POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
BERNARD NOËL
Bernard Noël , nascido em 19 de novembro de 1930 em Sainte-Geneviève-sur-Argence ( Aveyron ), é poeta , escritor , ensaísta e crítico da arte francesa .
Ele também publicou um livro sob o nome Urbain Plume d'Orlhac.
Notado em 1958, desde a publicação de seu primeiro livro de poesia, Extraits du corps , Bernard Noël aguarda nove anos antes de publicar seu segundo livro La Face de silêncio (1967).
Originalmente publicado sob o pseudônimo (Urbain d'Orlhac) de Jérôme Martineau em 1969 , então em 1971 (desta vez sob seu nome real) de Jean-Jacques Pauvert , Le Château de Cène ganhou em 1973 um julgamento por moral insultante.
Após este julgamento, e por iniciativa de Jean-Jacques Pauvert , Noël escreveu em 1975 um texto intitulado L'Outrage aux mots .
Poeta, escritor, ensaísta, crítico de arte, sua amizade para pintores e seu gosto pela pintura o levaram a colaborar na produção de muitos livros de artistas e, mais recentemente, para ilustrar um pouco a ele próprio.
Aclamado, entre outros, por Louis Aragon , André Pieyre de Mandiargues , Yves Bonnefoy , Claude Esteban , Michel Polac , Philippe Sollers , Jacques Derrida e Maurice Blanchot O trabalho de Bernard Noël faz da poesia seu princípio unificador.
Ele dirigiu a coleção Textes de Flammarion em que foram publicados Claude Ollier , Marc Cholodenko , Jean-Claude Montel , William Carlos Williams e EE Cummings .
A "sensação" é uma noção construída por Bernard Noël em seu texto The Outrage aux mots , escrito e publicado em 1975. Indica a privação do significado, não em relação ao nervo sensorial, mas em relação ao significado de uma palavra ( compreensão, extensão, significado). Esta palavra é o homofono da censura , que é a privação do discurso.
Fonte (traduzida): wikipedia
TEXTOS EM FRANCÊS - TEXTOS EM PORTUGUÊS
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia. ANO 3 – NÚMERO 5 – FEVEREIRO 1995. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1995. Ex. bibl. Antonio Miranda
La chute des temps
La nuit longtemps dévouée à la nuit
Tout à coup se poursuit dans l'ombre
et devient l'azur.
Pierre Jean Jouve
à Emmanuel Hocquard
Chant Un
(fragment)
Qui
et de ce mot lancé
est-ce vers toi ou bien vers qui
la vieille plainte déchire
chacun confond le sang et le savoir
il y a fuite d'avenir
ô les dents
et derrière elles ces lèvres de vent
où va et vient lè goût du présent
le compte n'y est plus qui faisait le jour
la lumière penche et
là-haut vient le bleu terrible
nul n'est sûr à soi-même
la faulx est dans le cœur cachée
et que veux-tu si la beauté
tient au passé toujours c'est
comme le pied à la chaussure
nous admirons ceux qui ne peuvent pas mourir
car ils sont la nature que nous ne sommes pas
et gardée malgré le désir
qui
qui donc voudrait
sentir sur la peau de ses yeux
autre chose que le vide du monde
l'aile a le même besoin
d'abîme et nous passons dans
l'air oubliant
que la vérité se tue elle-même
il y a
trop de doigts sur les choses
les mots n'en reviennent pas
deuil sale et
on t'avait dit de prendre garde
le souffle remue la langue
il nous reste un mur là-bas
de pierres aériennes et ce cadre obscur
qu'on appelle vie
mais qui
devine en l'incessant passage
la substance même de l'intimité
et qui
peut rire à la folie du reflet mortel
je est un écho
il roule sous le crâne
et qui l'a dit
la voix ne ressemble à rien
elle est le tremblement de la chair molle
sa fragilité faite invisible l'homme
s'oublie dans cette fumée d'air
il imagine et voit l'imaginé
il est une fois
desserre ta gorge
une goulée de temps est douce
dans le tombeau suinte une source
et l'herbe as-tu dit fait revenir les morts
au jour
trop d'ongles cherchent nos yeux
la tête est lasse d'être en haut
elle regrette le singe mais quoi
l'amour est le côté beurré
de la condition je me souviens
d'une chambre toute neuve et tu
disais la mémoire met des draps
blancs aux lits qui ne serviront plus
le linge sale vaut mieux pour le futur
et même pour le mystère et même
pour la poésie
qui ne va si souvent
à la ligne que pour souiller plus vite
et par saccades
qui est blanc
j'aime disais-tu j'aime tellement
être le contraire de ce que je fus
cela me déleste des idées que j'ai eues
cela m'aide à gaspiller mon nom...
