POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
C. DAY LEWIS
C. Day-Lewis, in full Cecil Day-Lewis, (born April 27, 1904, Ballintubbert, County Leix, Ire.—died May 22, 1972, Hadley Wood, Hertfordshire, Eng.), one of the leading British poets of the 1930s; he then turned from poetry of left-wing political statement to an individual lyricism expressed in more traditional forms.
The son of a clergyman, Day-Lewis was educated at the University of Oxford and taught school until 1935. His Transitional Poem (1929) had already attracted attention, and in the 1930s he was closely associated with W.H. Auden (whose style influenced his own) and other poets who sought a left-wing political solution to the ills of the day. Typical of his views at that time is the verse sequence The Magnetic Mountain (1933) and the critical study A Hope for Poetry (1934).
Day-Lewis was Clark lecturer at the University of Cambridge in 1946; his lectures there were published as The Poetic Image (1947). In 1952 he published his verse translation of Virgil's Aeneid, which was commissioned by the BBC. He also translated Virgil's Georgics (1940) and Eclogues (1963). He was professor of poetry at Oxford from 1951 to 1956. The Buried Day (1960), his autobiography, discusses his acceptance and later rejection of communism. Collected Poems appeared in 1954. Later volumes of verse include The Room and Other Poems (1965) and The Whispering Roots (1970). The Complete Poems of C. Day-Lewis was published in 1992.
At his death he was poet laureate, having succeeded John Masefield in 1968. Under the pseudonym of Nicholas Blake he also wrote detective novels, including Minute for Murder (1948) and Whisper in the Gloom (1954).
Source: www.britannica.com
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Extraído de
POESIA SEMPRE - Ano 6 – Número 9 - Rio de Janeiro - Março 1998. Fundação BIBLIOTECA NACIONAL – Departamento Nacional do Livro - Ministério da Cultura. Ex. bibl. Antonio Miranda
Nearing Again the Legendary Isle
Nearing again the legendary isle
Where sirens sang and marines were skinned,
We wonder now what was there to beguile
That such stout fellows left their bones behind.
Those chorus-girls are surely past their primes
Voices grow shrill and paint is wearing thin,
Lips that sealed up the sense from gnawing time
Now beg the favour with a graveyard grin.
We have no flesh to spare and they can't bite,
Hunger and sweat have stripped us to the bone;
A skeleton crew we toil upon the tide
And mock the theme-song meant to lure us on:
No need to stop the ears, avert the eyes
From purple rhetoric of evening skies.
Revendo agora a ilha legendária
Revendo agora a ilha legendária
De cantos e sereias e de morte,
Pergunto o que a fazia temerária
E aos marinheiros perderem o Norte...
Essas coristas já são bem senhoras...
Cai a pintura, o som da voz é bruto,
Os lábios que beijavam contra as horas
Torcem-se agora ao favor de um minuto.
Já não podem morder. E a nós, gravetos,
Fome e trabalho já nos assediam
Somos uma equipagem de esqueletos
Zombando da canção que nos enviam:
Vamos olhar, sem que nos acovarde,
A retórica púrpura da tarde.
Tradução de Jorge Wanderley
The Album
I see you, a child
In a garden sheltered for buds and playtime,
Listening as if beguiled
By a fancy beyond your years and the flowering maytime.
The print is faded: soon there will be
No trace of that pose enthralling,
Nor visible echo of my voice distantly calling
'Wait! Wait for me!'
Then I turn the page
To a girl who stands like a questioning iris
By the waterside, at an age
That asks every mirror to tell what the heart's desire is.
The answer she finds in that oracle stream
Only time could affirm or disprove,
Yet I wish I was there to venture a warning, 'Love
Is not what you dream.'
Next you appear
As if garlands of wild felicity crowned you — Courted, caressed, you wear
Like immortelles the lovers and friends around you.
'They will not last you, rain or shine,
They are but straws and shadows',
I cry: 'Give not to those charming desperadoes
What was made to be mine.'
O álbum
Anda criança, eu a vejo
No meio de um jardim protegido, feito de rosas e brincadeiras.
Parece escutar algo, como se fascinada
Por um capricho inacessível aos seus anos
E àquele maio florido. A foto está quase apagada: logo Não haverá vestígio daquela pose encantadora Nem nenhum eco visível
Da minha voz chamando, já longe:
"Espere! Espere por mim!"
