ALEXANDR RODCHENKO
VLADIMIR MAIAKOVSKY
O Construtivismo levou ao limite máximo a utilização de letras em suas composições, desde sua utilização nas gravuras, passando pelos cartazes e culminando em projetos para capas de livros, e em cenários de peças teatrais; mas também nos filmes do ciclo “cinema-verdade” e até em fachadas de edifícios. Letras, letras, letras (*). RODCHENKO também fotogramas que foram animados por cineastas que rivalizavam com o que hoje chamamos videopoemes.
Segundo Alexandr Rodchenko, “A pintura não figurativa se desligou até mesmo dos meios expressivos tradicionais” (...), começando a empregar técnicas pictóricas completamente novas que se adéquam melhor às formas geométricas simples, precisas e claras” (em 1921). Também propugnou o design industrial, a exemplo deste maço de cigarros.
CARTAZES de sindicatos projetados e executados por Rodchenko e Maiakovsky em 1925: “O sindicato protege/ o sindicato vencerá”, collage com papéis impressos e colados, tinta nankin e lápis sobre papel...
“O sindicato é um golpe na escravidão da mulher. O sindicato é o defensor do trabalho feminino”, cartaz montado com papéis impressos e retocados com guache (1925
Rodchenko e Maiakovisky (Vladmir) são os autores de cartazes publicitários para um sindicato em que o artista plástico e o poeta constroem significados expressivos quase que exclusivamente a partir de letras e palavras-de-ordem política. ).
FOTOGRAMA do filme “Kino-Pravda” (Cine-verdade), dirigido por Dziga Vertov, em 1922 e TÍTULOS usados na filmagem, executados por Rodchenko. Dirigida por Dziga Vertov, títulos de Alexandr Rodchenko
*como hoje diriam os pichadores, os letristas que invadem muros e fazem garafismos em paredes e na internet, por meio de pichação luminosa...
MAIAKOVISKY VISUAL
Vladmir Maiakóvsky experimentou os modos da poesia em relação com as artes plásticas de seu tempo, como membro do movimento construtivista russo, paralelo ao futurismo italiano. O letrismo, as composições geometrizantes e as colagens estavam em voga, num grupo de artistas revolucionários que eram pintores, escultores, cineastas, teatrólogos, sem falar na arte dos cartazes e todo tipo de arte pública, em espaços abertos, em sindicatos e outros fora da tradição burguesa.
E sua propensão para as vanguardas e expressões visuais vem da infância... Exemplo é esta carta giratória, espiralada, escrita aos 12 anos, em 1915 (?)
Composição de El Lissitzky para Dlya golosa (Para voz), de Maiakóvski (1923).
Conhecido como "poema-anel" Liu Bliú ("Amo"), numa versão gráfica de Lissitz, de 1923, para o livro Dilú Gólossa (Para Voz), publicado em Berlim.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Ano 7 Número 10 abril 1999 – Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1999. Editor Geral: Antonio Carlos Secchin. A edição inclui uma seção especial de Poesia Russa, organizada por Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
Obs. aparece como VLADIMIR MAIAKOVSKI nesta revista acima.
Noite
Purpúreo e branco, amarfanhado, como ao léu;
no verde lançavam punhados de moedas,
e às negras palmas das janelas em tropel
distribuíam chamas de cartas amarelas.
A praça e às avenidas não era surpresa
nos edifícios deparar togas azuis.
E àqueles que corriam, como chagas vermelhas,
o fogo atava aos pés braceletes de luz.
A multidão — gato solerte, furta-cor —
flexível, deslizava ao chamariz das portas;
cada qual disputando um naco desse ror
sem fim de risadas fundidas como bolas.
Eu, à sedução de um vestido pata e garras,
puxava até seu rosto um sorriso; no guaio
de repiques de lata, negros gargalhavam,
enflorando na testa asas de papagaio.
1912
Tradução de Haroldo de Campos e Bóris Schnaiderman
Nacos de nuvem
No céu flutuavam trapos
de nuvem — quatro farrapos:
do primeiro ao terceiro — gente;
o quarto — um camelo errante.
A ele, levado pelo instinto,
no caminho junta-se um quinto.
Do seio azul do céu, pé-ante-
pé, se desgarra um elefante.
Um sexto salta — parece.
Susto: o grupo desaparece.
E em seu rasto agora se estafa
o sol — amarela girafa.]
1917-18
Tradução de Augusto de Campos
Lilitchka!
Em lugar de uma carta
Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto —
um capítulo do inferno de Krutchonikh.*
Recorda —
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração — aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu hall escuro longamente o braço,
trémulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
o meu amor
— duro fardo por certo —
pesará sobre ti
onde quer que te encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
para mim
não há sol,
e eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos — rodopiante carnaval —
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.
Petrogrado, 26 de maio de 1916.
Tradução de Augusto de Campos
Página ampliada em abril de 2018
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