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PARA UMA OUTRA LITERACIA

Por E.M. de Melo e Castro.

Por E.M. de Melo e Castro.

Prefácio da obra
POESIA ELETRÔNICA
negociações com os processo digitais

de Jorge Luiz Antonio
São Paulo: FAPESP; Itu, SP: Autor; Belo Horizonte,
 MG: Veredas e Cenarios, 2008. Livro e cd-rom.

ISBN978-85-61508-02-9

 

                   Um prefácio é uma interface que tenta estabelecer algum tipo de comunicação entre uma obra de um autor e os seus leitores. Mas essa interface não é absolutamente necessária pra que o leitor leia a obra em questão. Na verdade, um prefácio é sempre posfácio, já que foi escrito depois da obra, mas é colocado antes dela e pode ser lido em qualquer momento ou até não de todo lido, sem que isso prejudique a leitura da obra prefaciada.

                   É que um prefácio não é nem peça ensaística nem de genuína invenção literária. Mas apenas uma peça conviveu, talvez até paródica, no sentido dialógico bakhtineano, mas tão inútil como um poema e tão eficaz como um abraço de solidariedade e apreço para com o autor da obra prefaciada.

                   No caso presente, o prefaciador acompanhou, através de freqüentes trocas de e-mails, a elaboração deste livro que teve como origem a Tese de Dourado do seu autor. Essa intensa correspondência prolongou-se por vários anos, desde os primeiros projetos e realizou e realiza ainda, e que concorreram pra a feitura final da Tese, que logrou uma honrosa aprovação acadêmica, na Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC_SP), no ano de 2005.

                   Agora a tese aparece atualizada e revista no sentido de tornar o texto mais adaptado a uma leitura não acadêmica, nas não menos científica. Mas, principalmente, interativa com as matérias informativas que se encontram registradas num CD-Rom complementar. Poderá assim ser feita uma leitura multimédia, o que é certamente enriquecedor.

                   Quanto à pertinência e atualidade destas negociações entre os processos digitais e os processos criativos verbais e não verbais, geralmente designados por poesia, este livro indicia claramente a intenção e a ação do autor de realizar uma discussão sobre as razões que podem ser invocadas para o estudo das transformações que o uso das tecnologias estão já a causar no próprio conceito de poesia.

                   É certo que se poderá considerar que hoje, como ontem, ainda se escrevem e escreverão vários tipos de textos com características ditas de poesia: desde sonetos parnasianos, barrocos, simbolistas, a poemas politicamente “engage”, de amor ou elegíacos, pornô e até concretos! É também certo que a arte da escrita se pode e deve continuar a desenvolver e se transformar. Até mesmo a narrativa os clássicos, os modernos e os contemporâneos. É uma questão de cultura. Mas já é tempo de compreendermos que ler é uma coisa e escrever é outra. E ambas são diferentes da invenção e da poiesis que se projetam no desconhecido e no provável, à procura do ainda não existente, ou seja, o hoje no futuro. É isso que as tecnologias nos estão começando a possibilitar.

                   Porque não se trata já de ser radical quando se afirma que a infopoesia, a poesia eletrônica ou a poesia de computador (como se lhe deseje chamar) é a poesia deste nosso tempo, porque isso é um fato que se começa já a poder constatar, até porque não há outra poesia inovadora válida e adequada às características emocionais, sociológicas e até históricas deste início do século XXI.

                   Mas, desde há mais de 100 anos, no início do século XX, que as fontes da percepção humana vêm sofrendo uma aceleração. As descobertas científicas, os inventos tecnológicos, as criações artísticas, os impulsos psíquicos, as crenças religiosas, as situações sociológicas, os sistemas políticos ...foram sendo violenta ou sucessivamente sacudidos, postos em causa, redefinidos, questionados e substituídos...Até as novas noções epistemológicas do princípio do século XX foram postas em causa na segunda metade do mesmo século, como, por exemplo, a noção de “progresso” como motor da atividade e da felicidade humana. Vários novos paradigmas  surgiram para tentar entender as novas situações, tais como: a relatividade (Einstein), uma “outra ordem a surgir da desordem” (Prigogine), a “complexidade” como resultado da aceleração e do aumento exponencial da informação e da comunicação (Edgard Morin e muitos outros investigadores), a “informoesfera” na teoria da comunicação, o conceito econômico-político de “globalização”, até ao surgimento da “teoria do caos” e da geometria fractal (B. mandelbrot) como integradora da fragmentação na própria natureza e na experiência histórica e humana.

