POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
DACIA MARAINI
Ela é uma das figuras mais importantes da literatura moderna italiana. Seus vários trabalhos voltados para as questões das mulheres foram traduzidos para mais de 30 idiomas e, com quase 80 anos, ela ainda está ativa. Dacia Maraini é uma das figuras favoritas da Itália nos últimos tempos.
Tema do documentário de 2013 Eu Nasci Viajando, Dacia Maraini nasceu em Fiesole, Toscana em 13 de novembro de 1936. Com ricos antecedentes (ela é filha da Princesa siciliana Topazia Alliata di Salaparuta, uma negociante de artista e de arte, e de Fosco Maraini, um etnólogo Florentino e alpinista, com ascendência misturada de tessina, inglesa e polonesa), Dacia tem usado sua experiência de vida para deixar sua pegada na literatura italiana.(...)
Fonte: http://www.eurochannel.com/pt/Biografia-de-Dacia-Maraini.html
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista Semestral de Poesia.. Ano 3 – Número 6 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
viaggiando con passo di volpe
Viaggiando con passo di volpe
come sono amare quelle arie
di un mattino di partenza
come sono insensati quei passi
fra una stazione e l'altra
fra un sorso e l'altro
mentre andaimo
io vagabonda
e tu sedentario quietista
in un viaggio d'aereo
che sa di banane e nuvole nere
ci chiamiamo di lontano
come stai ? e tu?
ho paura del futuro
perciò me lo mangio
mentre con passi pudichi
mi faccio il giro del mondo
vorrei portarti con me
ma tu non ci sei
tu che stai sempre a casa
tu che conosci l'assenza
io faccio le valigie
io parto
tu rimanie
e domattina addio
ma dove vado
che non ci sono più aerei
non ci sono più treni
non ci sono più stazioni
non c'è più neanche il viaggio
tu stai bene? e tu?
io domattina vado
con o senza valigia
perché mi aspetta laggiù
la nostalgia del retorno
viajando com passo de raposa
Viajando com passo de raposa
que amargos são esses ares
das manhãs de partida
que insensatos esses passos
entre uma estação e outra
entre um gole e outro
enquanto vamos
eu andarilha
e você sedentário quietista
numa viagem de avião
que sabe a bananas e nuvens negras
de longe nos chamamos
como vai? e você?
tenho medo do futuro
por isso o como
enquanto com passos pudicos
dou a volta ao mundo
queria levar-te comigo
mas você não está
você que está sempre em casa
você que conhece a ausência
eu faço as malas
eu parto
você fica
e amanhã adeus
mas aonde vou
que não há mais aviões
não há mais trens
não há mais estações
não há mais sequer a viagem?
você está bem? e você?
eu amanhã vou
com ou sem mala
porque lá longe me espera
a nostalgia da volta
Tradução de Marina Colasanti
guerra dentro un piatto
guerra dentro un piatto
ma solo per occhi curiosi:
una donna tira per un braccio
una bambina morta
una casa va in pezzi
crollano le pareti di biscotto
quante volte abbiamo parlato di guerra
seduti pacifici
da una parte e l'altra della tavola?
salta in aria una macchina
sopra l'insalatiera
un uomo grida fissando il vuoto
di un pantalone insanguinato
una guerra d'oltremare
fluttua sullo schermo gigante
esplode, si disfa, dilania
i nostri pensieri violati,
i fantasmi di dolori altrui
come li chiameremo, mio dio
se non propaggini, secrezioni
di un cuore in festa?
una guerra al di là del pane
si consuma nel tempo di una cena
bruciano i campi
brucia una scuola
brucia un bosco
bruciano le terrazze
di un albergo di lusso
mentre spolpiamo una lisca di pesce
un ragazzo ride trionfante
ha perduto tutti i denti,
una guerra d'oltremare
e noi che curiosiamo, guardinghi
al di là di un vetro periato
beviamo birra
dentro una sera viola
e ascoltiamo sorpresi
il suono di un motore,
sarà fuori o dentro la guerra?
esploderà l'aereo
o scivolerà fra le nubi?
una ragazza scappa, a piedi nudi
un bambino piange senza suono
non siamo noi a guardare la guerra
ma è lei che ci spia
al di là del doppio schermo rigato
un'altra granata
un casco che vola
un corpo di soldato
molle e inerte ricade lievemente su se stesso
una guerra d'oltremare
ci casca dolcemente nel piatto
e noi ce la mangiamo con le patate
o è lei che mangia noi
come tanti figli spaiati
guastandoci per sempre
l'esperienza carnale del dolore?
guerra dentro de um prato
guerra dentro de um prato
mas só para olhares curiosos:
uma mulher arrasta pelo braço
uma menina morta
uma casa voa em pedaços
desabam as paredes de biscoito
quantas vezes falamos de guerra
sentados pacíficos
de um lado e outro da mesa?
salta no ar um carro
por sobre a saladeira
um homem grita encarando o vazio
de uma calça ensanguentada
uma guerra de além-mar
flutua na tela gigante
explode, se desfaz, estraçalha
os nossos pensamentos violados,
os fantasmas do sofrimento alheio
como vamos chamá-los, meu deus
se não extensões, secreções
de um coração em festa?
uma guerra do outro lado do pão
se consome no tempo de um jantar
queimam os campos
queima uma escola
queima uma floresta
queimam os terraços
de um hotel de luxo
enquanto sugamos uma espinha de peixe
o rapaz ri triunfante
perdeu todos os dentes,
uma guerra de além-mar
e nós que xeretamos, prudentes
por trás de um vidro suado
bebemos cerveja
na noite arroxeada
e escutamos surpresos
o barulho de um motor,
será fora ou dentro essa guerra?
explodirá o avião
ou deslizará nas nuvens?
uma mocinha foge, pés descalços
uma criança chora sem ruído
não somos nós que olhamos a guerra
é ela que nos espia
além das listas do vídeo
uma outra granada
um capacete que voa
o corpo de um soldado
mole e inerte tomba sobre si mesmo levemente
uma guerra de além-mar
nos cai docemente no prato
e nós a comemos com as batatas
ou é ela que nos come
como tantos filhos desparelhados
estragando para sempre nossa
experiência carnal do sofrimento?
Tradução de Marina Colasanti
cosa pensa lo specchio sul muro?
Cosa pensa lo specchio sul muro?
cosa pensa il libro sullo scaffale?
cosa pensa il piatto sulla mensola?
cosa pensa il mio vestito appeso al sole?
forse lo specchio sogna
che il libro parli e il libro sogna
che il piatto balli e il piatto
sogna che il mio vestito appeso al sole
racconti una storia di piccole seduzioni
o que pensa o espelho na parede?
O que pensa o espelho na parede?
o que pensa o livro na estante?
o que pensa o prato na prateleira?
o que pensa o meu vestido pendurado ao sol?
talvez o espelho sonhe
que o livro fale e o livro sonhe
que o prato dance e o prato
sonhe que o meu vestido pendurado ao sol
conte uma história de pequenas seduções.
Tradução de Marina Colasanti
Página publicada em dezembro de 2017
|