Hommage a Guillaume Apollinaire,
por Vicente do Rego Monteiro, Paris, 1960
APOLLINAIRE
“Há algo de infantil no caligrama, e disso não escapam os Caligramas do poeta francês Guillaume Apollinaire, escritos durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e publicados em 1918. De fato, o caligrama, por ser escrita-imagem (uma mistura de caligrafia e ideograma), lembra os primeiros passos voltados para a alfabetização, quando a criança desenha e, gradativamente, introduz nos seus desenhos letras, e depois palavras. Entretanto, longe de voltar para uma certa ingenuidade que remeteria ao desejo de uma inocência perdida, o caligrama possui o inigualável poder de erupção. / Erupção dentro da unidade da palavra, erupção na linearidade narrativa do discurso, criando ilhas textuais circundadas pelos brancos que preenchem o papel de sintaxe, erupção, enfim, da visibilidade na legibilidade e do figurativo na ordem do signo lingüístico.” Véronique Dahlet
Palavra de Véronique Dahleta, no prefácio da tradução exemplar e oportuna da obra de Apollinaire, feita por nosso amigo, o poeta Álvaro Faleiros:
Guillaume Apollinaire
CALIGRAMAS
Introdução, organização, tradução e notas de
Álvaro Faleiros
Cotia: Ateliê Editorial; Brasília: Editora UnB, 2008.
ISNB 978-85-7480-405-7 – ISBN 978-85-230-1239-7
Leia também sobre Caligramas em nosso Portal;
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/caligramas.html
reconheça
essa adorável pessoa é você
sem o grande chapéu de palha
olho
nariz
boca
aqui o oval do seu rosto
seu lindo pescoço
um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate
aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem
APOLLINAIRE, Guillaume. Álcoois. Poemas (1898-1913). Tradução de Daniel Fresnot. São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2005. 167 p. 11,5x18,5 cm. Capa: Ilustração de Marcellin Tallbot.
A “Coleção a Obra-prima de cada Autor” da editora Martin Claret pretende promover a leitura em toda extensão, no sentido de “criar, inovar, produzir e distribuir, sinergicamente, livros da melhor qualidade editorial e gráfica, para o maior número de leitores e por um preço economicamente acessível.” Estão expostos em livrarias físicas de todo o país e pela internet ( http://martinclaret.com.br/ ), além de livrarias e sebos digitais. Estamos divulgando dois poemas deste livro exponencial de Apollinaire, na tradução competente do franco-brasileiro Daniel Fresnot, que, além da literatura, trabalha na ação social. Vale a pena ir ao livro original e a outros títulos da referida coleção!!!
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Poemas a Lou
(também publicados sob o título "Sombra do meu amor")
Incluir a imagem do calligramme em francês...
A Lou homenagem respeitosamente apaixonada
Morrer e saber enfim a irresistível Eternidade
Oliveiras vos bateis como fazem às vezes as suas pálpebras
Por este livro duro e preciso na alegria
aprenda ó Lou a conhecer-me a fim de não mais esquecer-me Vossa cabeleira igual ao sangue derramado Vos saúdo Lou como faz vossa árvore preferida a palmeira inclinada do grande jardim marinho erguido como um seio mas trepado no abismo eu domino o mar feito um mestre e deixo aqui mesmo apesar de vós vosso pensamento o mais secreto
Guillaume Apollinaire
A Ponte Mirabeau
Sob a ponte Mirabeau corre o Sena
E nossos amores
A memória acena
A alegria vinha sempre depois da pena
Que venha a noite soe a hora
Os dias vão embora
Mãos nas mãos ficamos rosto com rosto
Enquanto sob a ponte
Nosso encosto
Passa a eterna água do desgosto
Que venha a noite soe a hora
Os dias vão embora
O amor vai com esta água cinzenta
O amor vai
Como a vida é lenta
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DUAS PALAVRAS: Uma publicação da Biblioteca Pública Estadual Luis de Bessa. Belo
Horizonte, MG; 1983-
v. 1- No. 0-Out. 1983- Ex. bibl. Antonio Miranda
31 POETAS, 214 POEMAS. DO RIGVEDA A APOLLINAIRE. Uma antologia pessoal de poemas traduzidos, com notas e comentários de Décio Pignatari. Capa: Silvia Massaro. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 132 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
