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POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS

Busto de Cícero do Século I d.C. nos Museus Capitolinos
 

CÍCERO

 [ Grécia Antiga ]

 

Marco Túlio Cícero (em latim: Marcus Tullius Cicero, em grego clássico: Κικέρων; romaniz.:Kikerōn; 106 – 43 a.C.) foi um advogado, político, escritor, orador e filósofo da gens Túlia da República Romana eleito cônsul em 63 a.C. com Caio Antônio Híbrida. Era filho de Cícero, o Velho, com Élvia e pai de Cícero, o Jovem, cônsul em 30 a.C., e de Túlia. Cícero nasceu numa rica família municipal de Roma de ordem equestre e foi um dos maiores oradores e escritores em prosa da Roma Antiga.[1][2]

Sua influência na língua latina foi tão imensa que se acredita que toda a história subsequente da prosa, não apenas no Latim, como nas línguas europeias, no século XIX seja ou uma reação a seu estilo ou uma tentativa de retornar a ele.[3] Segundo Michael Grant, "a influência de Cícero sobre a história da literatura e das ideias europeias em muito excede a de qualquer outro escritor em prosa de qualquer língua".[4] Cícero introduziu os romanos às principais escolas da filosofia grega e criou um vocabulário filosófico latino (inclusive com neologismos como evidentia,[5] humanitas, qualitas, quantitas e essentia),[6] destacando-se como tradutor e filósofo.

Ler a extensa biografia do poeta em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero

 

ATO – REVISTA DE LITERATURA.  NO. 8 Belo Horizonte: Gráfica e Editora O Lutador,  janeiro de 2011.  Editores: Camilo Lara, Rogério Barbosa da Silva e Wagner Moreira. ISBN 1982-7482   21,5 X  52 cm. 
                                                    Ex. biblioteca de Antonio Miranda

Tradução de Maximiano Augusto Gonçalves. 

    As Catilinárias,     de CÍCERO

  1. Até quando,
    ó Catilina, abusarás
    da nossa paciência?
    Por quanto tempo ainda
    esse teu rancor
    nos enganará?
    Até que ponto
    a (tua) audácia desenfreada
    se gabará?
    Porventura
    nem o amor do povo,
    nem o concurso
    de todos os bons (cidadãos)
    nem este lugar
    fortificadíssimo
    do senado se reunir,
    nem o aspecto
    e o semblante destes
    te moveram?
    Não percebes
    que os teus planos
    estão patentes?
    Não vês
    que a tua conspiração
    já é tida como presa
    pelo conhecimento
    de todos estes?
    Julgas
    que algum de nós ignora
    o que fizeste na última noite,
    o que (fizeste)
    na (noite) anterior,
    onde estiveste,
    a quem convocaste,
    que deliberação tomaste?
  2. Ó tempos! Ó costumes!
    O senado sabe estas coisas,
    O cônsul as vê
    contudo, este (homem) vive.
    Vive?

    E, além disso, ainda
    vem ao senado;
    torna-se participante
    da deliberação pública;
    aponta e designa com os olhos
    a cada um de nós
    para a morte.

    [...]

    convinha) que a calamidade
    que tu maquinas
    contra nós todos
    desde muito tempo,
    fosse atirada contra ti.

    [...]

    Com efeito, temos
    um decreto no senado
    desta natureza,
    mas encerrado
    nos arquivos;
    tal qual uma espada
    escondida na bainha,
    e segundo este
    decreto do senado
    convém, ó Catilina,
    que tu sejas morto
    imediatamente.
    Vives e vives
    não para reununciar
    à (tua) audácia.


    [...]

    III. Com efeito, que há,
    Catilina, que esperes
    ainda mais,
    se nem a noite pode
    ocultar nas (suas) trevas
    as (tuas) reuniões criminosas,
    nem a casa particular
    conter nas (suas) paredes
    as vozes da tua conspiração?
    Se todas as coisas se esclarecem,
    se (todas) se manifestam?

