AMARILDO ANZOLIN
No panorama que pretendo traçar da poesia experimental e visual brasileira não poderia faltar o trabalho instigante do multimidiático Amarildo Anzolin de quem temos o conjunto “Única Coisa”, composto de um videocassette, um CD e um livro, de 1999. Quando for possível, divulgaremos obras mais recentes. Antonio Miranda
“Sua poesia, de procedimento experimental, faz uso de veículos disponíveis (computador, vídeo e instrumentos musicais) para chegar numa confluência de linguagens (videoarte, música, arte eletrônica, performance, artes plásticas, fotografia, etc.) que modulam a (sua) “única coisa”. É nessa zona de fronteira, minada de meios, sentidos, signos, que os poemas ganham identidade e não disfarçam as tensões entre “limpo” e “sujo”, lirismo e técnica, rigor e vida. Essa consciência de linguagem e tempo confirma ser um trabalho intencionalmente contemporâneo. Amarildo sabe que a experimentação na acabou com o fim dos movimentos de vanguarda e que a poesia será sempre “uma viagem ao desconhecido”(Maiakovski)” RICARDO CORONA
De
Amarildo Anzolin
ÚNICA COISA
[Curitiba LRM, 1999]
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De:
ANZOLIN, Amarildo. Co-lapso. Curitiba: Ócios do Ofício, 1995. 42 p. ilus. 15x20 cm. Poemas textuais e visuais. Col. A.M. (EA)
ANZOLIN, Amarildo. Evite permanecer nesta área. São Paulo: Musa Rara /Terracota, 2012.168 p. ilus. ISBN 978-85-62370-59-5 Foto da capa: Renaro Lerini. Fotos do miolo: Amarildo Anzolin e Bruno Brum. 14x21 cm.
EVITAR SUICÍDIOS
O clássico pescoço,
o dramático pulso,
o estático prédio,
o carismático oceano,
harakiri autêntico,
mata-ratos,
mequetrefe,
por amor,
ódio a si mesmo,
os suicidas não são ociosos — mais ciosos, maliciosos.
Não resta pó sobre pó em cadafalsos,
pólvora nos tambores (modo pop'),
armas brancas (metafísicas) não perdem o fio,
a linha do metro interrompida atrasando o fluxo,
pontes americanas repletas de candidatos,
alguns impedidos por samaritanos ou cineastas
(é estranho alguém tentar evitar esse evento).
As receitas na cozinha do delírio-delícia de Hilda Hilst,
A Rússia já foi superpotência na arte de.
Pomerode lidera na ânsia de partir por náusea ou vácuo.
Gases, voando pelos ares, homens-bomba — nada mais
[filosófico para Camus
Há algo de sagrado e demoníaco em cada suicídio.
BRIGA DE GALOS
COMO DOIS BOXEADORES fitam, estudam, giram. Talvez no fundo,
preferissem interromper ou, antes, nem começar. Ou nem ter
cogitado começá-la, em ritmo e fluxo infinitos. Mas quando
atacam, atracam, atraem-se magneticamente, de galos
passam a frango, morto, depenado. Em seguida, a frangalhos:
retalhos de vontades. E, por fim, a uma vaga ideia que nem
eles, muito menos os espectadores, precisam definir.
Extraído de
CÂNDIDO – JORNAL DA BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ
Julho 2016, contracapa:
FANTASIA GRÁFICA DO CARNAVAL
toda nua:
inclusive, sem pelos — própria página em branco:
duas vírgulas — uma para cada pé, fazendo as vezes de salto:
um coque com um til fincado:
nas costas, um breve abre e fecha aspas:
asas
LOST AND FOUND
Perdi o voo
Esbarrei num amigo que não via há tempos, na escada rolante
Tomei um chope
Olhei uma moça que perdia um pombo de vista
Assisti à lua de camarote
Derrubei a mochila,
que dentro tinha um volume d´Anatomia do Paraíso
Sujei a calça no joelho
Fiz anotações
Lembrei de uma tela do Ianelli
Saí deste poema
O POETA É UM PÁSSARO
‘ o poeta é um pássaro que voa contra a vidraça
o poeta é um pássaro que vai de novo
contra a vidraça
mas sem querer quebrá-la
o poeta é um pássaro ferido
que continua voando
o poeta é um corpo boiando na piscina
o poeta é um que observa da sacada
o corpo boiando na piscina
antes de chamar a polícia
o poeta é aquele que no meio de caminho
em direção ao telefone
decide voltar à sacada
e continua olhando o corpo afogado na piscina
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FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
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AMARILDO ANZOLIN – Também. Curitiba, Paraná; Editora Medusa,
2023. 144 p. Inclui um CD. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
bater boca
fazer justiça
com a própria fala
mas quem pode mais
fala menos
*
consenso então seria um sussurro
mas eis a inevitável essência musical
desses versos inúteis
*
linguagem
êxito
ou hesitação
da realidade
*
a voz
com calos
calada
calejada
não se faz
de rogada
*
escritura
dura
im
pura
criatura
mulher
(se
deixando
gueixa)
de guarda-
chuva
andando
como quem
se congelasse
- eu
engolindo
essa imagem
a seco —
*
Página ampliada e republicada em março de 2024
Página ampliada em agosto de 2016; ampliada em dezembro de 2016.
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