POESIA BRASILIANA – POETI BRASILIANI
Traduzioni di Giampaolo Tonini
MARLY DE OLIVEIRA
Marly de Oliveira Cabral de Melo. N. a Cachoeiro do Itapemirim, Stato di Espirito Santo, l´11 giugno 1935. Poetessa e traduttrice. Laureada in Lettere, si à profezionata in Lingua e letteratura italiana all´Universitá di Roma (1959-60) Ed è stata allieva di Ungaretti. Há insegnato Letteratura ispano-americana alla PUC (“Pontificia Univ . Católica”, Rio de Janeiro). É vissuta all´estero per lunghi periodi: Argentina (1968-71), Svizzera (1971-1974), portogallo (1986-87).
Libri di poesia pubblicati: Cerco da primavera (1957), Explicação de Narciso (1960), A suave pantera (1962), A vida natural / O sangue na veia (1967), Contato (1975), Invocação de Orfeu (1979), Aliança (1979), A força da paixão/ A incerteza das coisas (1982), Retrato /Vertigem / Viagem em Portugal (1986), O Banquete (1988), Obra poética reunida (1989), O deserto jardim (1990).
[POETI BRASILIANI CONTEMPORANEI a cura di Silvio Castro, traduzioni i Giampaolo Tonini. Venezia: Centro Internzionale della Grafica di Venezia, 1997. (Quaterni Internazionali di Poesia – 1) Opera pubblicata con contributo del Ministério da Cultaura do Brasil / Fundação Biblioteca Nacional / Departamento
Nacional do Livro.
A SUAVE PANTERA I
Como qualquer animal,
olha as grades flutuantes.
Eis que as grades são fixas:
ela, sim, é andante.
Sob a pele, contida
— em silêncio e lisura —
a força do seu mal,
e a doçura, a doçura,
que escorre pelas pernas
e as pernas habitua
a esse modo de andar,
de ser sua, no perfeito equilíbrio
de sua vida aberta:
uma e atenta a si mesma,
suavíssima pantera.
LA SOAVE PANTERA I
Come qualsiasi animale,
guarda le sbarre fluttuanti.
Ecco che le sbarre son ferme:
lei, sì, è deambulante.
Sotto la pelle, trattenuta
— in silenzio e morbidezza —
la forza del suo male,
e la dolcezza, la dolcezza,
che scende nelle zampe
e le zampe abitua
a quel modo di andare,
e di essere suo, suo,
nel perfetto equilibrio
della sua vita aperta:
uma e attenta a se stessa
soavissima pantera.
A SUAVE PANTERA II
É suave, suave, a pantera.
Mas se a quiserem tocar
sem a devida cautela,
logo a verão transformada
na fera que há adentro dela:
o dente de mais marfim
na negrura toda alerta,
e ser, de princípio a fim,
a pantera sem reservas,
o fervor, a força lúdica,
da unha longa e descoberta,
o êxtase da sua fúria,
sob o melindre que a fera,
em repouso, se não a tocam,
como quem tem na singela
forma que não se alvoroça
por si só, antes parece,
na mansa, mansa e lustrosa
pelúcia com que se adorna,
uma viva, intensa jóia.
LA SOAVE PANTERA II
É soave, soave, la pantera.
Ma se la si vuol toccare
senza la dovuta cautela,
subito la si vedrà transformata
nella fiera che ha dentro di lei:
la zanna de più puro avorio
nella nerezza sempre in allerta,
ed essere, in tutto e per tutto,
la pantera senza riserve,
l´impeto, la forza ludica,
dell´unghia lunga e scoperta,
l´estasi della sua furia,
sotto la dolcezza che la fiera
in reposo, se non la si tocca,
sembra avere lla semplice
forma che non si scatena
da sola, anzi pare,
nella mansa, mansa e lucente
pellicia di cui si adorna,
un vivo, intenso gioiello.
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A SUAVE PANTERA V
Com tanto furor interno,
quem a livra, quem a livra
de ser o seu próprio inferno,
de, pelo foto da ira,
consumir-se estando quieta,
de acabrunhar-se sozinha.
Nem se diria uma fera!
Nem se diria rainha!
As patas pisando chão
têm uma dura leveza,
os pelos brilhando de ônix,
— de si mesma prisioneira —
caminha de um lado a outro
como pelo mundo inteiro.
Há esmeraldas de silêncio
nos seus olhares acesos.
LA SOAVE PANTERA V
Con tanto furore interno,
chi mal le potrà impedire
di essere il suo stesso inferno,
di, per il fuoco dell´ira,
consumarsi stando quieta,
e di avvilirsi da sola.
Non si direbbe una regina!
Le zampe posando al suolo
con una dura leggerezza,
il pelo brilla come onice,
— di se stessa prigionera —
cammina avanti e indietro
comme per il mondo intero,
Smeraldi di silenzio
nei suoi aguardi accesi.
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CONTATO IX
Na tarde sem soçobro o azul instala
sobre as coisas um líquido silencio,
e a mim me deixa só, desapartada,
na observância fiel de um obsidente
solilóquio amoroso, propiciado
por tua ausência e minha infausta mente.