    [...]

    estás preso por todos os lados;
    todos os teus planos
    são para nós
    mais claros do que a luz,
    (fatos) que é lícito já
    (que) reconheças comigo.

    [...]

    Nada fazes, nada tramas,
    nada pensas, que eu
    não só não ouça
    mas também não veja
    e perceba integralmente.

    [...]

    IV.  Reconhece (recorda)
    finalmente comigo
    aquela noite passada.
    já compreenderás
    que eu velo
    para o bem estar da república
    muito mais diligentemente
    do que tu
    para a (sua) desgraça.

    [...]
    Por que te calas?
    Se negares, convencer(-te-)ei:
    pois vejo que alguns
    que estiveram junto contigo
    se encontram aqui no senado.

    9. Ó deuses imortais!
    Em que terra estamos?
    Em que cidade vivemos?
    Que república
    temos?

    [...]

    VI. Que há, pois,
    Catilina,
    que possa já (ainda)
    deleitar-te
    nesta cidade
    na qual ninguém existe.
    a não ser essa conspiração
    de homens perdidos,
    que te não tema,
    ninguém que (te) não odeie?
    Que sinal
    de vergonha doméstica
    não foi impresso
    à tua vida?
    Que desonra
    de fatos particulares
    não está presa à (tua) fama?
    Que impureza
    foi estranha algum dia
    aos (teus) olhos,
    que crime (foi estranho)
    às tuas mãos,
    que mancha (foi estranha
    a todo o (teu) corpo?
    [...]
    Omito os descalabros
    dos teus bens,
    os quais compreenderás
    que todos estão sobre ti
    nos próximos idos;
    cuido daquelas coisas
    que dizem respeito
    não à ignomínia
    particular
    dos teus vícios
    não à tua dificuldade
    e torpeza
    doméstica,
    mas à suprema
    república
    e à vida e ao bem-estar
    de todos nós.

    15.  Acaso pode, Catilina,
    esta luz ou o ar
    deste céu
    ser-te agradável,
    quando saibas
    que nenhum destes existe
    que ignore
    que tu estiveste
    no comício som uma arma.
    [...]
    Nada fazes,
    nada consegues,
    e, contudo, não desistes
    de pretender e de querer.

[...]
VII. Agora, porém,
que vida é essa a tua?
Com efeito, falarei contigo
que tal sorte que pareça
ser movido

não pelo ódio,
com o qual devo (ser movido),
mas que (pareça ser
movido) pela misericórdia,
que nenhuma te é devida.
Vieste pouco antes
ao senado.
Quem dentre esta
tão grande assembléia,
dentre tantos amigos teus
e parentes
te saudou?
Se isto não sucedeu a ninguém,
desde a memória dos homens,
esperas a afronta da palavra
quando estás oprimido
pelo gravíssimo juízo
do silêncio?
Que dizer do fato de
essas cadeiras
serem evacuadas
com a tua chegada,
(que dizer) do fato de
todos os ex-cônsules,
que foram designados
muitíssimas vezes por ti
para a morte,
haverem deixado essa parte
dos assentos
nua e vazia,
logo que te sentaste?
Com que ânimo, enfim,
julgas que isto
deve ser sofrido por ti ?

 

17.  Por Deus,
se meus escravos me temessem,
dessa maneira,
como todos os teus concidadãos
te receiam,
julgaria que a minha casa
devia ser abandonada;
tu não pensas
que a cidade
(deve ser abandonada) por ti?
E se (eu) me visse
tão gravemente suspeitado
e odiado com injúria
pelos meus concidadãos,
preferiria (eu) ser privado
da presença dos concidadãos,
a ser olhado
pelos olhares hostis de todos;
tu, porque conheces,
pela consciência
dos teus crimes
que o ódio de todos
(é) justo
e te é devido muito,
hesitas em evitar o aspecto
e a presença daqueles
cujos espíritos
e sentimentos feres?
Se teus pais
te temessem e odiassem,
e não pudesses acalmá-los
de alguma forma,
retirar-te-ias, como penso,
para algum lugar
longe dos olhos deles;
agora a pátria,
que é a mãe comum
de todos nós,
odeia-te e teme-te;

