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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DADAISMO NA POESIA

DADAISMO NA POESIA

Antonio Miranda

 

         Antes de entrar no assunto, caberia perguntar quem foi o nosso poeta Dadá.  Teria sido o Oswald de Andrade? Mas o Dadaismo é da segunda década do século XX e a irreverência do Oswald começa para valer depois de 22. Mas, sem dúvida, Oswald de Andrade tinha muito de dadaista tupiniquim. E o Sousândrade vocifearando em Wall Street? Pode ser... mas isso foi antes de Dadá. Mas não foi o dadaista Hans Arp que asseverou que "Antes da chegada de Dadá, Dadá já estava presente" ? Se Dadá for considerada uma atitude mais do que um estilo, então Sousândrade e Oswald foram dadaistas. E o dadaista que continua ativo, subversivo e irreverentemente provocador, é o nosso querido Reynaldo Jardim, o homem do SDJB, do neoconcretismo e da língua fônica que ele inventou para recitar poemas incompreensiveis! Sim, Reynaldo Jardim é o nosso Tristan Tzara!!! Ou melhor, o nosso Hugo Ball (vejam-no em sua couraça cubista, mais acima...)

         O Dadaismo nasceu na fundação do Cabaret  Voltaire, em Zurich,  em 1916 e foi torpedeado durante a I Guerra Mundial mas, espantosamente, se alastrou pelo continente europeu, embora a neutra Suiça fosse seu território mais seguro. Sabe-se que eles foram hábeis propagandistas de sua arte, ou antiarte. Promoveram concertos desconcertantes, sessões de poesia ininteligíveis e até sofreram agressões e suas colagens e esculturas chegaram a ser confiscadas e depredadas.  Entre nós, os modernistas da primeira hora, os concretistas e os tropicalistas não foram menos eficientes na auto-promoção. Sem esquecer do pessoal mais agressivo do Poema Processo, entre eles Wlademir Dias-Pino, na contestação ao beletrismo e às formas fossilizadas dos movimentos literários. Alguém se lembra do modernista que denunciou o perigo da praga do sonetococus a partir dos parnasianos?

         Mas os dadaistas não chegaram propriamente a formular propostas para sua poiesis. Apesar dos manifestos. Era muito anárquico o movimento para cair numa ortodoxia estética como pretenderam os concretistas da primeira hora. Vale a pena registrar, brevemente, dois casos específicos, dentre os muitos que exercitaram a criação poética no período.
 
         O caso mais conhecido é o de Tristan Tzara, conhecido mais pelas idéias que a ele são atribuídas do que por uma obra poética consolidada.

         Os dadaistas de Zurich propuseram e praticaram o poema criado ao azar, espontaneamente, sem qualquer intenção prévia. Casualidade. Tristan Tzara, em 1916, chegou a propor uma procedimento para a composição de textos. "Para criar um poema dadaista, pegue um jornal. Pega uma tesoura.  Escolha um artigo com a extensão do poema pretendido. Recorta em seguida cada uma das palavras que compõem o artigo e meta-as numa sacola. Agita-a suavemente. Em seguida, extraia os recortes um a um, tal como forem saindo da sacola. Anota-os cuidadosamente. O poema se assemelhará contigo." Esse procedimento, em princípio entendido como anedótico, acabou sendo adotado pelo artistas plásticos do século XX, principalmente com a adoção da collage e das montagens fotográficas para compor imagens insólitas. Muitos poetas tentaram escrituras automáticas, a começar pelos surrealistas, numa diversidade fantástica de propostas, e até os neobarrocos de hoje reinventam esta forma de composição ainda que mais articulada em seu discurso poético.
 

DADAISMO NA POESIA

 

         O caso mais extravagante é de Hugo Ball (1886-1927) que estudava filosofia e fazia ensaios de teatro com sua companheira Emmy Hennings. Numa de suas controvertidas aparições públicas, trajou uma fantasia cubista desenhada por Marcel Janco, em Zurich, 1916, para o escândalo do público. Dizem que começou a recitar coisas pelo estilo:

 

"Gadji beri bimba
glandridi lauli lonni cadori
gadjama bim beri glassala
flandradi glassala tuffm i zimbrabim
blassa gelassasa tuffm i zimbrabim..."



         O publico foi ficando irritado até que vieram os protestos e muitos se retiraram do local. Hugo Ball inventou os poemas fônicos, que logo foram adotados por outros poetas dadaistas. Palavras convertidas em sílabas fônicas, sem pretensão alguma de significado, rompendo qualquer pretensão funcional para a linguagem. Justificativa: "Com tais poemas fônicos pretendíamos renunciar a uma língua devastada e impraticável por culpa do jornalismo."

         Richard Huelsenbeck (1892-1974) , foi o responsável por levar o dadaismo à Alemanha, em 1917,  às vésperas do conflito que levou Berlim à devastação. Dadá também era uma forma de devastação. A antiarte e a antipoesia entravam na guerra contra o oficialismo e o dogmatismo vigentes.  A poesia se apresentava mediante expressões radicais para aqueles tempos: poemas-ruidos, poemas simultâneos e poesia estática. Vários recitativos concomitantes não davam lugar a nenhuma inteligibilidade dos textos...  Ali também o público reagiu de forma violenta e a polícia chegou a confiscar exemplares do manifesto, e originais dos "poemas" foram destruídos ou desapareceram. Huelsenbeck chegou a ser preso. Não obstante, considerou-se um verdadeiro sucesso o sarau poético!

         As obras dos artistas plásticos - Picabia, Arp, Duchamp, Ernst, entre muitos — estão nas galerias que ilustram a história da arte moderna do século passado. A obra dos poetas não teve a mesma sorte, perdura mais como uma lenda do que como uma realidade, mais como uma proposta do que como uma obra, mas não deixará de influenciar - e continuará influenciando - a criação poética dos tempos futuros, desde as suas raízes.

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C O M E N T Á R I O S

 

Nivaldete Niva Ferreira Muito proveitoso o seu artigo, caro Antônio Antonio Miranda. Li com prazer, mesmo no celular, letrinha miúda..., aumentando, diminuindo..., mas faz assim quem realmente quer ler, não é? ..... Bom, acho que, de modo geral, grandes rupturas na escrita poética acabam virando quase pura história, ao contrário do que ocorre(u) nas artes visuais/plásticas. Há muita resistência quando se trata da palavra. Cummings que o diga. Levou tanto 'não' das editoras que acabou dando esse título a um livro. E se a escrita é 'hermética', ganham-se poucos leitores. Talvez seja o caso de Paul Celan. Mas como gosto de sua escrita ombumbrada, um tanto surreal. "Dá sentido ao teu dito / dá-lhe a sombra". Mas os leitores, parece, na maioria preferem o que é possível compreender sem grande esforço. ... Deixo um abraço neste nosso carnaval de letras. Muito obrigada!.    24.02.2020 [Segunda feira de Carnaval!!]

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Perfeito, Antonio  Miranda.

É sempre bom perceber uma transformação,

mesmo que muito estranha, a fim de que surjam

novas técnicas. Sustos. E, depois, tudo se transforma

em memória.  O rosto de Marillyn Monroe usado como exemplo 

de variações do mesmo tema.

Parabéns por este estudo. Com carinho,
ALICE SPÍNDOLA – Goiania, 24/02/2020

 

 

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