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MÁRCIO ALMEIDA ================================================================= Extraídos de
METAPOEMAS
As presenças impuras Por que fica uma palavra perdida, sem função, a mais, a apodrecer a lavra do poema com um mas?
Que pensar permite o ruim na surpresa da emoção? Por que, se rígido, o sim condena à exceção?
É desse consentir o erro que a poesia faz sua função: ser o sujeito da falta, semente do nada, paixão?
Por que tantas perguntas, dúvidas latifundiárias, se a poesia é coisa junta de seus exemplos e párias?
Se não existisse, a poesia faria alguma diferença, ao fundar signos de pia com seus ócios e ciência?
Mas o que fundar num tempo alvo de pleno desígnio, o universo a vão do vento, a filosofia do signo?
A contradição,a profecia belomaldita da vida, paródia, secular via já do que antes era dúvida?
A poesia serviu ou servil à semelhança do criado serviço de linguagem – fio fundo a destino do dado?
Ossos do ofício O poema tem por função dar prazer, ser a crítica de si mesmo, matar a fada, o direito de sentir e de não ser, promover a recepção do nada. E dito assim – malícia natural, que de tão óbvio é de si estranhamento, voz que vê fundo numa forma de coral, ritmo que pensa e faz festa de momento. Trazer para fora o que é preciso não dizer, que é “dito, dado, consumado”, tudo. restam o diálogo e a memória do escrever, a escritura que reinventa o seu futuro.
Ritmo O que mais atrapalhou foi o seu melhor: a logopéia que dançou o seu sentido, metro musak, diálogo de condor, palavra ao pé do verso, letra de ouvido.
Culpa sonora esse opus para surdo, em que o soneto piora a forma mais tribal, mais menestrel que imagina o absurdo, coisa de rua , assovio, voz geral.
Pois é esta forma de falar que fala coisas dançadas em pauta de papel: teoria do sentir que se dá e cala
para ouvir outras vozes e assopros plugados, todos, nos fonemas da babel, rastros sonoros, tropicaliente, corpo. G- anchos A quantas vão os mantras a quantas a quântica quantas antes de Dantes há quantos sânscritos quantos íncretos quantos Sanches?
POUNDeração De minuto a minuto de mim nutro diminuto.
Recado em branco & preto Cuidado aí, meu caro amigo, com o fácil e o digestivo. Já não se escreve com o umbigo pra provar que se está vivo. Cuidado com a democracia verborréica e o pop poético. Poesia não é mercadoria, poeta é ser muito mais ético. Cuidado com o narcisismo, com a vaidade, o espelho meu. Facilitar é afundar no abismo e você só é bom sem o eu.
Cuidado ao nivelar por baixo, ao fazer média em jornal, bom poema não dá em cacho, poética não é sonrizal. Cuidado ao fazer o nome nas estâncias da camõenidade, pois não é poeta nem é homem o que se faz de Masõ ou Sade. Cuidado com drummondicídio ou com a bigorna do concreto: o abobril é o pão por suicídio de quem só poeta pelo reto. Respeita o que lhe desagrada que há lições inaprendidas. Melhor ser exceção à poetada que ser geléia-geral na vida.
Cuidado com o que lhe cega a luz da fama e da egolatrina. Poesia é o que lhe nega pra ser melhor quando assassigna. Cuidado com o crochê dos clichês do discurso-adjetivo na pauta. Poesia não faz grana ou michê e o seu melhor nunca fez falta. Cuidado com o agrado barato e retrocesso ao canto do chiste, que poesia pode ser este fato: onde você pensa que é, não existe.
Meu nome é Enéas! ou sobre o tráfico de influências Meu nome é Manley Mallarmédonne Joanocabralino Roseado de camposousândrade Signatari de Ávila Da Costa Carrollispector Pereira DrummondOtávio Klebnikove da Silva. Mais os chins.
(do livro Oficina de Nomes – 1995)
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. Ano XVII, No. 26. Editor Guido Bilharino. Capa: visual de Márcio Almeida. Uberaba/Brasil: 1997. 190 p. sapo ema insectívoro enfuste m ndo da
(do Primeiro Caderno Mostra) * Página ampliada em junho de 2024 * Página publicada e ampliada em junho de 2024
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