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NEIDE SÁ
NEIDE DIAS DE SÁ É poeta-visual e mestre em Arte-Educação. Foi uma das organizadoras do lançamento do POEMA-PROCESSO em 1967. Participou da Bienal de Veneza em 1978; das Bienais de São Paulo.: em 1974 e 1978; da 3' Bienal lntemacional do México e1990. Dentre as exposiçôes individuais, destacamos "Revelaçião dos Rastros" no Museu Nacional de Belas Artes em 1998; e·E Casa de Cultura de Santa Cruz de la Sierra, Bolivia, 1995 e "Livro-Objeto" pela FUNARTE em 1985. Desenvolve o "Poemãos" desde 1973. Foi casada com Álvaro de Sà. Veja também: REVER RELER
MARGUTTI, Mário. Do Poema Visual ao Objeto-Poema: A trajetória de Neide Sá. Rio de Janeiro: Lacre, 2014. 176 p. 25,5x25 cm. ilus col. Capa dura ISBN 978-85-64833-14-2 “ Neide Sá “ Ex. bibl. Antonio Miranda
OS METASSIGNOS DE NEIDE SÁ (fragmento) Este mergulho nos metassignos atinge, nesta poética, variações e técnicas diversas, um leque generoso de suportes, um movimento coral, como mostra o itinerário deste livro dedicado à sua obra. Pertencem assim, a esta órbita, diversos trabalhos cuja exemplaridade chega até hoje como balizas estéticas (A Corda, 1967, Transparência, 1968, Reflexível, 1977, Registros, 1977) mas nos quais já se evidencia outra dimensão de trabalho e pesquisa bem além da planaridade, mais escultórica e espacial, como experiências visuais na fronteira da instalação ou ação (gráfica ou gestual, e de ordem participativa), já em outro patamar perceptivo.
A poética da artista visual vai ganhar então contornos além do movimento, cujas marcas foram moduladas para outra dimensão estética, e nas quais se podem sentir a permanente atenção pelo encantamento dos signos/imagens e formas/pictogramas, mas também pelo rigor de uma geometria sonhadora, assim como pelas ressonâncias multiformes e espirituais que a cultura oriental aporta. Assim, a sua obra promove resultados de ordem plural: aparte da visualidade dos signos como dança semântica autónoma - o agenciamento das letras e as imagens como sinais independentes ou toponímias sígnicas -, uma parte constitutiva se orienta para o campo do livro-poema, tão favorecedor para abrigar intervenções de distinta índole. A este itinerário devem somar-se experiências fotográficas — frottage/fotogramas - e trabalhos de arqueologia contemporânea - colagens com a superesposição de diferentes culturas escritas -, assim como a recente incorporação da manipulação da imagem pelos recursos informáticos ou os objetos poéticos de nova geração. ADOLFO MONTEJO NAVAS
“Os trabalhos de busca das raízes ontológicas da arte fixam-se na gênese das figuras geométricas simples — o círculo, o triângulo e o retângulo — que são formas encontradas tanto nas primeiras manifestações gráficas da criança, quanto se apresentam como herança comum às culturas nativas. / O entendimento do abstracionismo geométrico deu-se em torno do conteúdo de verdade desta herança, incorporando deste modo a geometria ao repertório estético do Ocidente.” ALVARO DE SÁ
CICLO INFINITO VIDA-MORTE POEMÃOS E FOTOGRAMAS : experimentações formais com luzes, sombras e meios tons
Publicada na revista BROUHAHA, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, Ano III, n. 10, setembro/outubro 2007, na edição especial dedicada aos POEMA PROCESSO, exemplar gentilmente cedido por nossos amigos/colaboradores WLADEMIR DIAS-PINO e REGINA POUCHAIN.
“Outro recurso utilizado pelo poema/processo é o objeto poema tido como “a qualidade comunicativa extra-estética”* O objeto poema se fundamenta na razão do poema/processo em não querer exprimir realidades, mas cria-las. “Processo não é um problema de estrutura mas de sistema.”** Ainda que não explicitamente o pema/processo vai de encontro à tendência funcionalista da arquitetura de Louis Sullivan, para quem a forma segue a função.*** “O poema já possuía a estrutura lógica do objeto mas o processo veio dar-lhe o envolvimento mesmo porque a forma está ligada à funçã. (...) O objeto despe-se do símbolo e o processo encerra um questionamento.”**** O poema se transforma em oferta de possibilidades de expressões novas: poema invólucro. O objeto poema de Neide Sá - “Transparências” - é um exemplo do recurso:
A autora utiliza como material o acrílico e trabalha a partir de recursos de transparência e luminosidade que este oferece. O objeto é composto por três cubos contidos uns nos outros e guardam uma informação - o poema objeto. Certas informações como luz e textura são ddas pelo próprio material. Segundo Moacy Cirne, “O poema/processo, quando voltado para o objeto, supera o múltiplo em potencial, e um múltiplo não repetitivo.***** Assim desenvolve-se uma ação lúdico-didática de consumo popular.”