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La nuit longtemps dévouée à la nuit
Tout à coup se poursuit dans l'ombre et devient l'azur.
Pierre Jean Jouve
à Emmanuel Hocquard
Canto Um
(fragmento)
Quem
é sobre essa palavra lançada
é para ti ou para quem
a velha queixa rasga
cada quai confunde o sangue e o saber
há fuga de futuro
ó os dentés
e por detrás lábios de vento
onde o gosto do presente vai e vem
sem a soma que fazia o dia
a luz pende e
lá no alto vem o azul terrivel
ninguém é para si seguro
a foice está no coração oculta
e que se hâ de fazer se a palavra
agarra-se ao passado sempre é
como o pé ao sapato
admiramos os que não podem morrer
porque eles são a natureza que não somos
beijo algum há de levar a boca oferecida
e mantida apesar do desejo
quem
quem haveria de querer sentir
sobre a pele dos olhos
outra coisa que não o vazio do mundo
a asa tem a mesma necessidade
do abismo e passamos
no ar esquecidos
de que a verdade mata-se a si mesma
há
dedos demais sobre as coisas
as palavras ficam atónitas
o luto suja
e te avisaram de que tomasses cuidado
a respiração desaquieta a língua
resta-nos mais além uma parede
de pedras aéreas e esse quadro obscuro
a que chamamos vida
mas quem
na incessante passagem adivinha
a própria substância da intimidade
e quem
enlouquece de rir do reflexo mortal
eu é um eco
e rola sob o crânio
e quem o disse
a voz não faz nenhum sentido
ela é como o tremor da carne flácida
sua fragilidade tomada invisível
o homem se esquece na fumaça assim do ar
ele imagina e vê o imaginado
e uma vez
descerra a garganta
um gole de tempo é doce
no túmulo vasa uma fonte
e a relva disseste traz de volta os mortos
à luz do dia
unhas demais buscam-nos os olhos
a cabeça cansou-se de andar lá por cima
saudosa do macaco sim mas e daí
o amor é o lado em que se passa a manteiga
da condição lembro-me bem
de um quarto novinho e de ti
dizendo a memória põe lençóis brancos
nas camas que já não prestam mais
ao futuro mais vale a roupa suja
e até mesmo ao mistério e até
à poesia
que o mais das vezes não vai aos varais
senão para sujar-se mais depressa
sacada após sacada
quem é branco
gosto dizias gosto muito mesmo
de ser o contrário daquilo que fui
livra-me das ideias que ainda tinha
ajuda-me a esbanjar meu nome...
Tradução de Bruno Tolentino
... les mots crèvent au ras de ma peau. Le regard est fixe. Le buste est un assemblage d'éléments mobiles et d'éléments immobiles. Les gestes se poursuivent à l'intérieur de la poitrine, comme les cercles sur l'eau. Et le cou se prolongue loins dans le corps. C'est depuis l'estomac qu'a poussé l'arbre qui empale ma gorge. Il monte jusque dans mes narines. Un court-circuit coupe le courant des neris dans ma nuque. Ma tête se penche vers un lac d'argent lisse, qui tout à coup s'éparpille dans l'espace comme un bac de mercure. On me trépane pendant que mes jambes s'allongent, s'allongent, perçant des nuages. D'un côté, il fait mal; de l'autre, il fait nuit. Entre les deux, une hélice tourne dans le ventre, et l'air reflue vers ma bouche... J'ai la gorge pleine de plumes. Je crache des cellules...
... as palavras morrem-me junto à pele. O olhar é fixo. O busto um amálgama de elementos móveis e imóveis. Os gestos perseguem-se dentro do peito, como os círculos na água. E o pescoço prolonga-se para além do corpo. Foi desde o estômago que me cresceu a árvore que me entala a garganta. Sobe até minhas narinas. A cabeça me pende sobre um liso lago de prata, a estilhaçar-se de repente como uma gota de mercúrio. Dão-me por morto enquan¬to minhas pernas se alongam e alongam atravessando nuvens. De um lado é dor, do outro é noite. Entre os dois roda-me uma hélice no ventre e o ar invade-me a boca... Tenho a garganta repleta de plumas. Cuspo células...
Tradução de Bruno Tolentino
Página publicada em janeiro de 2018
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