CONCRETISMO: LITERATURA EM PÂNICO
Francisco de Assis Almeida Brasil, escritor e ensaísta piauiense, organizador de uma série de antologias de poesia de diversos estados brasileiros, mais conhecido por ASSIS BRASIL, é também o autor de um trabalho pioneiro: CONCRETISMO: LITERATURA EM PÂNICO. Publicado em 1960 como folheto (à moda de uma separata, 24 páginas, incluindo a capa) pela Associação Brasileira do Congresso pela Liberdade da Cultura, é talvez a mais antiga "história" do Concretismo entre nós. Assis Brasil narra todos os lances do movimento da vanguarda poética desde a I Exposição Nacional de Arte Concreta, que aconteceu em dezembro de 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a partir da Santíssima Trindade: Haroldo e Augusto de Campos e Decio Pignatari; sua evolução no Rio de Janeiro (a partir da exposição carioca e a adesão do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o SDJ, liderado pelo Reynaldo Jardim, e o engajamento de poetas residentes na cidade como Ferreira Gullar e Wlademir Dias-Pino, na primeira hora; e detalha todo o processo de cisão entre os grupos paulista e carioca em torno dos postulados teóricos, dando lugar ao Neoconcretismo (*1).
O texto analisa todo o que se intitula como Paideuma do movimento, sobretudo os precursores (sic) Mallarmé, Pound, Joyce, Cummings, e os brasileiros Oswald de Andrade e João Cabral de Melo Neto "apontados como os primeiros escritores que começaram a trabalhar uma linguagem mais funcional e objetiva" (p. 5), e citando a adesão entusiasta de Manuel Bandeira que já fizera experiência (à Mallarmé, usando o espaço da página para ampliar o sentido do verso) conforme é o exemplo
Os girassóis
amarelo!
resistem.
que está no poema "Pensão Familiar" de 1925, no início mesmo do Modernismo.
O texto vai mais longe, apreentando os fundamentos teóricos e analisando poemas de autores como Wlademir Dias Pino. Ferreira Gullar, Ronaldo Azeredo. Um resumo da fundamentação teórica dos movimentos concretista e neoconcreto, de forma bastante imparcial, indo até à proposta de uma "prosa neoconcreta" ("abrindo um campo novo para as experiências expressivas" da "prosa dita não discursiva") que, ao contrário da bem sucedida ação dos artistas plásticos do neoconcretisomo (Lygia Clark, Ligia Pape, Amilcar de Castro) não transcendeu, a julgar pelo juizo que faz da novela de Reynaldo Jardim.
Peça fundante da literatura sobre o Concretismo e o Neoconcretismo, o opúsculo de Assis Brasil está hoje restrito a coleções particulares, em virtude de existirem escassos exemplares conservados, por causa da rusticidade e fragilidade da edição. (A. M.)
(*1) "Seria o caso de ponderarmos que se o neoconcretismo repõe o problema da expressão para exprimir a complexa realidade do homem moderno, dentro de uma nova linguagem estrutural, contida, funcional, objetiva, aquelas noções de forma, espaço, tempo, ligados a uma experiência vital do artista, seriam também passíveis, na nova estrutura, de uma contenção no sentido de um não derrame subjetivista. Se o problema da arte concreta é transmitir "estruturas claras", o neoconcreto voltou, às vezes, a uma valorização exagerada do subjetivo, que "obscurece" o poema, como é o caso da maioria das produções de Theon Spanudis, que aderiu recentemente ao neoconcretismo e publicou livro" (refere-se ao livro Poemas, Coleção Espaço, 1959". Assis Brasil, op. cit. p. 15 |