18.  E esta (a pátria) trata
assim comigo, Catalina,
e calada fala
de certo modo:
“Nenhum crime existiu
já há muitos anos,
a não ser (causado) por ti:
nenhum delito sem ti;
a morte de muitos cidadãos,
a perseguição e a rapina
dos aliados

[...]
tu tiveste força não só
para desprezar as leis
e os tribunais
mas para (as) perturbar
e para (as) quebrar.

[...]

IX. 22.  Mas
que digo (eu)?
Para que alguna coisa
te comova,
para que um dia te corrijas?
Para que penses num exílio?
Para que medites alguma fuga?

[...]
IX. 25.   Irás finalmente,
um dia,
para onde essa tua cobiça
desenfreada e furiosa
te arrastava há muito tempo.
Nem, com efeito, este fato
te traz dor,
mas certo prazer
incrível.
A natureza gerou-te,
a vontade exercitou (-te),
a sorte guardou (-te)
para esta loucura.
Tu nunca desejaste
não somente ócio,
mas nem sequer a guerra,
a não ser criminosa.
Encontraste um bando
de criminosos
constituído de perdidos
e desclassificado
não só de toda a fortuna,
como até do (toda a)  esperança.

26. De que alegría
tu fruirás aquí,
de que júbilos exultarás,
em quão grande prazer
te delicirás
quando em tão grande
número dos teus
nem escutares nem vires
nenhum homem honesto!

[...]
Porventura temes
o ódio da posteridade?

[...]
29. Mas, se algum receio
de ódio existe,
porventura não
deve ser temido
mais veementemente
o ódio da severidade
e do valor
que (o ódio) da inércia
e da fraqueza?
Acaso, quando a Itália
for destruída pela guerra,
(quando) as cidades
forem saqueadas,
(quando) as casas arderem,

não julgas
que (tu) hás de arder
nesta ocasião
numa fogueira de rancor?

[...]
30.  Todavia,
existem alguns
nesta instituição (o senado)
que ou não veem
as coisas que estão iminentes,
ou dissimulam
as coisas que percebem;
que alimentaram.

[...]

XIII 31.  Com efeito,
pais conscritos,
há muito tempo vivemos
nestes perigos
e (nestas) ciladas
da conspiração
mas não sei de que modo
a maturidade
de todos os crimes
e do antigo rancor
e audácia
surgiu no tempo
do nosso senado
Pois se esse único (homem)
for tirado
de tamanho latrocínio
pareceremos, talvez
estar livres
de cuidado e de medo
por um certo tempo breve;
o perigo, não obstante,
permanecer
e ficará encerrado
profundamente nas veias
e nas vísceras
da república.

[...]

Era preciso já há muito tempo
que Lúcio Catilina
fosse castigado
com um suplício
muito grave,
e o costume dos antepassados
e a severidade deste império
e a república
exigia isto de mim.
Mas quantos (cidadãos)
julgais que houve
que não acreditariam
as coisas que eu denunciasse?
Quantos
que nem (as) julgariam
devido à(sua) estultícia?
Quantos
que também(as) defenderiam?
Quantos
que (as) favoreceriam
por (sua) maldade?
Mas, se subtraído aquele,
julgasse que todo o perigo
se afastava de vós,
eu teria retirado há muito
Lucio Catalina,
com o perigo não somente
do meu ódio,
mas também da vida.

[...]
7.  Ó afortunada
república,
se, na verdade, lançou fora
esta sentina
desta cidade!
Por Hércules,
depois de retirado
um só (apenas) Catilina,
a república me parece
aliviada e contente.
Com efeito, que mal
ou (que) crime
pode ser forjado
ou ser imaginado,
que não tenha concebido?
Que preparador de veneno,
que ladrão,
que sicário (assassino),
que parricida,
que falsificador
de testamentos
que subornador,

[...]
Como Catalina
tivesse vindo ali
que senador
o chamou?
Quem (o) saudou?
Quem finalmente
assim (o) viu
como cidadão perdido,
e não antes como um inimigo
importuníssimo?
Ainda mais,
os principais desta ordem
deixaram vaga
aquela parte de assentos,
para a qual ele se aproximara.

