POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Foto e biografia: wikipedia
CHARLES WRIGHT
(born August 25, 1935) is an American poet. He shared the National Book Award in 1983 for Country Music: Selected Early Poems and won the Pulitzer Prize in 1998 for Black Zodiac. In 2014-2015 he was Poet Laureate of the United States.
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2 Número 3 – Rio de Janeiro Fevereiro 1994 - Fundação Biblioteca Nacional. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Three poems for the New Year
1
I have nothing to say about the way the sky tilts
Toward the absolute,
or why I live at the edge
Of the black boundary,
a continent where the waves
Counsel my coming in and my going out.
I have nothing to say about the brightness and drear
Of any of that, or the vanity
of our separate consolations.
I have nothing to say about the companies of held breath.
All year I have sung in vain,
Like a face breaking up in the font of holy water,
not hungry, not pure of heart.
ll year as my body, sweet pilgrimage,
moved from the dark to the dark.
What true advice the cicada leaves.
Três poemas para o Ano Novo
1
Nada tenho a dizer sobre o modo como o céu se volta
Para o absoluto.
ou por que vivo no limiar
Da fronteira negra,
continente onde as ondas Recomendam minha entrada e minha saída.
Nada tenho a dizer sobre o fulgor e a opacidade
De tudo isso, ou sobre a vaidade
de nossos confortos individuais.
Nada tenho a dizer sobre os companheiros contidos.
O ano todo cantei em vão,
Como um rosto desfeito na pia de água benta,
sem fome, sem pureza de coração.
O ano todo enquanto meu corpo, suave peregrinação,
se movia da treva para a treva.
Que verdadeiro conselho a cigarra deixa.
2
How strange it is to awake
Into middle age, Rimbaud left blue and out cold
in the snow,
the Alps wriggling away to a line
in the near distance,
someone you don't know
Coming to get your body, revive it, and arrange for the train.
How strange to awake to that,
The windows all fogged with breath,
The landscape outside in a flash,
and gone like a scarf
On the neck of someone else,
so white, so immaculate,
The deserts and caravans
Hanging like Christmas birds in the ice-dangled evergreens.
2
Como é estranho acordar
Na meia-idade, Rimbaud abatido e abandonado
Na neve,
os Alpes serpenteando numa linha
Ali perto,
alguém que você não conhece
Vem pegar seu corpo, reanimá-lo e providenciar o trem.
Como é estranho despertar para isto.
As janelas embaçadas pela respiração,
A paisagem lá fora num lampejo,
passando como um lenço
No pescoço de alguém,
tão branca, tão imaculada,
Desertos e caravanas
Suspensos como pássaros de Natal nas sempre-verdes
salpicadas de gelo.
3
All day at the window seat
looking out, the red knots
Of winter hibiscus deep in the foregreen,
Slick globes of oranges in the next yard,
Many oranges,
and slow winks in the lemon trees
Down the street, slow winks when the wind blows the leaves back.
The ache for fame is a thick dust and weariness in the heart.
All day with the knuckle of solitude
To gnaw on,
the turkey buzzards and red-tailed hawk
Lifting and widening concentrically over the field,
Brush-tails of the pepper branches
writing invisibly on the sky...
The ache for anything is a thick dust in the heart
3
dia todo sentado perto da janela
olhando para fora,
os nós vermelhos
Do hibisco de inverno no fundo do gramado em frente. Lustrosos globos de laranjas no terreno ao lado,
Muitas laranjas,
e lento pestanejar nos limoeiros
Pela rua, lento pestanejar quando o vento sopra as folhas
para trás.
A ânsia de fama é uma poeira espessa, um cansaço
no coração.
O dia todo com o peso da solidão
A corroer,
urubus-caçadores e gaviões de cauda vermelha
Se alçando ampliada e concentricamente sobre o campo. Eriçados ramos de pimenteira
escrevendo invisivelmente no céu...
A ânsia de alguma coisa é uma poeira espessa no coração.
Tradução de Júlio Castañon Guimarães
Página publicada em dezembro de 2017
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