| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS 
 
   ATTILIO BERTOLUCCI   Attilio Bertolucci (San Prospero  Parmense, 18 novembre 1911 – Roma, 14 giugno 2000). Attilio  Bertolucci, um dos maiores poetas italianos da atualidade, morreu ontem em Roma  aos 89 anos. Pai dos cineastas Bernardo e Giuseppe, Bertolucci estava em sua  casa. Natural  de Parma, o escritor estreou na literatura com a obra "Siri", em  1929. Após a Segunda Guerra Mundial, ele se mudou para Roma, onde começou a  trabalhar no mercado editorial. Os  temas preferidos de Bertolucci eram a família e os campos da Itália. Ele também  escreveu poemas em homenagem à sua mulher, Ninetta Giovanardi. Extraído de   POESIA  SEMPRE.  Revista  Semestral de Poesia..   Ano 3 – Número 6 – Fevereiro  1995.           Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca  Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro.   ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda    Il segreto    Dopo  un settembre così quieto e lucido di  sereno, così ardente nelle ore di  mattino e di mezzogiorno, da  gonfiare di polpa le castagne sino  ad arrotondarne i ricci in una promessa  di raccolta che memoria d'uomo  qui non ricorda, è venuto il  tempo delle piogge sottili, senza fine, della  caccia, delle ultime fiere di  quest'anno che va morendo: tutto e  tutti si preparano all'inverno, la  legna è già impilata, spaccarla sarà  una fatica piacevole che scalda e  fa venire fame nei giorni dopo  la prima neve alla cui luce intatta,  non più distanti si scorgono Natale  Fine Principio Epifania. L'inverno  rovinante, fangoso, si  mischierà con una nuova primavera fredda,  bagnata e sporca: marzo è  un mese di vecchi e di bambini che  se ne vanno, i loro occhi deboli, i  loro deboli cuori non possono reggere alle  lune stregate dell'estate prossima,  che macchierà di fiori azzurri e  rosa gli avvallamenti, i grembi di  una tiepida semenza nuziale.       O segredo   Depois de um setembro  tão quieto e lúcido de sereno, tão ardente  nas horas da manhã e do meio-dia, de encher de polpa as  castanhas até a arredondar-lhe os  espinhos em uma promessa de colheita que a memória humana  aqui não se lembra, veio o tempo das chuvas  finas, sem fim, da caça, das últimas  feiras deste ano que vai  morrendo: tudo e todos se preparam para  o inverno, a lenha já está  empilhada, parti-la será uma fatiga  prazerosa que esquenta e provoca a fome nos  dias que seguem à primeira  neve a cuja luz intacta, próximos se  entreveem Natal Fim Princípio  Epifania. O inverno ruivoso,  lamacento, se mesclará com uma nova  primavera fria, molhada e suja:  março é um mês de velhos e de  crianças que se vão, os seus  olhos frágeis os seus frágeis corações  não podem aguentar os luares encantados do  verão próximo, que manchará de  flores azuis e rosa as curvas, os  regaços de uma tépida semente  nupcial.                      Tradução de Silvano  Peleso     Aprile sul  suo finire, quando le avanguardie floreali della nuova stagione
 non reggendo all'ardore dei soli imminenti
 scelgono di morire,
 d'immolarsi  (in nome delle virtù di cui sono colorati i grappoli dolciastri del glicine)
 per lastricare di vergine lilla i viali parmigiani.
 In questo breve
 passaggio  alànese delle rose facili a sfogliarsi, in  questo periodo che verrà senza  sangue abraso dalla memoria di tutti, essi escono  così presto, tornano così tardi, intraprendendo  ognuno un viaggio diverso Centro  della città — casa posta nel  centro della città — quante vie stellarmente  si diramano da te offrendo una  scelta infinita per  i freschi inurbati, decisi agli  imprevisti eccitanti di una storia personale. Anche  tu riluttante, uscito in  cerca d'un  plein air privilegiato capace di  medicare le ferite che ti segnano (a  tale fine i tuoi occhi scrutano ansiosi intomo), incontrerai  l'avventura d'una giornata, mentre il  destino già s'accorcia e striscia sul  selciato umido di sole dietro  quelli che la notte dormono presso di te nelle  stanze comunicanti attraverso una finzione di rose?       Abril terminando, quando as  vanguardas florais da nova estação não  aguentando o ardor dos sóis iminentes escolhem  morrer, imolando-se  (em nome da virtude deque são coloridos os cachos adocicados da glicínea
 para lajear de lilás virgem as alamedas de Parma.
 Nesta breve
 passagem ao  mês das rosas fáceis de se desfolharem neste período que virá sem sangue  cancelado da memória de todos, eles
 saem tão  cedo, voltam tão tarde, realizando  cada um uma viagem diversa. Centro da  cidade — casa posta no centro da  cidade — quantas vias estelarmente  se irradiam de ti, oferecendo uma escolha  infinita para os  recém-chegados, preparados para os  imprevistos excitantes de uma história pessoal. Você também  relutante, saído em busca de um plein air privilegiado capaz de medicar  as feridas que te marcam (a tal fim  os teus olhos perscrutam ansiosos em torno) encontrarás  a aventura de um dia, enquanto o destino já  se encolhe e desliza no  calçamento úmido de sol por trás  daqueles que à noite dormem junto de você nos quartos  que se comunicam através de uma ficção de  rosas?
   Tradução  de Silvano Peleso       Lascio,  io, umile estensore di annali, copista di giornate, che maturi e muoia l'anno,
 che ne
 nasca  un altro. Ecco, marzo ha  speso il suo patrimonio febbrile di  violette, fiori  di passaggio fra inverno e primavera che  hanno assorbito nel  gambo vacillante e nel volto ombrato gli  umori delle nevi ultime, di giorni  dubitosi, di una stagione incerta. Sta  per cominciare un  bel tempo deciso — sulle  torrette delle ville aperte è  aspettato come  nei nidi del cucù o  nelle umiliate  colombaie dei famigli da spesa — gli occhi già cercano fiaccati dall'attesa
 i  suoi cieli di seta azzurra e bianca. È necessario che nel mese, e quasi
 nel  giorno anniversario, della fondazione, si sacrifichi
 un  figlio della fazione vincente. Il sangue del "martire' fregerà il gagliardetto appuntito,
 gli darà un nome.
       Deixo, eu, humilde estensor de anais, copista de jornadas, que mature e morra o amor,
 que
 nasça  outro. Pronto, março gastou o seu patrimônio febril
 de violetas,
 flores  de passagem entre inverno e primavera que  absorveram no  caule vacilante e no vulto sombrio os  humores das últimas neves, de dias  duvidosos, de uma estação incerta. Está  para começar um  tempo belo e decidido — nas  torrezinhas das casas abertas é  esperado como  nos ninhos do cuco ou nos
 humilhados  pombais dos servidores miúdos — os  olhos já buscam cansados da espera os  seus céus de seda azul e branca. É  necessário que no mês, e quase no  dia aniversário da fundação, se  sacrifique um  filho da facção vencedora. O sangue do "mártir" enfeitará o galhardete pontudo
 e lhe dará um nome.
                               Tradução de Silvano Peleso           Página publicada em  dezembro de 2017 
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