POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
CORRADO CALABRÓ
Corrado Calabrò ha scritto il suo primo libro di poesie tra i diciotto e i vent'anni, pubblicato nel 1960 col titolo Prima attesa. Sono seguite poi numerose altre raccolte, tra le quali ricordiamo: Agavi in fiore (1976), Vuoto d'aria (1979), Presente anteriore (1981), Mittente sconosciuta (1984), Rosso d'Alicudi (1992), Lo stesso rischio (2000), Una vita per il suo verso (2002), Poesie d'amore (2004). La stella promessa (2009), T'amo di due amori (2010), Dimmelo per SMS (2011)
Nascimento: 1935, Régio da Calábria, Itália; Filmes: O Mercador de Pedras; Livros: La stella promessa, Ricorda di dimenticarla. Indicações: Prêmio Strega
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista Semestral de Poesia.. Ano 3 – Número 6 – Fevereiro 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
La Luna Nel Pozzo
Bassa di viti, a righe, una distesa
scende dalle colline fino al mare.
Non puoi vederla tu; tu sei straniera.
La notte cuce i lembi ancora freschi
della strada costiera che la sventra.
Lascia che spenga i fari; il loro fascio
inacerbisce anch'esso la ferita.
Dammi la mano e non aver paura.
So questa terra impuntita di stecchi
e so scansarne ad uno ad uno i pruni.
Ti porterò a specchiarti con la luna.
No, cosa credi, non siamo in montagna
e non zampilla in questa sabbia l'acqua;
sotto la terra qui ritrovi il mare.
Dammi la mano, la notte è lunare,
Quella è una ciminiera di fornace,
chi sa da quanto tempo abbandonata.
Ciminiere di sassi confiscate
nel grembo della terra sono i pozzi.
Qui ce ne sono tanti, a cielo aperto.
No, non si beve l'acqua che s'attinge:
la si riversa nuovamente in terra
a irrigare d'amaro questa sabbia.
"Perché l'hanno scavati, allora?" chiedi.
L'hanno scavati a far da cannocchiale.
Vieni a guardare; affacciati qui all'orlo.
Quando sarà la luna a perpendicolo
potrai avvertire l'acqua sollevarsi
come se la gonfiasse la marea.
La luna è chiara e passa senza impronte
ma queste bocche schiuse nella terra
sanno suggerne al buio un breve bacio.
Senti l'acqua che monta nel camino?
No, non si vede, il pozzo è troppo fondo.
Si sente solo come un gorgoglio,
come un respiro trattenuto in gola.
Dammi la mano, la notte è lunare.
E quanto chiari a me sono i tuoi occhi!
Ripartiamo con l'auto contromano
e la strada è una bianca cicatrice.
Procedo dritto; non mi guardo ai lati.
So questa terra impuntita di croci
e so scansarne ad uno ad uno i segni:
quella è una ciminiera di fornace,
chi sa da quanto tempo abbandonata;
e quelli sono pozzi ormai interrati.
Dammi la mano e reclina la nuca:
non puoi vederli tu; tu sei straniera.
A Lua no Poço
Desce dentre os outeiros rumo ao mar
uma encosta listrada de vinhedos.
Tu não a podes ver, és estrangeira.
A noite vai recosturando as orlas
da estrada litorânea que a desventra;
deixa-a que apague o jato dos faróis,
eles tornam a ferida mais amarga.
Não tenhas medo, dá-me tua mão.
Conheço-o, pontilhado de gravetos,
este terreno, sei como evitá-los.
Farei com que te espelhes junto à lua.
Não estamos em montanha, ora essa é boa!,
nem jorram fontes cá nestas areias;
aqui, por sob a terra tens o mar.
Mas é noite de lua, dá-me a mão.
Olha! esta é a chaminé de uma fornalha
abandonada há tempos a este chão.
São chaminés de pedras encravadas
na barriga da terra, os nossos poços,
olha quantos aqui, a céu aberto!
Não, não se bebe a água que eles dão:
devolvemo-la à terra novamente
para irrigar a areia amarga. "Então
para que escavá-los?" me perguntas.
Para que sejam periscópios, olha,
debruça-te comigo neste aqui:
com a lua em perpendicular verás
a insurreição das águas lá do fundo
indo como se fossem parte da maré.
A lua é clara e passa sem pegadas,
mas estas bocas côncavas da terra
sabem sugar um beijo à escuridão.
Ouve a água subir pela lareira...
Não, não se vê, é muito fundo o poço,
mas se ouve. um rumor de gargarejo,
um respirar que para na garganta.
