BREVE INTRODUÇÃO AO POEGOESPACIALISMO
Roberto Pontual
"Ligado ao neoconcretismo, autou, também, por curta duração o grupo poegoespacialista, impuldionado e liderado por Antonio Miranda, que usava o heterônimo de da nirham: eRos cujos trabalhos, pouco divullgados, assumem hoje caráter realmente precursor" (*)
O panorama da nossa poesia veio sofrendo uma transformação que, hoje como nunca, se apresenta de modo radical e que teve sua base mais imediata nas idéias lançadas há cinco anos atrás pelo movimento concreto e posteriormente desenvolvidas em sentido diversos pelo grupo neoconcreto. A semente frutificou não apenas nos grandes núcleos das capitais, Rio e São Paulo, mas se fez viva e vigorosa em inúmeros centros menores, como Ceará, Minas Gerais e Bahia, para citar apenas estes, que são os mais amplos. O que se viu desde logo, sob a influência da nova visão na poesia, foi o surgimento e desenvolvimento de rumos e tentativas visando a um produto poético de certo mais condizente com as solicitações do mundo atual e também, por isso mesmo, menos “flácido” do que a quase totalidade dos praticados pela oca geração de 45.
No momento, vários núcleos novos de pesquisas, em todo o nosso território, começam a se tornar mais e mais freqüentes. Há os que palmilham um caminho de buscas puramente influenciado pela visão concreta, outros que o fazem em torno das idéias neoconcretas. Mas há também os que, arregimentando procedimentos específicos de uma e de outra tendência, procuram reuni-los numa síntese cujos resultados são, algumas vezes, bem interessantes. É o caso, como iremos verificando, do POEGOESPACIALISMO.
Antes de mais nada, por que “poegoespacialismo”? Vindos de uma poesia tradicional, extremamente discursiva, e passando por inúmeras fases intermediárias — pulverização da linguagem, abandono integral do discurso, adoção do espaço gráfico como campo para o estabelecimento e vida dos elementos e ralações do poema —, chegaram a uma situação em que sentiram não mais poder denominar meramente de “poemas” seus trabalhos. Elaboraram, então, um termo onde surgissem sintetizadas as características mais evidentes e gerais daquelas peças: passaram a chama-las “poegoespaços”. Poesia (pois não se abandonou por completo o elemento “verbal”) do eu (como eles próprios exemplificam: “ego”, no duplo sentido de uma realização nossa e de sua individualidade e especificidade como edifício, como ego”) e espacial (visando ressaltar essa característica básica: o emprego funcional do “espaço”, seja ele gráfico ou mesmo real).
Nosso primeiro contato com obras desse grupo deu-se no ano passado, quando julgávamos os trabalhos remetidos para o concurso de poesia de O METROPOLITANO, ao lado de Ferreira Gullar e Ruth Maria Chaves; resolvemos, frente a totalidade dos trabalhos analisados, considerar o “poegoespaço” (naquela época ainda não conhecíamos o termo) CONTATO, de carlos alberto(*), como o melhor deles, tendo em vista principalmente o caráter de pesquisa e de experiência sempre saudável de que tal trabalho se revestia. Já ali, junto a procedimentos ainda confusos e pouco solucionados, se podia observar algumas das técnicas que o grupo iria desenvolver até os produtos mais atuais, de maior maturidade: a palavra “contato” sofri um processo de quase integral desintegração, por meio do qual as letras passavam a funcionar isoladas (“letras-tijolo”) ao lado de outras exteriores à palavra de origem, gerando, através da dinâmica espacial auxiliada por linhas de função centrífuga, interessante simultaneidade de significados transmitidos no corpo de uma síntese que eles denominam “edifício”.