Viro a página
Para uma menina parada como uma iris Que se indaga, ao lado d'água, numa idade
Que suplica a cada espelho que lhe diga Qual o verdadeiro desejo do coração. Apenas o tempo poderá aprovar ou não
A resposta que ela encontra no riacho-oráculo,
No entanto eu gostaria de estar ao seu lado
Para arriscar um aviso: "O amor
Não é como em seus sonhos."
Agora você aparece
Como se guirlandas de uma felicidade selvagem a coroassem
— Cortejada, acariciada, você veste
Como lauréis os amantes e amigos que ao seu redor gravitam.
"Eles não permanecerão, faça chuva ou sol,
Não são mais que palhas e sombras",
Eu grito: "Não ofereça a estes elegantes bandidos
O que é meu por direito."
Tradução de Renato Rezende
The Poet
For me there is no dismay
Though ills enough impend.
I have learned to count each day
Minute by breathing minute —
Birds that lightly begin it,
Shadows muting its end —
As lovers count for luck
Their own heart-beats and believe
In the forest of time they pluck
Eternity's single leaf.
Tonight the moon's at the full.
Full moon's the time for murder.
But I look to the clouds that hide her-
The bay below me is dull,
An unreflecting glass —
And chafe for the clouds to pass,
And wish she suddenly might
Blaze down at me so I shiver
Into a twelve-branched river
Of visionary light.
For now imagination,
My royal, impulsive swan,
With raking flight — I can see her •
Comes down as it were upon
A lake in whirled snow-floss
A
nd flurry of spray like a skier
Checking. Again I feel
The wounded waters heal.
Never before did she cross
My heart with such exaltation.
Oh, on this striding edge,
This hare-bell height of calm
Where intuitions swarm
Like nesting gulls and knowledge
Is free as the winds that blow,
A little while sustain me,
Love, till my answer is heard!
Oblivion roars below,
Death's cordon narrows: but vainly,
If I've slipped the carrier word.
Dying, any man may
Feel wisdom harmonious, fateful
At the tip of his dry tongue.
All I have felt or sung
Seems now but the moon's fitful
Sleep on a clouded bay,
Swan's maiden flight, or the climb
To a tremulous, hare-bell crest.
Love, tear the song from my breast!
Short, short is the time.
O Poeta
Para mim não existe espanto
Apesar dos danos iminentes.
Aprendi a contar cada dia
Minuto por minuto presente —
Pássaros que o inauguram levemente,
Sombras silenciando o seu fim —
Como os amantes contam como verdade
Seus próprios suspiros, e crêem
Que colhem na floresta do tempo
A única folha da eternidade.
Esta noite a lua está mais cheia.
Lua cheia é tempo de morte.
Mas olho apenas para as nuvens que a escondem
Abaixo de mim a baía está opaca,
Um espelho que não responde —
E me impaciento para que logo passem,
E desejo que a lua de repente possa
Resplandecer sobre mim; então eu tremo
E me faço um rio de doze braços
De luz visionária.
Por agora a imaginação
Meu nobre e impulsivo cisne,
Como seu vôo libertino — posso vê-la —
Pousa leve, um esquiador sobre
Um lago em redemoinho de neve
E lufadas de espuma.
Outra vez sinto
A cura da água tocada.
Nunca antes ela cruzou
Meu coração com tamanha exaltação.
Oh, sobre essa orla que rápida caminha,
A calma da altura de uma campânula
Onde intuições se agitam
Como gaivotas em ninhos, e o conhecimento
E livre como o vento que sopra,
Por um momento me sustente,
Amor, até que seja ouvida minha resposta!
Logo abaixo o esquecimento ruge,
O cordão da morte se estreita: mas em vão
Se eu escapo do mundo que nos leva.
Morrendo, qualquer homem pode
Sentir uma sabedoria harmoniosa, fatal
Na ponta de sua língua insossa.
Tudo o que tenho sentido ou cantado
Parece agora apenas o sono errático
Da lua sobre uma baía nublada,
O voo da cisne fêmea, ou a escalada
Ao trêmulo topo de uma campânula.
Amor, arranca o canto do meu peito!
Tradução de Renato Rezende
Página publicada em janeiro de 2018
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