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VICENTE DO REGO MONTEIRO Ver também: EDSON REGIS de Carvalho
CINCO CABEÇAS DE MASSACRE Click na foto para ampliar
HOMENAGEM A GUILLAUME APOLLINAIRE
======================================= Caligramas de Vicente do Rego Monteiro, a partir de um poema do poeta Edson Regis (1956) Uma lição importante para a crítica das linguagens interagentes refere-se à necessidade de inserir um sistema semiótico, não num espaço delimitado, mas numa esfera de fronteiras que, longe de dividir o espaço, exibe-se como filtro. A zona fronteiriça é uma zona híbrida, babélica, de multiplicidade sensorial. A própria escrita alfabética desenvolveu várias possibilidades de se reportar ao bustrofédon. Por exemplo: o caligrama, como esse que o poeta pintor Vicente do Rego Monteiro criou para o poema "Lisboa, 1956", do poeta pernambucano Edson Regis.*
Por um lado, há, de fato, uma estrutura solidamente construída; por outro, a confluência de um outro sistema. Lembrando Foucault:
em sua tradição milenar, o caligrama tem um tríplice papel: compensar o alfabeto; repetir sem o recurso da retórica; prender as coisas na armadilha de uma dupla grafia. Ele aproxima, primeiramente, do modo mais próximo um do outro o texto e a figura, compõe com linhas que delimitam a forma do objeto juntamente com aquelas que dispõem a sucessão das letras; aloja os enunciados no espaço da figura, e faz dizer ao textoaquilo que o desenho representa. De um lado, alfabetiza o ideograma, povoa-o com letrasdescontínuas e faz assim falar o mutismo das linhas intetrompidas. [ ... }
O caligrama, quanto a ele, se serve dessa propriedade das letras que consiste em valer ao mesmo tempo como elementos lineares que se pode dispor no espaço e como sinais que se deve desenrolar segundo o encadeamento único da substância sonora. Sinal, a letrapermite fixar as palavras; linha, ela permite figurar a coisa. Assim, o caligrama pretendeapagar ludicamente as mais velhas oposições de nossa civilização alfabética: mostrar enomear; figurar e dizer; reproduzir e articular; imitar e significar; olhar e ler.**
A citação é longa, mas necessária, pois o que ela observa no caligrama são as fronteiras entre sistemas, como nos trechos grifados para destacar tal operação. Admitindo a existência da fronteira fica mais fácil divisar o deslocamento de um campo a outro. Escrita como tecnologia do intelecto é explicitação e, conseqüentemente, vive não no código, mas na fronteira.
IRENE MACHADO
*Edson Regis, Lisboa, 1956. Nove caligramas originais de Vicente Monteiro (Recife, 1961). Edição de 12 exemplares numerados.
**Michel Foucault, Isto não é um cachimbo (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988), pp. 22-23. A tradução brasileira é de Jorge Colí.
Extraído de OUTRAS LEITURAS: literatura, televisão, jornalismo de arte e cultura, linguagem interagente /Maria Helena Martins (organizadora). São Paulo: Editora SENAC; Itaú Cultura, 2000. p. 84-86
"(...) um artista que soube devorar criticamente o código elaborado pelas vanguardas européias e criar um código singular". "Rego Monteiro encontra-se em Parais quando eclode o movimento modernista em fevereiro de 1922, mas participada Semana de Arte Moderna pela exposição de algumas de suas obras." Naria Luiz Guarnieri Atik chama a atenção para a aproximação de dois gênios brasieliros da épóca: Vicente do Redgo Monteiro e Gilberto Freyre que, naquela época, se aproximaram e viajaram juntos pela Alemanha. Freyre nos revela que juntos descobriram o expressionismo nas artes plásticas e no teatro, "de interesse tanto paao que viesse a ser novo ou moderno, sem deixar de ser brasileiro". A casa de Rego Monteiro alugada em Recife vai se converter em animado ponto de encontro de artistas e intelectuais pernambucanos e "dessas reuniões informais nasce a idéia do I Congresso de Poesia do Recife, que se realizará em abril de 1941, com a participação de João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Willy Lewin, Rangel Bandeira, Benedito Coutinho, Cláudio Tavares e outros jovens artistas" (p. 54) Vale ainda ressalatar: "PR Rego Monteiro, a poesia não é uma forma de anular os significados da realidade, mas de tentar compreendê-los pelo olhar ingênuo do selvagem, que questiona atitudes do homem civilizado e o uso que este faz de moradias, monumentos ou espaços(...), p. 103. O livro de Maria Luiza Guarnieri. inclui capítulos inteiros sobre a poesia de Rego Monteiro: "P Poeta Indigenista" (p. 92-122); "O Poeta das décadas de 1940 e 1950" (p. 124-202. In: ATIK, Maria Luiza Guarnieri. Vicente do Rego Monteiro -bum brasileiro na França. São Paulo: Editora Makenzie, 2004. 221 p. ilus. col.
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