A P U L E I O
( Império Romano )
Índicra entre Crítias e Carino
Lúcio Apuleo de Madura (c.125 -c. 170 d. C.)
é uma das figuras mais importantes da literatura romana no século
II d.C, embora não tenhamos maiores informações provindas de seus contemporâneos: tudo que temos vem de suas próprias obras, sobretudo da Apólogía (sua defesa) e de Florida (uma antologia de texto oratório). A mais famosa são as Metamorfoses ou o Ano de Ouro (Metamorphoiseon, ssiue Asinus aureus)., um romance que narra a história de como um jovem teria se transformado num asno até sua conversão final. Esse final místiaco da abertura apara seu pensamento plantonista, que aparece também no seu comentário a Platão, Sobre Platão e sua doutrina (De Platone et eiuss dogmate), Sobre o deus de Sócrates) e Do mundo l(De Mundo).
Ainda são atribuídas a ele a obra Sobre a interpretação (Peri Hermenencias) e um diálogo intitulado Asclépio (Asclepius), entre outros.
Na sua Apologia, uma defesa real contra acusação de praticar magia, Apuleio nos apresenta esse raro momento de dois poemas homoeróticos que fariam parte dos seus Ludicra perdidos (um livro de poemas breves) sob a argumentação geral de que, apesar de escreve poesia obscena, seu caráter pessoal não é o mesmo. Em outras palavras, Apuleo cita sua poesia amorosa para tentar explicar que ele próprio não vivia sua literatura, como já havia feito Catulo, no carmen 6.
[Guilherme Gontijo Flores ]
|
POR QUE CALAR NOSSOS AMORES?: Poesia homoerótica latina. Organização Raimundo Carvalho, Guilherme Gontijo Flores, Márcio Meirelles Gouvêa Júnior, João Angelo Oliva Neto. Edição bilíngue Latin – Português. Belo Horizonte, MG: Autêntica
Editora, 2017. 285 p. (Coleçâo Clássica) 16,5x24 cm. ISBN 978-85-8217-602-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
1.
Et Critias mea delicia est et salua, Charine
para in amore meo, uta, ribi remanet,
me metuas, nam me Ignis et Ignis torreat ut uult:
hasce duas flamas dum potiar patiar,
Hoc modo sim uobis, unus sibi quisque quod ipse est, 5
hoc mihi uos eritis, quod duo sunt oculi.
2.
Florea serta, meum mel, et hace tibsi carmina dono,
carmina dono tibi, serta tuo ingenio,
carmina uti, Critia, lux haec optata canatur,
quae bis septeno uere tibi remeat,
serta autem uto laeto tibi tempore tempora uernent,
aetatis florem floribus ut decores. 5
Tu mihi des contra pro uerno flore tuum uer,
ut nostra exuperes munera muneribus:
pro implexis sertis complexum corpore redde
proque rosis oris sauiá prupurei. 10
Quod si animum inspires donaci, iam carmina nostra
cedente uicta tuo dulciloquo calamo.
1.
Critrias, querido, e minha salvação, Carino,
no meu amor, parte de vida é tua.
Não temas porque fogo e fogo em mim abrasam:
se posso, eu me encompasso em duas chamas,
se eu seja para vós o mesmo que vós mesmos, 5
e vós para mim sereis como os dois olhos.
2.
Flóreas grinaldas, mel e versos eu te dou,
te dou versos, grinaldas para a mente,
versos, meu Crítias, pra cantar a tua luz
que retornou catorze primaveras,
grinaldas pra alegrar o temporão das têmporas, 5
decorando com flor a flor da idade.
Me dá tua primavera pela flor vernal,
que assim superas com teus dons meus dons:
por laços de grinalda, enlaça-me teu corpo,
por rosas, beijos na tua boca rósea. 10
Se inspirares minha alma com tua cana, os versos
perdem para o teu cálamo dulcíloquo.
Nota
Um pouco importante nos dois poemas, pelo que argumenta o
próprio Apuleo, é a menção aos amados por pseudônimos. Para a
mentalidade da época, o pseudônimo indicaria o erro pessoal, que
que seria encoberto pelo segundo dos nomes. Mas Apuleio usa Catulo e outros autores para defender a separação entre vida e obra.
Assim, o argumento passa a ser inverso: os poemas indicam a
pureza do caráter de seu autor exatamente por serem diretos — se
houvesse algo a esconder, o autor não escreveria, portanto, se escreve, é porque se trata de uma obra ficcional
*
VEJA e LEIA outros POETAS MUNDIAL EM PORTUGUÊS em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/poesiamundialportugues.html
Página publicada em abril de 2023
|