Foto e biografia: https://www.uc.pt
ANDRÉI BIÉLI
(1880-1934)
Andrei Bíéli (pseudónimo de Borís Nikoláevitch Bugáev) — Андрей Белый (псевдоним Бориса Николаевича Бугаева) foi um escritor, poeta e pensador russo, um dos poucos representantes do círculo literário-boémio da «Era de Prata», e que aos olhos dos seus contemporâneos era um sério "pretendente ao estatuto de génio".
Nasceu a 26 de Outubro de 1880 no seio da família de um professor da Universidade de Moscovo e recebeu uma excelente educação em casa. Estudou no liceu do grande pedagogo Lev Polivanov, onde surgiram os seus invulgares talentos humanitários, manifestados nas aulas de literatura e filosofia. Apreciava muito os clássicos russos Nikolai Gógol e Fiodor Dostoiévski. Entre 1899-1903, estudou na Universidade de Moscovo e, nessa altura, conheceu os representantes do simbolismo russo da «primeira vaga»: Valeri Briússov, Dmitri Merejkovski e Zinaída Guippius.
estreia literária de Biéli como prosador deu-se em 1902 com a publicação de Sinfonia (2ª Dramática) (Симфония (2-я, драматическая)), que se tornou um brilhante manifesto do simbolismo russo da «segunda vaga». (...)
A base da composição das sinfonias de Andrei Biéli eram os temas músico-verbais, os quais eram realizados em texto com a ajuda de uma série de motivos repetidos (Leitmotive). Mais importantes eram os temas da alvorada, da eternidade, da loucura, da intemporalidade, do eterno regresso, do amor sagrado, da morte e da ressurreição. A forma "Sinfónica" de Andrei Biéli apresentava-se fundamentalmente como um novo género literário, encerrando em si uma organização rítmica e sonora do texto, construída segundo os cânones da obra musical, a imagética associativa complexa e o uso de técnicas do fantástico e do grotesco.
(...)
ANTOLOGIA RUSSA MODERNA. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos com a revisão ou colaboração de Boris Schnaiderman. Apresentação, resumos biográficos e notas de Boris Schnaiderman. Rio de Janeiro: Editôra Civilização Brasileira S. A., 1968.. Desenho
de capa:Marius Lauritzen Bern. (Coleção POESIA HOJE, Série Antologias Volume 17. Direção de Moacyr Felix.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Burla
No
Vale
Uma vez
Em sonho
Ante
Vós
Eu, —
Velho
Tolo. —
A
Tocar
Mandolina.
Vós
Ouvíeis
Atento.
E —
— O Antigo Zodíaco.
Um dia
Surram-me
E
Me
Expulsaram
Do Circo
Em
Farrapos
E
Em
Sangue.
A clamar —
— Por Deus!
— Deus!
— Deus!
E
Pelo —
— Amor universal.
Vós
Por acaso
Encontrastes
O palhaço
Cantante.
Parastes
Para escutar
O canto.
Vós
Observastes
O barrete
Do bufão..
— Vós —
Dissestes
Convicto:
— “Este
É o caminho
Da iniciação...”
Vós —
Em sonho
Mirastes
O —
—Zodíaco.
1915
(Tradução de Augusto de Campos)
*
A Palavra
NA FEBRE DE SOM
Do sopro
A treva é flama-fala.
Lá fugindo da laringe.
A terra exala.
Expiram
As almas
Das palavras não-compostas.
Deposita-se a crosta
Dos mundos que nos portam.
Sobre o mundo formado
Paira a profundidade
Das palavras proferíveis.
Profundamente ora
A palavra das palavras. Sarça viva.
E do futuro
Paraíso
Alça-se a serra adunca
Por onde em chamas, consumido,
Não passarei: nunca.
1917
(Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)
*
Canção para Guitarra
Eu
Estou nas palavras
Tão morbidamente
Mudo:
Minhas sentenças são
Máscaras.
E —
Falo
A vós todos —
— Falo
Fábulas, —
— Porque —
Assim me foi designado,
A razão —
Não a entendo: —
— Porque
—
Há tempos tudo se foi no escuro,
Porque — tudo é igual:
Quer eu
Saiba ou não saiba.
Porque só há tédio em toda parte.
Porque a fábula é de esmeralda,
Onde —
Tudo é outro.
Porque há esta avidez dos borrifos
Do prazer:
Porque a difícil
Existência
Para todos —
— Tem um só desenlace.
Porque —
— Para todos
Há um só fim.
ET me rompe este riso
Do
Destino
De todos —
— E —
— De
Mim.
1922
(Tradução de Augusto de Campos)
*
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Página publicada em março de 2021
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