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“Na escrita bustrofédica, a explicitação da escrita sensorial se revelava pela organização que ela incorporava do espaço. O texto resultava da progressão das linhas que se ligavam alternativamente da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, formando um fio contínuo, como os sulcos traçados em um campo. Isso foi representado num dos mais antigos textos, o palíndromo latino:
S A T O R A R E P O T E N E T O P E R A R O T A S O aspecto fundamental desse sistema é a orientação gráfico-visual: a simetria criada pela multidrecionalidade da articulação verbal. No interior da simetria desenvolve-se uma leitura assimétrica, denunciando uma mobilidade no interior do código. A mesma frase pode ser lida nas colunas verticais e horizontais; da direita para a esquerda e vice-versa. O quadro é único: o semeador Arepo ara o campo. O palíndromo constitui-se, assim pela interação entre códigos gráfico-visuais e espaciais: campo escrito e campo semeado definem-se muito propriamente como texto”.
IRENE MACHADO
Extraído de OUTRAS LEITURAS: literatura, televisão, jornalismo de arte e cultura, linguagem interagente /Maria Helena Martins (organizadora). São Paulo: Editora SENAC; Itaú Cultura, 2000. p. 83-84.
PALÍNDROMO – Grego palindromos, que corre outra vez, pálim, outra vez, drom, correr. Diz-se das palavras, versos ou sentenças que podem ser lidas indiferentemente da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. No Dicionário de Termos Literários de Massaud Moisés, diz-se que se trata de uma “ mera curiosidade literária, ou jogo pueril, teria sido criado por Sotades, poeta grego do século III a.C. Deve ter copiado isso de outros dicionários, com o mesmo viés... de quem produz um dicionário voltado exclusivamente para a ”literatura”, ou seja, a convencional, não aprofundando em outros aspectos da escritura... Atribui-se a Gregório de Nazianzus o exemplo mais notável, também de origem grega (leia-se também de trás pra frente...):
NISPON ANOMEMATA ME MONAN OPSIN
(= LAVE SEUS PECADOS, NÃO APENAS SUAS MÃOS)
O exemplo apresentado por Irene Machado é um palíndromo latino encontrado numa parede romana em Cirencester, na Inglaterra, que significa:
AREPO, O SEMEADOR, SEGURA AS RODAS DURANTE O TRABALHO
Massaud informa ainda que este palíndromo ganhou a estima dos romanos também por constituir uma cruz em seu centro com as letras da palavra TENET.
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