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O FORMIGUEIRO

De Ferreira Gullar

Rio de Janeiro: Edição Europa, 1991. 108 p.
ISBN 85-7091-012-6

 

A história deste livro não é muito clara... Tive acesso a um exemplar em casa de Wlademir Dias-Pino e Regina Pouchain, no Rio de Janeiro, recentemente. Sabia de sua existência, mas não tivera a oportunidade de conseguir um exemplar. Meus amigos me apresentaram, horas depois, ao editor – Alexandre Savio, da ALTADENA Comunicação e Sistemas Ltda, sucessora da Europa Editora, na abertura da exposição OBRANOME 2 (a remontagem, com acréscimos, da mostra realizada como parte da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, levada ao espaços do Parque Lage, no Rio de Janeiro, pelo curador Wagner Barja).

O editor prometeu enviar-me um exemplar do livro e entendi que não houve comercialização do livro no circuito das livrarias por causa da rejeição a uma obra sem texto... em verdade, um livro-poema montado pelo autor com letras set...  Hoje é peça rara, para bibliófilo... Embora conste no colofão que foram editados 1500 exemplares, sendo 500 fora de comércio, assinados pelo autor. Vamos esclarecer esta história, e atualizar esta página oportunamente...

E o poema?

Ferreira Gullar explica que o concebeu em 1955, como decorrência de sua luta com as palavras depois de “A Luta Corporal” (escrito em 1954). Quem conhece esta obra seminal de Gullar sabe que ele parte de uma linguagem convencional para a dissolução do discurso, a um beco sem saída em sua obra poética... Explica Gullar:


“A luta com a sintaxe tinha sido o problema central de A Luta Corporal, e O Formigueiro era apenas uma nova maneira de enfrentá-lo. Como essa luta com a sintaxe discursiva visa de fato valorizar a palavra (com toda a sua carga semântica) detendo o fluxo do discurso, a estratégia adotada então foi valorizá-la pela modificação da forma visual. Desagregar a palavra formiga, romper a forma linear da escrita, era de um lado acentuar a relação fisiognômica entre as letras e a coisa nomeada e, de outro, por à mostra o silêncio interior à palavra, a matéria semântica que parece materializar-se no branco da página.”

A explicação é longa (reproduzimos apenas um trecho, acima) e resulta difícil entender sem ver o poema.

O livro-poema só aparece em livro impresso em 1991, mas fragmentos do poema foram apresentados durante a já legendária Exposição Nacional de Arte Concreta (São Paulo, 1956), levada ao Rio de Janeiro em janeiro de 1957.

O Formigueiro não  se encaixava nos cânones da poesia concreta daquele momento. Gullar informa que montou seu trabalho em 1956 numa “promessa de livro-poema” (o conceito ainda não estava cristalizado) em formato de livro. Na Exposição de Arte Concreta apareceu com uma descrição — “é um poema de cinqüenta páginas nascido de uma palavra – a formiga -  que se desintegra em seus elementos (letras) e se reintegra em nova forma (...).”

Gullar confessa que descuidou do poema nos anos seguintes. Todos nós sabemos que ele entrou no movimento cultural da UNE, tentou o cordel, fez teatro político, foi um militante como exigiam aqueles tempos de chumbo e censura.

Reproduzimos aqui apenas a capa e duas das páginas da obra. É pouco ou quase nada para entender de que se trata. Que se crie a curiosidade e que leitores mais obstinados cheguem a algum exemplar. Se foram efetivamente editados 1500 exemplares, eles estão por aí... Se não — como pretendemos esclarecer — vão ter que esperar alguma oportunidade em alguma exposição, coleção privada, ou reedição.

Antonio Miranda, 22 de outubro de 2009.
 

 

 

 

 

 

 
 
 
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