ABRACADABRA
“Ao desvelar os sentidos simbólicos de cada elemento que compõem um poema, o crítico está revelando também os procedimentos estéticos implicados em sua composição. Assim, a análise de todos os signos e símbolos é um imperativo, pois, por mais insignificantes que pareçam, podem estar escondendo alguma artimanha do autor e a consciência de se estar criando um texto artístico. Uma amostra palpável da união da arte com a magia e de forme artifício literário é a palavra-poema Abracadabra que, segundo Jean Rivière, vem do hebreu abreg ad habra [representada no alfabeto hebreu no poema visual abaixo], que significa: envia teu raio (fogo) até a morte.
O significado, se concordarmos com Chevalier e Gheerbrant que a palavra-triângulo visa a atrair as energias positivas do alto, afigura-se-nos perfeito, porquanto raio, ou fogo, materializa o poder infinito da divindade. A forma triangular voltada para baixo, ao simbolizar o próprio homem e o recipiente afunilado por que descem as potestades celestes, sugere que todas as forças do alto devem dirigir-se ao homem e por ele passar. Se a embocadura do triângulo visualiza o objeto que capta as energias, o seu simbolismo, como um todo, o confunde com o supremo, que se manifesta nos elementos criados que estão embaixo. Deus é um triângulo em chamas que incendeia e fecunda, com seus raios, o homem que o invoca”...
JOSÉ FERNANDES: O Poema visual: leitura do imaginário esotérico (Da antiguidade ao século XX). Petrópolis: Vozes, 1996.
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