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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

 

NEMESIANO

(  Império Romano  )

 

Sabemos pouco sobre a vida de Marco Aurélio Olimpio Nemesiano, mas era provavelmente originário de Cartago (alguns manuscritos o descrevem como Carthaginensis) e, portanto, africano, e certamente escreveu seus poemas no fim do século III d.C, já que sua maior obra, a Cynegetica,  é dedicada aos imperadores Carino e Nemuriano (293-4 d.C.).
Dele nos restaram quatro écoglas — que por muito tempoi circularam atribuídas a outro poeta, Calpúrnio Sículo, de quem temos outros sete poemas bucólicos — e uma Cynegetica (poema longo didático sobre caça, num fragmento de 325 versos). Nos dois casos, é notável a influência de Virgílio, do próprio Calpúrnio e de Grácio Falisco (na poesia didática, também autor de uma Cynegetica) como modelos poéticos e fontes constantes de intertextualidade.
Esta écloga de Nemesiano é um caso único na poesia romana, pois nela vemos a (não) contraposição entre a paixão por meninas e por meninos.  Se o leitor atentar, poderá notar que não há grande diferença de representação de um ou outro amor, de modo que o centro temático recai sobre os efeitos passionais (portanto similares) dos dois pastores — pouco importa que um ame a jovem Méroe, e outro prefira o garoto Iolas. O cenário bucólico serve à temática homoerótica romana pelo menos desde Virgílio (Bucóliacs 2) e das elegias pastoria de Tibulo por Márato.  Há ainda dois recursos bucólicos típicos neste poema: o canto contraposto entre dois pastores e o uso do refrão. 

[Guilheme Gontijo Flores]
 

 

 

POR QUE CALAR NOSSOS AMORES?: Poesia homoerótica latina. Organização Raimundo Carvalho, Guilherme Gontijo Flores, Márcio Meirelles Gouvêa Júnior, João Angelo Oliva Neto.  Edição bilíngue Latin – Português.  Belo Horizonte, MG: Autêntica
Editora, 2017.     285 p. (Coleçâo Clássica)  16,5x24 cm.  ISBN 978-85-8217-602-3                                       Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

        Écloga IV – Lycidas Mopsus

 

       Populea Lycidas necnon et Mopsus in umbra
pastores, calamis et ersu doctus uterque
nec triuiale sonans, proprios cantabat amores.
Nam Mopsio Meroe, Lycidae crinitus Iollas
ignis erat, parilisque furor de dispare sexu
cogebat trepidos totis discurrere siluis.                   
5
Hos puer acá meroe mutum lusere furentes,
dum modo condictus uitant inuallibus ulmos
nund fagos placitas fugiunt promissaque fallunt
antra nec est animus solitos ad ludere fontes
Cum tandem fessi, quos durus adedarat ignis         10
sic sua desertis nudarunt uulnera siluis
inque uicem cantu dixere querelas.

M. Immutis Meroe rapidisque fugacior curis,
cur nostros calamos, cur pastoralia uitas                15
carmina? Quemue fugis? Quae me tíbi gloria uicto?
Quid uultu mentem premis ac spem fronte serenas?
Tandem, dura, nega: possum non uelle negantem.
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmine curas.

 

       L. Respice me tandem, puer o crudelis Iolla.            20
Non hoc semper caris: perdunt et gramina flores,
perdit spina rosas, nec semper lilia candente,
nec longum tenet uua comas, nec populus umbras.
Donum forma breue est nec se quod commodet annis.
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.
25

       M. Cerua maren sequitur, taurum formosa iuuenca
et Venerem sensere lupae, sense leaenae
et genus aerium uolucres et squamea turba
et montes siluaeque: suos habet arbor amores.
Tu tamen uma fugis miserum, tu prodis amentem.   30
Cantet, amad quod quisque: leuant et carmina curas.

L. Omnia tempus  alit, tempor rapit: usus in arto est.
Ver erati et uitulos uid sub matribus istos
qui nunc pro niuea coiere in cornua uacca.
Et tibi iam túmida nares et fortia colla,                   35
iam tibi bis denis numerantur messibus anni.
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.

M. Huc, Meroe formosa, ueni: uocat aestus in mbram.
Iam pecudes subiere nemus, iam nulla canoro
guitture cantat auis, torto  nom squamea tractu      40
signat humum serpens.  Solus cano: me sonat omnis
silua nec aestiuis cantu concede cicadis.
Cantet, amat quod quisque: leuant e carmina curas.

I. tu quosque, saque puer, niueum ne perde colorem
sole sub hoc: solet hic lucentes urere malas.          45
Hic age pampinea mecum requiesce sub umbra;
hic tibi lene uirens fons murmurat, hic et ab ulmis
purpureae fetis dependente uitibus uuae.
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.

M. Qui telerit Meroes fastidia lenta superbae.           50
Sithonias feret ille niues Libyasque calorem,
Nerinas porbit aquas taxique nocentis
non metuer sucos, Sardorum graminha unincet

        Et iuga Marmaricos coget sua ferre leones.
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.
55
L. Quisques amat pueros ferro praecordia duret
nil properet discatque diu patienter amare
prudentesque ânimos teneris non spernat in annis,
perfarat et factuss. Sic olim gaudia sumet,
si modo  sollicitos aliquis deus audit amantes.         60
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.

