POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS
Biografia e foto: wikipedia
ALLEN GINSBERG
Irwin Allen Ginsberg foi um escritor, poeta estadunidense, filósofo e ativista. Ele é considerado como uma das principais figuras da Geração Beat nos anos 50, junto com Jack Kerouac e William S. Burroughs e da contracultura que se seguiu depois disso. Ficou conhecido pelo seu livro de poesia Uivo e Outros Poemas.
Nascimento: 3 de junho de 1926, Newark, Nova Jersey, EUA
Falecimento: 5 de abril de 1997, East Village, Nova Iorque, Nova York, EUA
DUAS PALAVRAS: Uma publicação da Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa. Belo
Horizonte, MG; 1983-
v. 1- No. 0-Out. 1983- Ex. bibl. Antonio Miranda
GINSBERG, Allen. Uivo. Kaddish e outros poemas. Tradução, seleção e notas de Claudio Willer. Porto Alegre, RS: L&PM, 1999.208 p. 11 x 18 cm. (Coleção L&PM Pocket) Capa: Marco Cena. ISBN 85.254.1022.3. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Canção
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano —
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
— não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:
o peso é demasiado
— deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho —
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar ao corpo
em que nasci.
O Fim
Eu sou Eu, velho Pai Olho de Peixe que procriou o oceano,
o verme no meu próprio ouvido, a serpente enrolada
na árvore,
Eu me sento na mente do carvalho e me oculto na rosa,
eu sei se alguém desperta, ninguém a não ser minha
morte,
vinde a mim corpos, vinde a mim profecias, vinde a mim
agouros, vinde espíritos e visões,
Eu recebo tudo, eu morro de câncer, eu entro no caixão
para sempre, eu fecho meu olho, eu desapareço,
Eu caio sobre mim mesmo na neve de inverno, rolo em
uma grande roda pela chuva, observo a convulsão
dos que fodem,
carros guincham, fúrias gemem sua música de fagote,
memória apagando-se no cérebro, homens imitando
cães,
Eu gozo no ventre de uma mulher, a juventude estendendo
seus seios e coxas para o sexo, o caralho pulando para
dentro
derramando sua semente nos lábios de Yin,166 feras dançam
no Sião, cantam ópera em Moscou,
meus garotos excitados ao crepúsculo nas varandas, chego a
Nova York, toco meu jazz num Clavicórdio de Chicago,
Amor que me engendrou eu retorno a minha Origem sem nada
perder, eu flutuo sobre o vomitório
empolgado por minha imortalidade, empolgado por essa
infinitude na qual aposto e a qual enterro,
vem Poeta, cala-te, come minha palavra e prova minha
boca em teu ouvido. NY, 1960
Nota
Yin - o princípio "feminino", "passivo", da cosmogonia do Taoísmo chinês, contraposto ao Yang, princípio "masculino"; representam Terra e Céu. O Tao é um círculo, a roda que gira graças ao confronto dessas duas instâncias.
Página publicada em junho de 2019
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