WILMAR SILVA
anu
Textos extraídos da apresentação de anu (de Wilmar Silva, 2ª ed. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2008. 72 p. ISBN 978-85-606-76-11-8):
(...) Anu situa-se no espaço de um épico (ainda que da dessematização). E, como épico, instaura já em seu primeiro verso ou bloco-ave uma evocação, na qual a palavra-ave anu vai se confundindo com a paisagem/cenário evocada, sendo desde já paisagem-palavrave e na qual o corpo transvítreo aquoso da ave se define e completa anu através da cena noturna que transpassa o interiordasgraiz:
riomarnoiteinteriordasgraiz
euanuavesoubichonasenda
poçudespelhásliságuacor
rentondvítriocorpoiodfauno
Anu desencadeia um livro cujas relações semântico-sonoras encontram eco mais recente no Galáxias, de Haroldo de Campos, e no poema Cidade, do irmão Augusto, mas também na poésie partition de Bernard Heidsieck e na gagueira rítmica de Ghérasim Luca. É portanto um fruto do concretismo, mas sem aderir ao seu manifesto. Um concretismo talvez mineiro — diria até mesmo drummondiano —, que vai comendo pelas beiradas, sem ir com sede ao centro, mas cuja importância não pode ser ignorada como uma nova dimensão da poesia que emerge no cenário literário brasileiro.
Márcio-André
Podemos dizer, com convição, que Wilmar Silva vai ser o poeta experimental contemporâneo com a mesma importância que atribuímos ao grande Affonso Ávila por suas criações na metade do século passado. Wilmar não é um poeta fácil, de uma legibilidade banal, exige que a nossa leitura seja recriadora, não apenas decoficadora, mas também atribuidora de sentido. A arquitextura de Wilmar Silva transforma a plástica do poema em seu significado, a forma não é decorativa, é significante.
Antonio Miranda
SILVA, Wilmar. Z a zero. Belo Horizonte: Anome Livros, 2010. 144 p. (Coleção
aatopias, 3). 20x20 cm. Posfácio de Fernando Aguiar. ISBN 978-85-98378-56-5
“Porque para verdadeiramente o ser, o “Poema” tem que resultar numa obra de arte, com um valor conceptual e artístico equivalente ao de uma pintura, uma escultura, uma fotografia ou de um trecho musical. E “Z a Zero” de Wilmar Silva é o exemplo daquilo que quero dizer. (...)
Os poemas que constituem “Z a Zero” não são apenas experimentais do ponto de vista gráfico (se é que é significativo fazer uma catalogação deste gênero), são-no também na vertente sonora. Basta lê-los em voz alta para se perceber a sonoridade que cada verso em si encerra.”
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