
we return as often as leaves, as numerous
as grass, gentle, insistent, we
remember the way,our babes toddle barefoot thru the cities of the universe.
10
These are transitional years and the dues
will be heavy.
Change is quick but revolution
will take a while.
America has not even begun as yet.
this continent is seed.
12
the vortex of creation is the vortex of destruction
the vortex of artistic creation is the vortex of self destruction the vortex of political creation is the vortex of flesh destruction
flesh is in the fire, it curls and terribly warps
fat is in the fire, it drips and sizzling sings
bones are in the fire
they crack tellingly in
subtle hieroglyphs of oracle
charcoal singed
the smell of your burning hair
for every revolutionary must at last will his own
destruction
rooted as he is in the past he sets out to destroy
THE PRACTICE OF MAGICAL EVOCATION
the female is fertile, and discipline
(contra naturam) only
confuses her
- Gary Snyder
i am a woman and my poems
are woman's: easy to say
this. The female is ductile
and
(stroke after stroke)
Built for masochistic
Calm. The deadened nerve
is part of it:
awakened sex, dead retina
fish eyes; at hair's root
minimal feeling
and pelvic architecture functional
assailed inside & out
(bring forth) the cunt gets wide
and relatively sloppy
bring forth men children only
female
is
ductile
woman, a veil thru which the fingering Will
twice torn twice torn
inside & out
the flow
what rhythm add to stillness
what applause?
CARTAS REVOLUCIONÁRIAS
1
Acabei de perceber que sou eu o que está em jogo
Não tenho outro
Dinheiro para o resgate, nada para quebrar ou barganhar
A não ser minha vida ou meu espírito parcelado, em
fragmentos,
esparramado sobre
a mesa de roleta, eu recupero o que eu posso
não tenho mais nada para enfiar debaixo do maitre de jeu
nada mais para jogar pela janela, nenhuma bandeira branca
esta carne é tudo o que tenho para oferecer, para fazer a minha
jogada
com esta cabeça imediata, e o que vem nela, meu movimento
enquanto deslizamos sobre o tabuleiro, pisando sempre
(assim esperamos) nas entrelinhas
2
O valor de uma vida individual é um credo que nos ensinam
para incutir o medo, e a inatividade, "você apenas vive uma
vez"
uma névoa nos nossos olhos, nós somos
infinitos como o oceano, inseparáveis, nós morremos
um milhão de vezes por dia, nós nascemos
um milhão de vezes, cada respiração vida e morte:
levantar, colocar seus sapatos,
começar, alguém
irá finalizar.
A tribo
um organismo, emanando prazer como as estrelas
emanam destinos para nós, seguindo,
mãos dadas, milhares de filhos
irão ver quando você cair, você irá crescer
milhares de vezes na barriga das suas irmãs
4
Deixadas a sós as pessoas
deixam crescer os cabelos.
Deixadas a sós elas
deixam os pés descalços.
Deixadas a sós elas fazem amor
dormem fácil
dividem lençóis, drogas & crianças
não são preguiçosas ou medrosas
plantam sementes, sorriem,
falam umas com os outras. A palavra
no seu íntimo: toque de amor
no cérebro, no ouvido.
Nós retornamos com o oceano, as marés
nós retornamos com a frequência das folhas, tão
numerosos como a relva, gentis, insistentes, nós
lembramos do caminho,
nossos filhos tropeçam descalços pelas cidades do universo.
10
Estes são anos de transição e os custos
serão pesados.
A mudança é rápida mas a revolução
demorará um tempo.
A América nem sequer começou.
Este continente é semente.
12
o vórtice da criação é o vórtice da destruição
o vórtice da criação artística é o vórtice da autodestruição
o vórtice da criação política é o vórtice da destruição carnal
a carne está em chamas, ela se contorce terrivelmente
a gordura está em chamas, ela goteja em chiados
os ossos estão em chamas,
eles quebram revelando
sutis hieróglifos do oráculo
o carvão cantou
o cheiro do seu cabelo em chamas
porque cada revolucionário deve ter como último desejo
sua própria destruição
enraizado como está no passado que ele busca destruir
A PRÁTICA DA EVOCAÇÃO MÁGICA
a fêmea é fértil, e disciplina
(contra naturam) só
a confunde
- Gary Snyder
eu sou uma mulher e meus poemas
}são de mulher: fácil de dizer
isto. A fêmea é dócil
e
(golpe a golpe)
feita de uma calma
masoquista. O nervo morto
é parte disto:
sexo desperto, retina de olhos
de peixe morto. Na raiz dos cabelos
sensações mínimas
e arquitetura pélvica funcional
atacada dentro & fora
(dá a luz) a buceta se alarga
e afrouxa um pouco
dá a luz a filhos homens apenas a
mulher
é
dócil
Mulher, um véu onde o Desejo em dedos
duplamente se dobra
duplamente se dobra
dentro & fora
o fluxo
que ritmo agregar à quietude
que aplauso?
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 3, Número 5, jan./jun. 2021 Brasília, DF: Editora Cajuína,
2021. 168 p. Presidente: Flavio R. Kothe. ISSN 1674-940-905
Ex. bibl. Antonio Miranda
TRADUÇÕES DO INGLÊS por MARCOS FREITAS
Três lamentos
I
Ai de mim
acreditar
que eu poderia ter me tornado
uma grande escritora
embora as cadeiras na biblioteca
fossem mais duras
II
Eu tenho
a vantagem,
porém se eu a mantiver
vou perder a circulação
em meu braço
III
Então aqui estou eu a mais legal de Nova York
o que não balança eu não empurro.
Em algum campo elísio
perto de uma grande árvore
mastigo meu orgulho
como rumino.
*
Página ampliada e republicada em setembro de 2022.
Página publicada em outubro de 2020
|