SÉRGIO CAPARELLI
Sérgio Capparelli (Uberlândia, 11 de julho de 1947) é escritor de literatura infanto-juvenil, jornalista e professor universitário brasileiro. Suas composições são ou discursivas ou caligramáticas, com o objetivo de levar textos aos jovens de uma forma mais atrativa.
Extraídos da obra: POESIA FORA DA ESTANTE. Vera Aguiar, coord. Ilustrações de Laura Castilhos. Porto Alegre: Editora Projeto; CPL/ PUCRS, 2005
|
|
CAPPARELLI, Sérgio. O Rapaz do Metrô: poemas para jovens em oito chacinas ou capítulos. Rio de Janeiro: Galera, 2014. 149 p. 15,5x22,5 cm. ISBN 978-85-01-10243-0 Projeto gráfico de miolo e capa: Tita Negri. “ Sérgio Capparelli “ Ex. bibl. Antonio Miranda
“Sérgio Capparelli surpreende de livro para livro, com uma renovação constante de tema e de estilo. Em “O Rapaz do Metrô” ele encarna um personagem — em vez de assumir um “distanciamento brechtiano” — e nos revela um universo entre escatológico e esperpêntico, sem renunciar ao lirismo. Como diria Niertzsche, “humano, demasiado humano”!” ANTONIO MIRANDA
Os cavaleiros
Chegaram quatro
Em cavalos de gelo.
Portavam dois deles
Fuzis de brinquedo.
De negros capuzes.
Os olhos cegos.
Ou vesgos. E atiraram.
Cada bala, um beijo.
Então se contorceram
Bonecos e titeriteiros.
E de cada peito jorrou
Um sangue vermelho.
Foram-se os cavaleiros
Por entre ruelas e becos.
Rubras, as suas mãos,
Com sangue já velho.
Quem eu sou
Dezesseis anos
Bem distribuídos.
Boa parte nos braços
Boa parte em abraços
Em todos os sentidos.
II
Já fui saco de pancada
Mas não sou mais.
Quando me irrito,
Solto fogo pelas ventas.
Eu tô que tô
E, se quiser provar,
Tenta.
Mas me contenho.
Ah, como me contenho,
(Estou sempre ocupado
Com a manutenção
Do sistema de freios.)
Quanto aos infortúnios,
Bato-os todos de frente.
E faço viagens. Muitas viagens.
Fitando o teto de meu quarto.
Escapulo.
Logo volto à razão
De anos bem vividos,
Entre a casa e o trabalho,
Entre a escola e os amigos.
Saúde
Olho para a frente
E assim evito torcicolos
Voltando ao que passou
Passado é passado,
Tiro minhas conclusões
E sigo em frente
Com o sol nos dentes.
Página ampliada e republicada em janeiro de 2015.
|