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ARSENI TARKOVSK
Arseny Alexandrovich Tarkovsky (Арсений Александрович Тарковский, em russo; Elisavetgrad, 24 de Junho de 1907 — Moscou, 27 de Maio de 1989) foi um poeta e tradutor russo, pai do conhecido realizador Andrei Tarkovsky.
Tarkovsky nasceu em Elisavetgrad, Império Russo (atualmente Kropyvnytskyi, Ucrânia). Seu pai, Aleksandr Tarkovsky (em polonês: Alexander Tarkowski) era um bancário, revolucionário russo (Narodnik) e ator amador de origem polonesa, e sua mãe era Maria Danilovna Rachkovskaya.
Em 1921, Tarkovsky e seus amigos publicaram um poema que continha um acróstico sobre Lenin. Eles foram presos e enviados para Nikolayev para serem executados. Tarkovsky foi o único que conseguiu escapar.
Em 1924, mudou-se para Moscou, e de 1924 a 1925 trabalhou para um jornal para trabalhadores ferroviários chamado "Gudok", onde conseguiu uma seção editorial escrita no verso. Entre 1925 e 1929 estudou literatura na universidade em Moscou. Na época, traduzia poesia dos seguintes idiomas: turcomano, georgiano, armênio e árabe.
Durante a Segunda Guerra Mundial, voluntariou-se como correspondente de guerra no jornal de guerra Boevaya Trevoga. Feriu-se em ação em 1943. A ferida na perna causou gangrena gasosa e Tarkovsky teve que sofrer seis amputações graduais.
POESIA SEMPRE. Ano 7 Número 10 abril 1999 – Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1999. Editor Geral: Antonio Carlos Secchin. A edição inclui uma seção especial de Poesia Russa, organizada por Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
1
Não acredito em presságios e maus agouros. Não temo. De mentira nem veneno Eu não fujo. Não há morte na Terra. Todos são imortais. Tudo é imortal.
Não se deve Temer a morte nem aos dezessete anos, Nem aos sessenta. Existe somente o real e a luz, Não há escuridão, não há morte neste mundo. Estamos todos na beira do mar. Eu sou daqueles que retiram as redes Quando a imortalidade passa.
2
More na casa — a casa não cairá. Eu evocarei qualquer um dos séculos, Nele entrarei e uma casa construirei. Por isso seus filhos estão comigo E suas esposas estão à mesma mesa — E a mesa é uma só para o bisavô e o neto: O futuro acontece agora E se eu levanto a mão, Todos os cinco raios ficaram com vocês. Cada dia passado como escora. Com minhas clavículas sustentei, Medi o tempo com a corrente do agrimensor E por ele passei como através dos Urais.
3 Escolhi um século à minha altura. Fomos para o sul, levantamos poeira na estepe; O capim fumegou; o grilo brincou, Tocou as ferraduras com seu bigode e profetizou, Ameaçou-me de morte como um monge. Prendi meu destino à sela; Também agora, em tempos futuros, Como um menino levanto-me nos estribos.
Para mim a minha imortalidade basta, Para meu sangue fluir de século em século. Por um canto quente e seguro Eu pagaria com a vida prontamente, Quando sua agulha esvoaçante Não me guiasse como uma linha pelo mundo.
Nas manchas da luz, no caos das linhas: Encontrei-me como um irmão encontra um irmão: O besouro festeja bem no miolo Da rosa das quatro coordenadas.
Não sei quem sou e de onde vim, Onde fui concebido — no paraíso ou no inferno — Sei somente que por esse milagre A minha imortalidade entrego.
Nada lembra a pátria Remexendo as pétalas do universo A quinta coordenada do mundo É uma alma consciente.
Tradução de Zoia Prestes
Página publicada em abril de 2018