CENA NOTURNA DE 22 DE ABRIL DE 1915
(Gui canta para Lou)
Meu lobinho adorado queria morrer no dia em que você amasse
Queria ser bonito para que você me amasse
Queria ser forte para que você me amasse
Queria que a guerra recomeçasse pra que você me amasse
Queria agarrar você para que você me amasse
Queria dar palmadas na sua bunda para que você me amasse
Queria maltratar você para que você me amasse
Queria que estivéssemos sós no estudiozinho junto ao terraço
[deitados na cama do fuminho de ópio
[para que você me amasse
Queria que você fosse minha irmã para amar você
in-ces-tu-o-sa-men-te
Queria que você fosse minha prima para que a gente pudesse
[se amar bem jovem
Queria que você fosse meu cavalo para cavalgar você muito
[tempo muito tempo
Queria que você fosse meu coração para sentir você sempre
[em mim
Queria que você fosse o paraíso ou o inferno conforme o lugar
[onde eu vou
Queria que você fosse um menino para que eu fosse o seu
[professor
Queria que você fosse a noite para eu amar você nas trevas
Queria que você fosse a minha vida para que ela fosse só de
[você
Queria que você fosse um obus alemão pra me matar de um
[amor súbito
AS JANELAS
Do vermelho ao verde todo amarelo morre
Quando cantam as araras nas florestas natais
Cavalos-de-brisa de pihis
Aves chinesas de uma asa só voando em dupla
É preciso um poema sobre isso
Enviaremos mensagem telefônica
Traumatismo gigante
Faz escorrer os olhos
Garota bonita entre jovens turinenses
O moço pobre se assoava na gravata branca
Você vai erguer a cortina
E agora veja a janela se abre
Aranhas quando as mãos teciam a luz
Beleza palidez insondáveis violetas
Tentaremos em vão ter algum descanso
Vamos começar à meia-noite
Quando se tem tempo tem-se a liberdade
Marisco Lampreia múltiplos Sóis e o Ouriço do crepúsculo
Um velho par de sapatos amarelos diante da janela
Tours
As Torres são as ruas
Poços / Depois
São praças lugares
Depois / Poços
Árvores ocas que abrigam alcaparras vagabundas
Os Chabinas cantam árias de morte
Às Chabinas fugitivas
E a gansa uá-uá trombeta ao norte
Onde os caçadores de roedores
Raspam as pelúcias
Faiscante diamante
Vancouver
Onde o trem branco de neve e fogos noturnos fogem do inverno
Ó Paris
Do vermelho ao verde todo jovem perece
Paris Vancouver Hyères Maintenon Nova York e as Antilhas
A janela se abre como uma laranja
O belo fruto da luz
A PONTE MIRABEAU
Escorre sob a ponte e o rio Sena
E em nossos amores
A lembrança me acena
Vinha sempre o prazer depois da pena
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
Mãos nas mãos esperemos face a face
Até que sob a ponte
Dos nossos braços passe
O eterno desse olhar em nosso enlace
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não sou embora
O amor se vai somo água turbulenta
Assim o amor se vai
E como a vida é lenta
E como esta Esperança é violenta
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
Os dias passam as semanas
Não voltam o passado
Nem as paixões humanas
E o Sena flui em águas soberanas
Que venha a noite e soe a hora
Os dias se vão não vou embora
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL -Ano 2, Número 4, jul./dez. 2020. Brasília, DF. Editora Cajuína. 138 p. ISSN 2574-8495
TRADUÇÃO DE JOSÉ JERONYMO RIVERA
A PONTE MIRABEAU
Sob a ponte Mirabeau corre o Sena
E o nosso amor
Ela a lembrar me ordena
Vinha sempre a alegria após a pena.
Vem a noite a hora soou
Vão-se os dias eu não vou
Mão entre as mãos quedemos face a face
Ao tempo em que
Dos braços sob o enlace
A onda cansada das miradas passe
Vem a noite a hora soou
Vão-se os dias eu não vou
O amor se vai como esta água cinzenta
O amor se vai
Oh como a vida é lenta
E como a Esperança sé violenta
Vem a noite a hora soou
Vão-se os dias eu não vou
Passa do tempo a sucessão serena
E nem dor
Nem o amor volta à cena
Sob a ponte Mirabeau passa o Sena
Vem a noite a hora soou
Vão-se os dias eu não vou
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/poesiamundialportugues.html
Página publicada em setembro de 2023
Página publicada em fevereiro de 2009. Ampliada e republicada em março de 2018; Página ampliada em agosto de 2020
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