[...]
25.  Mas, se omitidas
todas estas coisas
das quais nós sabemos
(e) de que ele carece,
do senado,
dos cavaleiros romanos,
do povo, da cidade, do tesouro.
de tributos, de toda a Itália,
de todas as províncias,
das nações estrangeiras;
se, omitidas estas coisas,
quisermos que contendam
estas mesmas causas
que lutam entre si,
podemos compreender
disso mesmo
como eles
estão totalmente prostrados.
Porque combate o pudor
desta (nossa) parte,
da deles a petulância.

[...]
daqui, a fidelidade,
dali a fraude;
daqui, a piedade
dali o crime;
daqui, a constância,
dali o furor;
daqui, a honestidade,
dali a vergonha;
daqui, a continência,
dali a luxúria;
finalmentes, a equidade,
a temperança, a fortaleza,
a prudência,
todas as virtudes
combatem a iniquidade,
com a lascívia, com a covardia,
com a temeridade,
com todos os vícios

[...]
(ele) conhecia todas as coisas,
tinha entrada em tudo;
podia chamar, sondar,
fazer solitações,
(tudo ele) ousava;
tinha (Catilina)
o plano adaptado
ao crisme (à ação);
além disso, ao plano
nem faltava a mão
nem a palavra.
Possuía já
certos homens
escolhidos e designados
para levar a cabo (realizar)
determinadas coisas.
Nem, todavia,
quando tinha ordenado algo,
(o) julgava feito.
Nada havia,
a que ele próprio não assistisse,
acorresse, vigiasse,
ativasse;

 

[...]
17.  [...] ó romanos,
este homem
tão ativo,
tão preparado (disposto),
tão audaz (audacioso),
tão astuto (perspicaz),
tão vigilante
no (na prática do) crime,
tão diligente (zeloso)
nas coisas perdidas,
não teria afastado facilmente
esta tão grande
mole (tempestade) do mal
das vossas cabeças.
[...]
Principalmente
aquelas que puderam
vencer-nos
não combatendo,
mas calando-se.

[...]
Nada mudo,
nada de silencioso,
nada, finalmente,
deste gênero,
que os menos dignos
podem também conseguir.
Os nossos feitos, ó romanos,
sejam alentados (recordados)
pela nossa memória,
cresçam em conversas,
envelheçam
e fortifiquem-se
com os monumentos das letras;
e (eu) compreendo
que o nosso dia,
que (eu) espero
que há de ser eterno,
foi prolongado,
não só para a salvação
da cidade, mas ainda para
memória do meu consulado;


[...]
2.  Eu sou,
ó senhores,
aquele cônsul,
ao qual nem o foro,
no qual toda a justiça
está contida,
nem o campo (de Marte),
consagrado
aos auspícios consulares,
nem a cúria,
supremo socorro
de todas as gentes (nações),
nem a casa,
refúgio comum,
nem o leito,
dado para o repouso,
nem finalmente
este assento da honra,
(esta) cadeira curul,
nunca esteve isenta
do perigo da morte
e das traições.
Eu calei muitas coisas,
sofri muitas coisas,
concedi muitas coisas,
serei muitas coisas
com certo sofrimento meu
sem o vosso receio.
Agora, se os deuses
imortais quiseram
que o fim do meu consulado
seja este,
que (eu) vos livre,
ó senadores,
e ao povo romano
da mortandade misérrima.
[...]



(CÍCERO, Marco Túlio.  As Catilinárias.
Tradução de Maximiano Augusto Gonçalves.
São Paulo: Martin Claret, 2006.

*

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Página publicada em março de 2024.

 

 

 
 
 
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