só
poema visual de
ANTONIO MIRANDA
Comentário crítico sobre o poema extraído do livro:
FERNANDES, José. Poesia e ciberpoesia. Leitura de poemas de Antonio Miranda. Goiânia: Kelps, 2011. 170 p. ilus. col.16X22 cm
ISBN 978-85-400-0216-6
(...) “no momento em que a palavra parece se minimizar, (...) é que ela se agiganta e se torna o grande verbo, como observamos no poema S, em que temos apenas uma letra que se desprende ou se conforma a um labirinto. Ora, não sem motivo, a letra [S] coliga-se, tanto em sua conformação hieroglífica, quanto em sua evolução para o alfabeto latino, à acepção de movimento. Mais que isso, conjuga-se ao poder do movimento, sempre a elevar-se a outra esfera, como uma fonte de energia prestes a explodir. Assim entendida, ela, na verdade, se desprende do centro do poema, do labirinto, a fim de materializar a travessia do ser à essência, ao sublime, simbolizado pelo labirinto e, sobretudo, pela posição vertical assumida pela letra [S], que incorpora o sentido metafísico de ser.
No interior do poema-labirinto pode-se ler a palavra So e sua explosão expressa em ondas que se desprendem do vocábulo, a fim de substantivar o procedimento necessário à verticalização e, ao mesmo tempo, ao mergulho imprescindível dentro do ser labiríntico. O sentido do só demonstra que se trata de uma viagem em que se não encontram parceiros, em que se não dispõe de colaboração e, sobretudo, de que não se delega a ninguém, uma vez que ela é única e singular no plural na existência. Além disso, o Só revela o mínimo múltiplo comum dos que conseguem empreender a travessia do labirinto ao esplendor das alturas, mediante a verticalização operada no interior de quem se transfigura, de quem ultrapassa os próprios limites e ascende ao divino. Esta interpretação se fundamenta na letra [o], minúscula, e menor ainda, se comparada com a exuberância do S: uma fonte pequena que explode e conforma o infinito, mediante sua propagação em ondas e linhas labirínticas que procedem ao movimento do interior para o exterior e do exterior para o interior.
Sob esta ótica, podemos ler também a transformação por que passa a palavra, o logos, na repetição do ritual e do rito da criação. Basta verificarmos o fio que liga o S central ao S superior, para constatarmos que ele realmente incorpora o movimento de ascensão do ser e da palavra e que pode ser lido como S de sublime, de supremo, de superior. Sublime, porque passou do caos ao cosmos, do nada ao tudo, da palavra em si à palavra poética, do físico ao metafísico, pois proceder à inserção no labirinto, como bem o dizem Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (1969, 555), é introduz o ser e o discurso poético em uma caixa invisível, sempre envolsta de mistérios que cada um pode preencher segundo a sua intuição ou suas afinidades pessoais com o poético.
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dictionaire dés symboles. Paris< Robert Laffont / Júpiter, 1969.
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