                   Perante a urgência das sucessivas revoluções das mentalidades e das relações sociais e econômicas, nesta tensão entre a disrupção e a construção de novos paradigmas culturais e científicos, os frágeis gêneros literários fixados pelas artes literárias, e herdeiros de Aristóteles, foram-se lentamente transformando. Passaram pela Idade Média, pela Renascença, plo Maneirismo, pelo Barroco, pelo Neoclassicismo, pelo Romantismo, pelo Realismo, quase incólumes. Mas, principalmente pela questionação e redefinição realizadas no Modernismo, já no século XX, os gêneros evidenciaram essa fragilidade, perante o Futurismo (italiano e russo), como perante DADA e o Surrealismo, ou Interseccionismo (Fernando Pessoa), a poesia Concreta, Experimental e visual (segunda metade do século XX) e o grupo TELQUEL (França, Anos 1960) e o desconstrutivismo de Derrida, que verdadeiramente desmantelaram todo o edifício retórico dos gêneros literários, propondo vários sistemas ou anti-sistemas mais adequados às práticas e à recepção literária contemporâneas.

                   Para esses gêneros até agora estabelecidos dentro de um só sistema sígnico (a literatura verbal e escrita), é precisamente essa mediação exclusiva que delimita a sua fixidez e, por conseguinte, a sua inadaptabilidade às situações plurais e abertas das transformações epistemológicas da sociedade e da cultura atual. Os novos gêneros digitais começam a definir-se em sistemas plurissígnicos abertos, justamente pelas possibilidades da transformação das formas, das estruturas e, consequentemente, dos conteúdos informativos que os meios tecnológicos proporcionam. Uma cultura em rede é agora não só possível, como já existe e o seu desenvolvimento é inevitável. Novos gêneros complexos, como por exemplo: poesia eletrônica, hipertexto, infopoesia, videopoesia, holopoesia, multimedia e outros, que Jorge Luiz Antonio pesquisa e apresenta (84 denominações), estão em gestação e vão sendo definidos pelos diferentes praticantes e criadores cibernéticos, sendo necessário ainda trabalhar para melhor os compreender, nas suas características e potencialidades estéticas e de comunicação. Apoiados nos novos meios, nos novos suportes e nas suas transformações, estamos agora perante uma verdadeira renovação polimorfa dos conceitos, da tipologia e dos gêneros: da invenção aberta para o futuro.

                   Para o leitor e utilizador inventivo das tecnologias, este é um dos maiores interesses deste livro, mas igualmente o Glossário, a Cronologia, a Bibliografia e a Antologia de poemas e textos teóricos que constituem os Anexos incluídos no DC-Rom complementar, contêm informação preciosa e difícil de conseguir assim sistematizada:

                   A poesia eletrônica, em suas diferentes fases, é composta por uma linguagem tecno-artística-poética e é sob esse viés que ela pode ser lida e apreciada.

                   A poesia eletrônica é um tipo de poesia contemporânea – formada de palavras, formas gráficas, imagens, grafismos, sons, elementos esses animados ou não, na maior parte das vezes interativos, hipertextuais e/ou hipermidiáticos e constituem um texto eletrônico, um hipertexto e/ou hipermídia. Ela existe no espaço simbólico do computador (internet e rede), tendo como forma de comunicação poética os meios eletrônico-digitais que se vinculam a esses componentes. De um modo geral, ela só existe nesse meio e só se expressa, em sua plenitude, por meio dele.

                   Este é um conceito geral, não uma definição definitiva, que Jorge Luiz Antonio propõe à nossa consideração, em coerência com a maior teorização realizada nos capítulos centrais do livro, tal como o autor nos apresenta nos seu “Resumo de abertura” (vide).

                   Não me cabe a mim, como prefaciador, ir mais longe na consideração do alto teor ao mesmo tempo informativo e teórico deste livro de Jorge Luiz Antonio. Mas gostaria de sublinhar que o trabalho se insere naturalmente numa vasta pesquisa que já produziu, recentemente, alguns notáveis livros, como por exemplo: Prehistoric Digital Poetry, An Archaeology of  Forms, 1959-1995, de C.T. Funkhouser (Tuscaloosa, USA:

The University of Alabama Press, 2007) e Media Poetry An International Anthology – Org. Eduardo Kac (UK e USA: Intellect Books, Bristol e University of Chicago Press, 2007).

                   Outros estudos de outros autores e em diversas línguas estão em elaboração ou no prelo, o que é uma manifestação do interesse artístico e científico que a poesia eletrônica e, de um modo geral, a arte informacional, estão criando e estabelecendo transnacionalmente, enquanto poetas de um tipo diferente aparecem, assim como se formas leitores-fruidores de uma nova literacia, multimédia e pansinestésica.

 

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