Nossa curiosidade por outras possíveis experiências do grupo nos fez, daí em diante, acompanhar de perto suas atividades. A primeira Exposição Poesgoespacial, por eles realizada no pátio do Ministério da Educação, em novembro do ano passado, causou-nos — pela verificação de certos equívocos perigosos — alguma decepção e temor de que, daqueles trabalhos, nada pudesse se originar de realmente válido. Ma a 2ª. Exposição do grupo (no anexo do Museu Imperial de Petrópolis, em março deste ano) serviu plenamente para anular a má impressão deixada pela primeira: em meio a muitos trabalhos ainda equivocados e fracos, surgiam vários de visível valor, apresentando e desenvolvendo uma problemática nova, bem fundamentada e rica de conseqüências. Não nos cabe aqui, por premência de espaço, uma análise mais detida desses trabalhos, em especial os de da, nirham: eRos (iniciador do movimento; seu nome causa, desde logo, algum mal-estar, soa pretensioso: mas é ele mesmo quem explica que, sendo toda sua obra uma “construção”, sentiu necessidade de dar também a seu nome esse caráter de coisa construída), de carlos alberto e os de célio césar paduani. Fica para posterior ocasião.
Pretendemos apenas apresentar o artigo de da, nirham:eRos, para que as idéias e expressões por ele empregadas na permanecessem inteiramente no ar. Há nele, ainda, muita formulação exigindo mais amplo desenvolvimento e, talvez, alguma confusão de conceitos; mas não podemos duvidar da capacidade de pesquisa do grupo, de sua incessante preocupação em dar seguimento à primeiras experiências (e mesmo à mais recentes, pois, pelo que sabemos, são os primeiros, fora do grupo neoconcreto, a enfrentar e buscar soluções novas no campo dos não-objetos verbais) da nova poesia. Há, também, conquistas.
Por fim: tomando conhecimento de algumas pesquisas realizadas por Osmar Dillon, na fase que antecedeu a dos seus não-objetos verbais, é verificando a proximidade das mesmas com as experiências atuais do poegoespacialismo, solicitaram (os responsáveis por esta corrente) àquele artista do grupo neoconcreto que acedesse em apresentar suas referidas pesquisas durante a realização da 2ª. Exposição Poegoespacial, em Petrópolis. Daí a origem do presente artigo.
NOTA DE EDIÇÃO
Reencontrei os originais deste artigo de Roberto Pontual em meio a uma montanha de manuscritos, recortes, fotografias, etc., que guardo na Chácara Irecê, em Goiás. Texto datilografado. Faz referência a um artigo meu de cunho teórico sobre o poegoespacialismo, que estaria sendo publicado naquela ocasião, sendo o texto dele uma espécie de preâmbulo. Provavelmente tenham saído os dois textos no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (SDJB) ou no Metropolitano, onde estava o nosso amigo Arnaldo Jabor (ou Jabour, existem impressas as duas formas do sobrenome do notável cineasta e colunista).
Eu era muito jovem naqueles tempos, com menos de 20 anos, quando me meti com o poegoespacialismo.Conhecia bem o Pontual e o Dillon, e freqüentava o apartamento de Osmar Dillon, sempre em companhia de Roberto Pontual. Ele voltou a escrever sobre o Poegoespacialismo, anos depois, quando era professor da Puc-RJ, na revista Vozes (Ano 65, n. 3, abril 1971), texto que certamente iremos ainda publicar aqui na seção POESIA VIRTUAL em virtude de sua importância para o estudo da questão.
Mas nós dissolvemos o grupo poegoespacialista. Eu fui para a Argentina onde participei de movimentos de vanguarda verbal, como está registrado em outra parte desta página. E mais tarde migrei para a Venezuela, ficando isolado. Deixei com o Pontual parte de meus arquivos de experimentações verbais e voltei a vê-lo em duas únicas oportunidades, quando fomos assistir, em Copacabana, ao polêmico espetáculo dos Secos ¨& Molhados (em 1968, se não me engano, numa visita que fiz ao Rio de Janeiro) e no início da década de 70.
* Recentemente, tempos depois da publicação deste texto aqui no Portal de Poesia Ibero-amricana, saiu o livro ROBERTO PONTUAL: obra crítica / Oganização Izabela Puru., Jacqueline Medieiros. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013, ISBN 978-85-7920-127-0 em que, reproduzidos, às páginas 139, 140 e 162 os textos acima reprudozido,.
Veja também: Poegoespacialismo: |