Do jugo não imposto e incerto estado
ninguém me livra, que este mal de agora
ainda é o bem em mal transfigurado
por obra da distância e da memória,
não do acaso ou do sonho, não da sépia
que às vezes cobre o chão de melancólicas
paisagens. Que noturnas, vãs, repletas
formas criadas pelo imaginar
venturoso (que nem o sono aquieta)
sobem de mim a ti, crescem no ar,
sem perguntas, propósitos, certezas,
e enrolam-se em si mesmas devagar,
impregnadas de límpida escureza.
Em torno a solidão não desampara,
antes fecunda a antiga natureza
que dorme a tanto mito entrelaçada.
CONTATTO IX
Nella sera in quiere l´azzurro stende
su ogni cosa un liquido silenzio,
e me invece lascia sola, appartata,
fedele osservante di um assillante
soliloquio amoroso, propiziato
dalla tua assenza e dalla mia infausta mente.
Dal giogo non imposto e incerto stato
nessuno mi libera, che questo mal di oggi
ancor è il bene in ma transfigurato
complice la distanza e la memoria,
non il caso o il sogno, non il seppia
che a volte copre il suolo di malinconici
paesaggi. Che notturne, vane, piene
forme create dall´immaginare
venturoso (che neanche il sonno acquieta)
si levan da me a te, crescono nell´aria,
senza domande, propositi, certezze,
e in dense spire lentamente salgono,
impregnate di limpida oscurità.
Qui la solitudine non rattrista,
anzi feconda l´antica natura
che dorme a cosi grande mito avvinta.
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CONTATO XXVI
De novo o teu chamado me levanta,
e te sigo paciente e recatada,
ó solidão, ó nada
milagroso entre as sombras desta casa,
ah desejo de arder na antiga chama,
que ontem já me reteve
até o amanhecer, perdida e achada
nos puros pensamentos que me vinham.
A quem agradecer?
e como? e onde? a alegria de estar
aqui, ao pé da cama, suave e isenta,
e não obstante, plena.
Nenhum bem confiscado, um conexivo
sentir levando a um não sei onde sem
qualquer dureza, e doendo
de esperança ou de um quase entendimento.
CONTTATO XXVI
Di nuovo il tuo richiamo mi fa alzare,
e ti seguo paziente e discreta<
o solitudine, o nulla
miraculoso tra le ombre di questa casa,
ah desiderio di ardere nell´antica fiamma,
che già ieri m´intrattenne
fino all´alba, perduta e ritrovata
nei puri pensieri che mi venivano.
Chi ringaziare?
e come? e dove? la gioia di stare
qui, accanto al letto, soave e leggera,
e tuttavia, piena.
Nessun bene confiscato, um connessivo
sentirsi portare a um non so dove senza
nessuna durezza, e dolere
di speranza o di un quase intendimento.
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O SANGUE NA VEIA I
A carne é boa, é preciso louvá-la.
A carne é boa, não é triste ou fraca.
O que a atinge é a fraqueza que há num homem,
a tristeza, maior que um homem, mata-a.
A carne nada tem, salvo o seu sono,
barro tranqüilo de harmoniosa forma,
corpo real de toda a nossa glória.
A carne é o instrumento do princípio,
é por ela que eu vivo, que vivemos,
e se revela o amor como é preciso:
o que está fora se une ao que está dentro,
alma e corpo confundidos,
e a sensação completa de estar vendo.
IL SANGUE NELLA VENA I
La carne è buona, è necessario lodarla.
La carne à buona, non è triste o debole,
Ciò Che l´affeta è la debolezza Che c´è in un uomo,
la tristrezza, più grande di un uomo, la uccide.
La carne non há nulla, salvo il suo sonno,
creta tranquilla d´armoniosa forma,
corpo reale di tutta la nostra gloria.
La carne è lo strumento del principio,
è per essa che io vivo, Che viviamo,
e se rivela l´amore com´è dovuto:
ciò Che sta fuori si unisce a ciò che sta dentro,
anima e corpo nel corpo confusi,
e la sensazione assoluta di star vedendo.
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O SANGUE NA VEIA II
Mas vendo o quê com os olhos, os sentidos.
Que visão nos permitem, salvo aquela
instantânea e fugaz, que não dirijo,
e que não suportamos de tão bela.
O ver tranqüilo, sem excesso, e quero,
como a luz delicada que há num barco,
numa folha, num bicho; um ver quieto,
que, absorvendo o real, nos deixe fartos;
um ver maior que a fome, dilatado;
um ver maior que a sede, diluído;
um ver-amor, não água, como um cacto,
mas um cacto que puder ser domado,
e, não sendo água, ser todo bebido.
IL SANGUE NELLA VENA II
Ma vedendo che cosa con gli occhii, con i sensi.
Che visione ci permettono, se non quella
instantanea e fagace, che non governo,
e che non supporitiamo tanto è bella.
