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CONCRETISMO COMO NEOVANGUARDA
NA VISÃO DE ANTONIO RISÉRIO

 

por Antonio Miranda

 

 


         Existem muitos ensaios que afirmam e contradizem a importância do Concretismo na consolidação da vanguarda no Brasil e no mundo. Um dos que mais aprofundam a questão é, sem dúvida, o de Antonio Risério. Vamos deixar os demais para outros estudos  — Philadelpo Menezes,  Ángel Crespo, Assis Brasil, Gonzalo Aguilar, Flora Susseking e Julio  Castañon Guimarães, E. M. de Melo e Castro, José de Souza Rodrigues, Wlademir Dias-Pino, Roberto Pontual, Mário Faustino, José Fernandes,
 Paulo Franchetti, Ana Hatherly, Antonio Sérgio Mendonça e Álvaro de Sá, José Paulo Paes, Neide de Sá, Lucia Santaella, etc.  E vozes mais questionadoras como as de Lucia Cabañas e Bruno Tolentino, sem esquecer das invectivas tão desabonadoras e precipitadas de Olegário Mariano quando surgiu o Concretismo.

 

         Quem tentou traçar as origens e sedimentar teoricamente o processo das vanguardas foi (é!!!) Antonio Risério em seu livro Ensaio sobre o texto poético em contexto digital (Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; COMPENE, 1998, 210 p., Col. Casa de Palavras - ISBN 85-7278-032-7).

 

          Obra imprescindível para quem pretenda entender o processo evolutivo (sic) das vanguardas até o final do século 20. Mas é uma obra que transcende o seu momento de redação e se projeta sobre os tempos atuais de tecnologização da cultura — da cultura digital — com absoluto domínio de seus fundamentos e prospecções. Deve ser lido por quem pretenda aprofundar-se no tema a partir de uma base teórica bem fundamentada, em estilo fluído, sem pedantismo, mas revelando paixão e compromisso com o tema. Um livro muito pessoal, fascinante, erudito sem ser pernóstico, visionário sem ser fantasioso. Pena que esteja praticamente esgotado, e que não tenha boa distribuição.  Mas é possível adquiri-lo, com alguma paciência, pela internet.

 

         Analisando a transição das vanguardas mais radicais dos futuristas e dadaistas, as erupções de ismos e movimentos ortodoxos, as reações dos conservadores — nazistas e bolcheviques considerando tais experimentos como degenerações sociais... — e até dos restaurados neoclassizantes do pós-guerra, Risério nos leva às neovanguardas. É possível subentender que ele  compreendeu a transição da ortodoxia do Concretismo da primeira hora para a sua flexibilização posterior, num processo de sedimentação consequente. Arremata da seguinte maneira esse rito de passagem da avant garde — que chegou a ser considerada um "callejón sin salida" "cul de sac" — para um estágio de maior liberdade e ecletismo no processo criativo:

 

 

"O que eles não esperavam era que, ao ímpeto anarco-romântico das "vanguardas históricas", sucedesse, para reacender com vigor e rigor o fogo da invenção, o fenômeno neovanguardista. Na verdade, a década de 1950 é decisiva para a formação do panorama em que hoje nos movimentamos. Período da concepção da pílula anticoncepcional, da explosão do rock'n'roll, do avanço da televisão, do "sputinik" e dos "luniks" iniciando a Era Espacial, da afirmação dos computadores eletrônicos, etc., este é também o momento das "neovanguardas", substituindo as formulações fragmentárias e a pirotecnia verbal dos futuristas pelo programa coerente, o "plano piloto", espécie de "alta pesquisa" estética de caráter quase laboratorial. Seu exemplo mais acabado, como bem viram Max Bense e Octavio Paz, está no movimento internacional de poesia concreta, konkrete dichtung, e em especial no concretismo brasileiro, nucleado no grupo noigandres. Paz (Signos em Rotação) disse alto e bom som: no Brasil, sim, existe uma vanguarda autêntica. Para resumir, essa militância neovanguardista teve uma virtude tríplice: a) retirar do black out as vanguardas históricas e experiências anteriores, como a de Mallarmé (não será demais recordar que, quando a poesia concreta brasileira tomou Mallarmé como ponto de partida para a sua aventura, a crítica francesa ainda classificava o Coup de Dés como "fracasso"), e sistematizar esse repertório; b) promover uma intensa didática estética, para arrostar o tradicionalismo e criar um ambiente favorável ao trabalho experimental; c) abrir novos caminhos. A vanguarda concretista, com a sua alta consciência metalingüística, foi assim uma prática e uma pedagogia, tendo dado lições de Weltliteratur, com um trabalho multilíngüe de tradução (russo, hebraico, chinês, grego, alemão, etc.), e ainda modificado substancialmente a historiografia e a crítica literárias brasileiras, revalorizando ou ressuscitando figuras como as de Gregório de Mattos, Sousândrade, o simbolista Kilkerry e Oswald de Andrade.

 

Pois bem: a viagem poética pelos novos media — da holografía à poesia no computador — descende em linha direta das vanguardas históricas e das neo vanguardas. Augusto de Campos, por exemplo, encarnação de uma inquietude essencial diante do mundo dos signos, migrou da ortodoxia concretista para os jogos verbais computadorizados. Passou a se exercitar, assim, na quadra estética frequentada pela geração de Arnaldo Antunes. Mas há, agora, uma grande diferença. As vanguardas estéticas novecentistas pertencem, hoje, ao domínio da história. Já é possível olhar com isenção, sem ansiedade, para aqueles eventos traumáticos que incendiaram palcos e cenários da produção estética ocidental, quando se chegou mesmo a debater, com insistência, o tema da "morte da arte". No afã de atirar fora dos ombros o peso da herança, foram os próprios vanguardistas que decretaram várias vezes o acontecimento fúnebre. Que frisaram ao exagero a contraposição vida (presente, criação)/arte (história, tradição), em discursos de base e feitio nietzschianos. Que tocaram os trompetes estridentes da antiarte. Do outro lado da cerca, conservadores e tradicionalistas não se cansaram de dizer (e, não raro, berrar) que "aquilo" — vale dizer, a criação de vanguarda — não era arte. Esta, felizmente, ficou acima das tribos em confronto, segura de seu passado, enriquecendo-se de seu presente.  (ANTONIO RISÉRIO, op. cit. p. 71-72

 

 

 

A literatura internacional sobre o Concretismo e sucedâneos no Brasil e no mundo é vastíssima.  Voltaremos ao assunto no Portal de Poesia Iberoamericana, com resenhas e fragmentos das obras, para os estudiosos do tema, motivando-os para que leiam os originais na íntegra. Um dos últimos títulos em nossa mesa é Spatialisme et poésie concrète, de Pierre Garnier , publicado pela celebérrima editora Galimard, de Paris, em 1968.  Um título entre muitos, mas pioneiro e sério, que traça um panorama da criação concretista mundial naquele momento, reconhecendo o pioneirismo dos brasileiros.  É certo que o concretismo que praticavam fora do Brasil estava mais para o que nós consideramos "arte verbal", hibridez de poesia com artes pláticas, onde às vezes a palavra, ou apenas letras, aparecem como elementos decorativos, nem sempre. mas também sim, é óbvio, com sentido e até discurso. Hoje a denominação "genérica" adotada é Poesia Visual, e seus sucedâneos Infopoesia, e-poesia, etc. etc    Mas este é assunto para outras resenhas...

  

 

Melhor mesmo é ler a obra de Antonio Risério integralmente!!!

 

 

 

Antonio Miranda - Brasília, 24 dez 2010

 

 

 


 

 

 
 
 
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