M. Quid prodest quod me pagani mater Amyntae
ter uitis, ter fronde sacra, ter ture uaporo,
incendes uiuo crepitantes sulfure lauros
lustrauit cineresque auersa effudit in amnem,         65
cum sic in Meroen totis miser ignibus urar?
Cantet, amat quod quisque: leuant et carmina curas.

L. Haec eaden nobis quoque uersicoloria fila
et mille ignotas Mycale circumtulit herbas:
cantauit quo luna tumet, quo raumpitur anguis.     
70
quo currunt scopuli, migrant sata, uelllitur arbos.
Plus tamen ecce meus, plus est formosus Iollas.
Cantet, amat quod quisque: leuant e carmina curas.

 

  •                               **************


    Écloga IV: Lícidas e Mopso


       Sob a sombra de um choupa, Lícida e Mopso,
    ambos pastores culto no verso e no cálamo,
    em nada triviais, cantavam seus amores.
    Pois Méroe para Mopso e Iolas para Lícidas
    eram o fogo: igual furor por sexo oposto                 5
    os forçava a correr febris pela florestas.
    Mas o garoto e Méroe zombavam dos loucos:
    pois num momento evitam os olmos dos vales,
    depois fogem das faias, faltam seus encontros
    nas grutas, nem se aprazem nas fontes de sempre. 10
    Até que fatigados por infesto fogo
    desnudaram a dor nas florestas desertas
    revezando seus cantos em doces lamentos.

    M. Indócil Méroe, mais fugaz que os Euros céleres,
    Por que evitas meus calamos, cantos de pastos?      15
    De quem tu foges? Ganhas glória por vencer-me?
    Por que dissimular esperanças no olhar?
    Cruel! Renega! Eu posso abandonar que nega.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    L. Olha-me ao menos, ó cruel garoto — Iolas.        20
    Não serás sempre assim: a grama perde as flores,
    a rosa perde o espinho, o lírio já não brilha,
    vão-se os cachos de uvas e as sombras dos choupos:
    a beleza é dom breve e não se entrega aos anos.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma. 25

    M. A cerva segue o macho, ao touro a bela almalha,
    lobas sentiram Vênus, leoas sentiram-na,
  •     os pássaros aéreos, a turba escamosa,
    montes, florestas, árvores têm seus amores:
    tu, só tu foges, trais teu infeliz amante.                   30
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    L. O tempo nutre tudo, o tempo rouba —é parco.
    Na primavera, eu vi bezerros sob as mães,
    hoje eles batem cornos pela vaca nívea.
    Tens um nariz robusto e vigor no pescoço,               35
  •    suas duas vezes dez as messes dos teus anos.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    M. Vem cá, Méroe bela: o verão chama à sombra.
    O gado entra no bosque, nenhuma ave canta
    na garganta sonora, nem serpe escamosa               40
    no chão se torce: eu canto só, a selva inteira
    me ecoa e eu não cedo às cigarras estivas.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    L. Garoto cruel, não percas tua cor de neve
    neste sol: ele assola as bochechas luzentes.        45
    Vem descansar comigo à sombra da videira;
    aqui murmura a fonte fluída, aqui dos olmos
    pendem purpúreas uva das videiras férteis.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    M. Quem suportava a lenta soberba de Méroe      50
    suporta as neves da Sitônia, o ardor da Líbia,
  •  bebe águas de Nereu e do nocivo teixo
    não teme a seiva, vence as ervas da Sardenha
    e lança a canga nos marmóricos leões.
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.55

    L. Quem ama algum garoto endure o peito em ferro,
    não tenha pressa e aprenda a amar com paciência,
    que não despreze o espírito prudente em jovens
    que suporte o desdém.  E assim um dia goze,
    se é que algum deus escuta os amante sofridos.  60
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    M. De que vale, que mãe do meu vizinho Amintas
    com três fitas, três folhas sacra, três incensos
    e louros crepitantes no enxofre lustrou-me
    e de costas lançou as cinzas sobre um rio,           65
    se mísero me abrasa um fogaréu por Mèroe?
    Que cada um cante seu amor — o canto acalma.

    I. Também me circundava Micale com fios
    de várias cores e com ervas mil secretas;
    cantou (a lua cresce, as serpentes se rompem    70
    a pedra corre, a messe e as árvores se mexem) 
    e ainda mais e mais bonitas está meu Iloas.   
    Que cada um cante seu amor — o canto   acalma.

    Notas

    Título
    : A écloga ainda apresenta um título alternativo: “Eros”.           
    vv. 50-4: A Sitônia é a Trácia, as águas de Nereusão  o mar
    (Nereu é uma divindade  marinha), as ervas da Sardenha
    eram  tipicamente representada como amargas e
    “marmático” designa o leão do norte da África, entre o Egito
    e as Sirtes.
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Página publicada em abril de 2023

 

 

 
 
 
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