*DIAS-PINO, Wlademir. Processo: linguagem e comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973. s.p. Extraído de MENEGAZZO, Maria Adélia. Alquimia do verbo e das tintas nas poéticas de vanguarda. Campo Grande MS: CECITEC/UFMS, 1991. p. 163
RESISTÊNCIA - Neide Sá
Extraído de
GALVÃO, Dácio. Da poesia ao poema: leitura do poema-processo. / Dácio Tavares de Freitas Galvão. Natal, RN: Zit Gráfica e Editora, 2004. 188 p. ISBN 85-89907-60-0 Dissertação de mestrado, Departamento de Letras da UFRN.
De imediato, a provocação densa neste poema é um fragmento de corrente em cor preta. É a imagem maior, formada por três elos marcados por vários sinais inscritos, fixados nas incrustações: seis sinais básicos se comunicando, formando e construindo a inscrição própria, manual, aparentemente caligráfica. Nessa amostragem, para melhorar a visibilidade, optamos por versão atualizada e digitalizada. Eles corresponderão a chave léxica descrita embaixo da corrente-signo -signo de repressão, da censura, da prisão de presos políticos. Na sequência posterior, lê-se em caixa alta, o vocábulo RESISTÊNCIA. Resistência à ditadura, ao regime politicamente arbitrário supressor de conquistas democráticas. Segue-se uma roteirização icônica decodificadora dos sinais ou pictogramas em seus equivalentes semânticos: do traço na vertical = do ser; do ponto = do ver; do triângulo = do nada; do "círculo = modo; da seta para cima e inclinada para a direita = futuro; e por último, a seta para baiw> inclinada a esquerda = passado". Esta é a semantização dos seis pictogramas poéticos, cada qual em direta significação. Nesse momento, o campo de compreensão se amplia e se presentifica. A ordem e o procedimento de leitura é variável, não havendo qualquer elo da corrente explicitando o princípio, o fim ou ainda sinais categorizados hierarquicamente. A aglutinação de sinais, a justaposição, a leitura diagramática ou o processo a ser desenvolvido ficam a critério do consumidor. Jogo de sentidos podendo ser estabelecido, fluído das leituras dos sinais —por exemplo, "passado do nada"; "futuro do ser, do ver"—, e assim por diante.
A leitura do Resistência é livre e a abertura interpretativa permite relacioná-la aos acontecimentos políticos da época. "Medo de ser futuro"; "de ser passado"; "do nada"; "de ver"; "de ser" são na verdade anúncios ou indícios da atmosfera psico-social indesejada, naquela altura dos acontecimentos na vida dos brasileiros. Na montagem de signos abundantes expõem-se a apropriação e a liberdade de associação. Neide Sá arbitra a direção de leitura através do léxico, se bem que a corrente-signo funciona iconizando denúncias de amarras e prisões numa primeira vista.
O poema de Neide Sá assemelha-se a outro, trazendo em comum o formalismo engajado, conteudístico, politizado: El Lissístsky, em 1920, na plena efervescência da revolução russa, produziria ur»-cartaz-poema no rigor de formas geométricas onde o significado político era ajustado à linguagem formal suprematista. Poema visual onde as figuras geométricas principais — triângulo e círculo — explicitavam discurso simbólico: o triângulo vermelho representava o Exército Vermelho atacando e o círculo vazado, em branco, os inimigos. No cartaz–poema de Lissistsky a evidência política é inconteste e não há dificuldade na leitura. Nele, não é etectável dependência de signos linguísticos, apesar de existirem”.* *Isso acontece quando da guerra soviético-polaca. Em 1921, ministra aulas na Academia de Moscou e depois, morando na Suiça passa a influenciar com a sua arte linha de atuação da Bauhaus.
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