POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
CHARLES BUKOWSKI
Henry Charles Bukowski Jr (nascido Heinrich Karl Bukowski; Andernach, 16 de agosto de 1920 — Los Angeles, 9 de março de 1994) foi um poeta, contista e romancista estadunidense nascido na Alemanha. Sua obra, de caráter inicialmente obsceno e estilo totalmente coloquial, com descrições de trabalhos braçais, porres e relacionamentos baratos, fascinou gerações que buscavam uma obra com a qual pudessem se identificar.
Nascido na Alemanha, filho do soldado teuto-americano Heinrich Bukowski e de Katharina (nascida Fett), aos três anos mudou-se para os Estados Unidos com seus pais. Foram inicialmente para Baltimore em 1923, depois para o subúrbio de Los Angeles. Com um pai extremamente autoritário e frustrado e uma mãe submissa, sofria, frequentemente, abusos físicos e psicológicos por parte de seu pai. Seus pais se conheceram em Andernach, na Alemanha, após a Primeira Guerra Mundial.
Na adolescência, surgiram inflamações que cobriram o rosto e toda a parte superior do corpo, fazendo-o submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua cidade. Na escola, a situação também não era das melhores, tendo poucos amigos e sendo, sempre, o penúltimo a ser escolhido para o time de beisebol. Por causa do tratamento médico, abandonou temporariamente a escola, voltando somente um ano depois. Neste meio tempo, descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar a sua vida suportável: o álcool e os livros.
Em 1939, começa a cursar jornalismo pela Los Angeles City college, ganha uma máquina de escrever de seu pai e logo se põe a escrever. Mas, por causa de seus escritos e contos, seu pai o expulsa de casa. Morando em pensões e sem emprego, desiste da faculdade de jornalismo. Com problemas com o alcoolismo, trabalhou em empregos temporários em várias cidades americanas como faxineiro, frentista e motorista de caminhão. Em 1952, consegue um emprego de carteiro. Com uma vida errante, bebe em excesso e escreve alucinadamente. Enviou seus trabalhos para as mais diversas editoras literárias independentes dos Estados Unidos, mas eles, quase sempre, eram recusados. A editora da revista Harlequin, Barbara Frye, no entanto, estava convencida de que Bukowski era um gênio.
Ver biografia completa em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Bukowski
POESIA BEAT. Org. Sérgio Cohn. Rio de Janeiro: Beco do AzougueEditorial, 2012. 215 p. ilus. (Azougue especial) Capa: Thiago Gonçalves.
Equipe Azougue: Anita Ayres, Barbara Ribeiro, Evelyn Rocha, Lariassa Ribeiro, Luciana Fernandes, Thaís Almeida, Tiago Gonçalves e Wellington Portella. Ex. bibl. Antonio Miranda
Poemas do livro The pleasures of the damned (2008)
traduzidos por SERGIO COHN:
NO HELP FOR THAT
there is a place in the heart that
will never be filled
a space
and even during the
best moments
and
the greatest times
we will know it
we will know it
more than
ever
there is a place in the heart that
will never be filled
and
we will wait
and
wait
in that space.
SEM CHANCE DE AJUDA
existe um lugar no coração que
nunca será preenchido
um espaço
e mesmo durante os
melhores momentos
e
os melhores tempos
nós saberemos
nós saberemos
mais do que
nunca
existe um lugar no coração que
nunca será preenchido
e
nós iremos esperar
e
esperar
nesse
lugar
BLUEBIRD
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the works?
you want to blow my book sales in Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
AZULÃO
tem um pássaro em meu coração
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo, fica aí dentro, eu não vou
deixar ninguém ver você.
tem um pássaro em meu coração
que quer sair
mas eu jogo uísque nele e
fumaça de cigarro
e as putas e o balconista
e as caixas do mercado
nunca sabem que
ele está
aqui dentro.
tem um pássaro em meu coração
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo,
fica na sua, você quer me
meter em encrenca?
você quer destruir minha
obra?
acabar com a venda de meus livros
na Europa?
tem um pássaro no meu coração
que quer sair
mas eu sou mais esperto, só deixo ele passear
de noite às vezes
quando todos estão dormindo.
eu falo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
daí o coloco de volta
mas ele ainda canta um pouco
aqui dentro, eu não o deixo morrer
de vez
e a gente dorme junto
assim
com nosso
pacto secreto
e isto é suficiente
para fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?
Página publicada em outubro de 2020
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