POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Biografia: wikipedia
AMY CLAMPITT
(1920 – 1990)
Seleção de poemas por Mark Strand.
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2 Número 3 – Rio de Janeiro Fevereiro 1994 - Fundação Biblioteca Nacional. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Meridian
First daylight on the bittersweet-hung
sleeping porch at high summer : dew
all over the lawn, sowing diamond-
point-highlighted shadows :
the hired man's shadow revolving
along the walk, a flash of milkpails
passing : no threat in sight, no hint
anywhere in the universe, of that
apathy at the meridian, the noon
of absolute boredom: flies
crooning black lullabies in the kitchen,
milk-soured crocks, cream separator
still unwashed : what is there to life
but chores and more chores, dishwater,
fatigue, unwanted children : nothing
to stir the longueur of afternoon
except possibly thunderheads :
climbing, livid, turreted alabaster
lit up from within by splendor and terror
— forked lightning's
split-second disaster.
Meridiano
Primeira luz do dia
sobre o sonolento alpendre
com trepadeiras pendentes
e é pleno verão: orvalho
por todo o gramado semeando
imagens pontilhadas de diamantes -
a sombra do homem trabalhador
movendo-se ao longo do caminho
passeia nos baldes de ordenha
nenhuma ameaça à vista,
nenhuma mudança no universo
dessa apatia meridiana, o meio-dia
de absoluto tédio: o voo de moscas
entoando cantigas negras de ninar,
na cozinha potes de leite com ranço,
a desnatadeira ainda por lavar:
o que é a vida senão tarefas
e mais tarefas, a água da louça, fadiga,
crianças indesejadas
nada para mexer com a lassidão da tarde
exceto pelas nuvens de tempestade
lívidas e escalantes torres de alabastro
iluminadas desde dentro
pelo esplendor e o terror
— o desastre instantâneo
de um relâmpago bifurcado.
Tradução de Denise Emmer
The subway singer
Survivor and unwitting
public figure — a gaunter one
since with her cane, accordion
and cup, I last saw her
tap her hard way along
the hurled col, with its serial
crevasses, of an IRT train,
and heard the cracked bell
of her battered alto rung
again above the grope and jostle,
the knee-jerk compunction
of the herd at the faint signal
it's all but past hearing,
from beyond the ashen
headland, the mist-shrouded
hollows of her lifted
sightlessness - seen waiting
now on the platform, as it were
between appearances, a public figure
shrunken but still recognizable,
she links in one unwitting
community how many who have hard
and re-heard that offering´s fall
towards the poorbox of oblivion?
A cantora do metro
Sobrevivente e desolada
figura pública - macilenta
desde que, com sua bengala, acordeão
e pires, eu a vi pela última vez
tateando seu duro caminho
como se numa íngreme montanha estivesse
abismos de um trem do metrô
onde escutei o seu contralto rascante
a sua voz soava vacilante
acima do burburinho popular
no constrangimento alienante
do rebanho ao tênue sinal
era tudo quase inaudível
o que chegava de um promontório pálido
das cavidades frias de sua face
às nebulosas de sua cegueira extrema
vista agora esperando
na plataforma, como se no intervalo
entre dois recitais tão absurdos
aquela figura encolhida, mas presente
que reúne uma multidão de inconscientes
quantos são os que ouvirem e ouvirem
o som do úbulo descend
pela surda caixa do esquecimento.
Tradução de Denise Emmer
Portola Valley
A dense ravine, no inch
of which was level until
some architect niched in this
shimmer of partition, fishpond
and flowerbed, these fording —
stones unwalled steep staircase
down to where (speak softly) you
take off your shoes, step onto
guest-house tatami matting,
learn to be Japanese.
There will be red wine,
artichokes, and California
politics for dinner; a mocking —
bird may whisper, a frog rasp
and go kerplunk, the shifting
inlay of goldfish in the court —
yard floor add to your vertigo;
and deer look in, the velvet
thrust of pansy faces and vast
violet-petal ears, inquiring,
stun you without a blow.
Portola Valley
A densa ravina imóvel
repousa em seu equilíbrio
até que um arquiteto local
vislumbre as calmas partilhas
lago de peixes, canteiro de flores,
pedras que descem a íngreme escada
onde você (fale baixo)
tira os sapatos e pisa
em um tatame aprendendo
assim a ser japonês.
Haverá vinho tinto
alcachofras e política
californiana ao jantar, sussurros
de um pássaro, um sapo coaxa
e pula na água, a dança de roda
dos peixes dourados no fundo do pátio
lhe causa vertigem ;
e o cervo percebe as múltiplas faces
de amor-perfeito; e muitas orelhas
de pétalas-violeta indagam
e assombram sem um golpe sequer.
Tradução de Denise Emmer
Página publicada em dezembro de 2017
|