Dá-me essa mão, a noite é pura lua
e eu quero a claridade dos teus olhos!
Começamos a volta à contramão
e a estrada é de uma alvura cicatriz,
vou em frente, não olho para os lados.
Sei que esta terra é um plantio de cruzes,
mas sei como evitar tantos sinais:
aquela é a chaminé de uma fornalha
há muito abandonada, e aquilo ali
é mais um poço que afundou no chão.
Tu não tens como vê-los, estrangeira:
reclina a nuca e dá-me a tua mão.
Tradução de Bruno Tolentino
Il filo di Arianna
Aspetta ancora un poco, facci caso:
l'attesa sa filare un lungo filo.
È segnato in un codice il tuo giro,
è stampato in un filo da filare.
No, non lo trovi già sgomitolato: l
o devi estrarre, come fanno i ragni,
dalle tue stesse ghiandole e filarlo
attraverso la testa: starci appeso
con tutto il corpo, come un impiccato.
Fila ogni giorno e non guardare in basso:
questo filo s'allunga col tuo peso
e in nessun caso lo puoi riannodare. L
o so che all'altro estremo lei t'attende,
ma ancora un poco lasciala aspettare.
Non dimenarti e non dare strattoni;
più si conficca e più fa male l'amo.
Secerni solo il filo che ti occorre
per non restare indietro alla corrente
ma, quando t'è contraria, dalle spago.
Fila il tuo tempo come cresce il grano,
apri grandi occhi liquidi nel mare:
c'è una ninfa elusiva in ogni anfratto,
gravi i pesci le vanno a visitare.
Pigliala larga, come fece Ulisse;
anche per lui Penelope filava.
Fila ogni nave, sola, la sua rotta
e dietro si richiude la sua traccia.
Districati dal filo ch'è già scorso,
resta attaccato al bandolo coi denti;
non puoi smarrirti in questo labirinto
fino a che hai dentro filo da filare.
Fila ogni giorno, ma un poco più piano,
torci bene le fibre ad una ad una;
s'intreccia e scambia in esse il tuo passaggio
su un ciglio dove manca spesso il piede,
è in esse ch'è racchiuso il tuo messaggio.
Nella cordata non c'è un capofila,
non tende un cieco ad un cieco la mano:
dall'essere al capire è un lungo giro,
c'è ancora un filo che ti può guidare.
Solo una volta t'è dato filarlo:
e quando un giorno ne verrai a capo,
lì troverai che il filo è terminato.
O fio de Ariadne
guarda um pouco, escuta o que te dizem:
a espera sabe como fia um fio.
Foi inscrito num código vazio
o teu giro, mas num fio ainda a fiar...
Não o hás de achar já desemaranhado:
como as aranhas, tu o irás buscar
às tuas próprias glândulas e em parte
fiá-lo na cabeça e pendurar-te
a ele, como o corpo do enforcado.
Fia-o todos os dias, mas cuidado,
não olhes para baixo! O fio é elástico,
teu peso estica-o e é fora de questão
dar-lhe de novo os nós que desfizeres.
Lá do outro lado esperam-te mulheres?
Deixa que esperem, elas te aguardarão.
Não te sacudas, não lhe dês puxões:
quanto mais o cravares, mais o anzol
te vai doer...Secreta o suficiente
para não te atrasares nas correntes,
se te forem contrárias dá mais linha.
Fia o teu prazo como cresce o grão
e abre olhos líquidos à luz marinha:
anfitriã dos peixes os mais graves,
há uma elusiva ninfa em cada fenda,
mas vai devagarinho, como a lenda
do Ulisses que Penélope fiava.
Fia a rota um navio, nunca o mar,
e atrás as marcas fecham-se na esteira.
Desembaraça-te dos fios idos
que se agarram aos novelos à maneira
dos dentes: não te cabe andar perdido
no labirinto, há fios por fiar!
Fia todos os dias, mas a um ritmo
mais reduzido, apura a tecelagem,
torce as fibras; trançando e transmutando
tua passagem (um fio de cabelo
a que te falta o pé), tua mensagem
inteira cabe ali. Quanto ao novelo,
não tem um fio mestre, nem a mão
de um cego guia a um outro: que do ser
ao entender é longa a procissão
e outro fio te pode socorrer.
Fiá-lo, uma só vez te será dado:
e se um dia chegares ao novelo,
verás que o fio já foi todo usado.
Tradução de Bruno Tolentino
Página publicada em dezembro de 2017
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