Marinetti na casa da Piazza Adriana em Roma,
Foto de Luxardo 1932.
FUTURISMO
"Anárquicos e incendiários, os futuristas promoveram um verdadeiro espetáculo de pirotecnia gráfica. Letras e fragmentos de letras tratados, como nunca antes, em sua dimensão visual. Um verdadeiro caos de tipos e de corpos [tipográficos]. Em seu rastro, embora bem mais nítida e consistente, veio a vanguarda russa. A consolidação da aliança entre poeta e pintor e entre poeta e designer. A preocupação, explícita e programática, com a visualidade escrita." ANTONIO RISÉRIO (in: Ensaio sobre o texto poético em contexto digital. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; COPENE, 1998. p. 48)
Filippo Tommaso
MARINETTI
(1876-1944)
A proposta tipográfica de Marinetti, pregando a “palavra em liberdade” era uma completa desconstrução dos conceitos gráficos da época, na medida em que rompia com a linearidade, as simetrias e todas as formas convencionais das artes tipográficas vigentes. Uma arte verbal revolucionária.
Texto extraído de
LEITE, Marli Siqueira. Ronaldo Azeredo: o mínimo múltiplo (in)comum da poesía concreta. Vitória (ES): EDUFES, 2013. 132 p. 20x20 cm. ilus. Projeto gráfico e diagramação: Isabelly Possatto. Capa: Isabelli Possatto e Willi Piske Júnior. ISBN 978-85-7772-155-9 Ex. na bibl. Antonio Miranda
Nota-se, no poema de Marinetti, a exploração anticonvencional da página, a variação tipográfica, a mistura de palavras, linhas e sinais: recursos já anunciados por Mallarmé.
Ao ampliar os conceitos artísticos, os futuristas permitiram maior aproximação entre as artes: poesia, pintura, escultura, música, dança, teatro, cinema.
Pretenderam, ainda, penetrar em outras áreas: além de supervalorizarem o poder da máquina, proclamaram a guerra e sustentaram, inclusive, alguns ideais fascistas. Se esse início do movimento propunha a destruição de tudo quanto havia no campo das manifestações artísticas (e não só), seu segundo momento, menos radical, já nas décadas de 1930 e 1940, configurava-se de forma mais construtiva e equilibrada. Os concretistas parecem ter absorvido traços, sobretudo, deste período.
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Imagem criada pelo artista Ardengo Soffici explicitando a liberdade no campo tipográfico, rompendo a estética convencional de seu tempo, inspirado pelas ideias futuristas.
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GIACOMO BALLA
– Desenho sobre cartolina do Movimento Futurista.
Fonte da imagem: MINISTERO PER I BENI CULTURALI E AMBIENTALI.
Marinetti e il futurismo. Roma: Edizioni de Luca, 1994.
Depois de ter alimentado um clima comum de entusiasmo, e de ter alcançado uma convergência de temas entre a poesia e a pintura na pregação do futurismo, e também na estrutura da linguagem, Marinetti se aproxima dos amigos pintores, promovendo o uso do valor figurativo das letras em seus quadros e desenhos.
Um bom exemplo é este de Giacomo Balla, um exemplo de “arte verbal”, diálogo da pintura com a poesia, no que tinham de comum no futurismo — a busca de uma estética livre, de integração das artes, usando o cartaz e os elementos da publicidade na comunicação poética e artística. A poesia se aproxima das artes plásticas, ganhando novas formas de representação e de apresentação. (A. M.)
Fonte da imagem: MINISTERO PER I BENI CULTURALI E AMBIENTALI. Marinetti e il futurismo. Roma: Edizioni de Luca, 1994.
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FUTURISMO – UM RESUMO
Movimento artístico e literário iniciado oficialmente em 1909 com a publicação do Manifesto Futurista, do poeta italiano Filippo Marinetti (1876-1944), no jornal francês Le Figaro. O texto rejeita o moralismo e o passado, exalta a violência e propõe novo tipo de beleza, baseada na velocidade. O apego do futurismo ao novo é tão grande que chega a defender a destruição de museus e cidades antigas. Agressivo e extravagante, encara a guerra como forma de “higienizar” o mundo.
O futurismo produz mais manifestos – cerca de 30, de 1909 a 1916 – do que obras, embora esses textos também sejam considerados manifestações artísticas. Há grande repercussão principalmente na França e na Itália, onde muitos artistas, entre eles Marinetti, se identificam com o fascismo nascente. Após a I Guerra Mundial, o movimento entra em decadência, mas seu espírito influencia o dadá. Artes plásticas –Tem o objetivo de criar obras com o mesmo ritmo e espírito da sociedade industrial. Para refletir a velocidade na pintura, os artistas recorrem à repetição dos traços das figuras. Se querem mostrar vários acontecimentos ao mesmo tempo adaptam técnicas do cubismo.
Na escultura, os futuristas fazem trabalhos experimentais com vidro e papel. O grande expoente é o pintor e escultor italiano Umberto Boccioni (1882-1916). Sua escultura Formas Únicas na Continuidade do Espaço (1913) – interseção de vários volumes distorcidos – é uma das obras emblemáticas do futurismo. Nela se percebe a idéia de movimento e força.Preocupados com a interação entre as artes, alguns pintores e escultores se aproximam da música e do teatro. O pintor italiano Luigi Russolo (1885-1947), por exemplo, cria instrumentos musicais e os utiliza em apresentações públicas.Na Rússia, o futurismo tem papel importante na preparação da Revolução Russa (1917) e caracteriza as pinturas de Lariónov (1881-1964) e Gontcharova (1881-1962).
Literatura –As principais manifestações ocorrem na poesia italiana. Sempre a serviço de causas políticas, a primeira antologia sai em 1912. O texto é marcado pela destruição da sintaxe, dos conectivos e da pontuação, substituída por símbolos matemáticos e musicais. A linguagem é espontânea e as frases são fragmentadas para expressar velocidade. Os autores abolem os temas líricos e incorporam à poesia palavras ligadas à tecnologia. As idéias de Marinetti, mais atuante como teórico do que como poeta, influenciam o poeta cubista francês Guillaume Apollinaire (1880-1918). Na Rússia, o futurismo expressa-se principalmente na literatura. Mas, enquanto os autores italianos se identificam com o fascismo, os russos aliam-se à esquerda. Vladímir Maiakóvski (1893-1930), o poeta da Revolução Russa, aproxima a poesia do povo. Outro poeta de destaque é Viktor Khlébnikov (1885-1922).Teatro –Introduz a tecnologia nos espetáculos e tenta interagir com o público. O manifesto de Marinetti sobre teatro, de 1915, defende representações de apenas 2 ou 3 minutos, com pequeno ou nenhum texto, poucos atores e vários objetos em cena.As experiências na Itália concentram-se no teatro experimental fundado em 1922 pelo italiano Anton Giulio Bragaglia (1890-1960). Marinetti também publica uma obra dramática em 1920, Elettricità Sensuale, mesmo título de uma peça sua escrita em 1909.
FUTURISMO NO BRASIL –O movimento colabora para desencadear o modernismo, que dominou as artes a partir da Semana de Arte Moderna de 1922. Os modernistas usam algumas das técnicas e discutem as idéias do futurismo, mas rejeitam o rótulo, identificado com o fascista Marinetti.
Texto extraído de: http://artmob.wordpress.com/movimentos-artisticos/
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