Il vedere tranquillo, senza eccesso, io voglio,
como la luce delicata che c´è in una barca,
in una foglia, in un animale; um vedere quieto,
che assobendo il reale, ci lasci sazi;
un vedere più grande della fame, dilatato;
un veder-amore, non acque, como un cactus,
ma un cactus che potesse essere domato,
e, non essendo acqua, essere bevuto.
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O SANGUE NA VEIA XVII
É como o renascer de uma onda brava,
assim belo e esperado, e com a alegria
de quem foi surpreendido pela água,
que sabia que vinha, mas não via.
Os corpos se movendo para a clara
constatação da dor que se queria,
onda violenta como de outra onda
toda naturalmente renascida;
os corpos suavemente se movendo
em suave ondulação de coisa fria,
e movendo-se sempre para dentro,
— a alegria de amor é uma agonia —
cada vez mais cerrado e mais intenso
aquilo que nos move e que não víamos.
IL SANGUE NELLA VENA XVII
É como il rinascere di un´onda impetuosa,
cosi bello e atteso, e con l´allegria
di chi è stato sorpreso dall´acqua,
che sapeva che veniva, ma non vedeva.
I corpi che si muovono verso la chiara
constantazione del dolore che si voleva,
onda violenta come da altra onda
del tutto naturalmente rinata;
i corpi che soavemente si muovono
in soave ondeggiare di cosa fredda,
e si muovono sempre verso dentro,
— la gioia dell´amore è un´agonia —
sempre più serrato e più intenso
quel che ci muove e che non vedevamo.
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O SANGUE NA VEIA XVIII
A força que há na luz, não sua ausência,
pode ser a origem mais secreta
do escuro em que afundamos de repente:
por excesso de amor, eu não entendo
— o farfalhar macio, a crua seda —
aquilo que nos move, e que ultrapassa
o limite de tudo o que sabemos.
Por excesso de dor eu me humanizo,
eu me faço pequena e tão real,
nos tornamos serenos, silenciosos,
tão reais e inocentes e macios,
que essa luz que não vemos é demais.
Mesmo ser é um excesso em que caímos.
IL SANGUE NELLA VENA XVIII
La forza che c´è nella luce, non l asua assenza,
può essere l´origine più segreta
dell´oscuro in cui affondiamo d´improvviso:
per accesso d´amore, io non capisco
— il fruscio lieve, la cruda seta —
que che ci muove, e che oltrepassa
il limite di tutto ciò che sappiamo.
Per accesso di dolore io mi umanizzo,
io mi faccio piccola e cosi reale,
diventiamo sereni, silenziosi,
cosi reali e innocenti e lievi,
che quella luce che non vediamo è troppa.
Anche essere è un eccesso in cui cadiamo.
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O SANGUE NA VEIA XXVIII
Tu, só tu, puro amor, é que declinas
esse nada essencial que é a nossa força,
que se assegura na monotonia.
Tu só, tu, dissimulas, o que é farto
sob o suave e perfeito da alegria,
sob o suave e perfeito do que é fraco
e tem rutilação de pedraria.
Eu vivi, eu me alimento, eu me repouso,
e às vezes, como essa, estou vazia,
em que passeia, sem que o note, o fogo
de uma esperança franca e toda lisa.
Tu só, dás-me esse trono, puro amor,
onde se reina e, escrava, se é rainha.
IL SANGUE NELLA VENA XXVIII
Tu solo, puro amor, se che allontani
quel nulla essenziale che è cosa viva,
quel nulla essenziale che è nostra forza,
che si appoggia alla monotonia.
Tu solo riesci a far di ciò che è tédio
soave perferzione della gioia,
soave perfezione di cio che è tênue
e há il vivo splendore di una gemma.
Io vivo, io mi alimento, io mi riposo,
e talvolta, come casa, sono vuota,
in cui s´aggira, non notato, il fuoco
di una speranza schietta e tutta piana.
Tu solo, mi daí quel trono, puro amor,
dove si regna e, schiava, si è regina.
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O SANGUE NA VEIA XXIX
Tu só, pões-me no peito essa cobiça,
e mais que essa cobiça, essa doçura
agônica escorrendo pelo corpo,
como um óleo sem paz essa doçura,
esse medo, essa forma de querer
obsessiva, essa forma quase injusta.
De repente eu não caibo mais em mim,
de repente eu me torno plena e obscura,
como um rio de cheias muito altas,
que fosse para além do seu limite,
e não soubesse o que fazer das águas.
Assim o amor excede o que se vive,
e no meu pensamento ele se espraia
com aquela perfeição que há no impossível.
IL SANGUE NELLA VENA XXIX
Tu solo, m´infondi quella bramosia,
e più che bramosia, quella dolcezza
agonica che mi scorre nel corpo,
olio senza pace è quella dolcezza,
quel timore, quel modo di amare
ossessivo, quel modo quase ingiusto.
D´improvviso io non sto più dentro de me,
d´improvviso divento piena e oscura,
como um fiume gonfio oltermisura,
che il suo argine avesse superato,
e non sapesse che farfe cella acque.
Cosi l´amore eccede quel che si vive,
e nel mio pensiero egli si sparge
com quella perfezione che s´è nell´impossibile.
Página publicada em outubro de 2008,
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