POESIA BRASILIANA – POETI BRASILIANI
Traduzioni di Giampaolo Tonini
GILBERTO MENDONÇA TELES
N. a Bela Vista, Stato di Goiás, il 30 giugno 1931. Poeta, saggista, critico letterario, professore universitário. Laureato in Lettere e in Giurisprudenza. Libero docente di letteratura brasiliana e dottore in Lettere. Oltre all´Università di Goiás, dove ha cominciato la sua carriera acadêmica a la “Universidade Federal do Rio de Janeiro” e alla “Pontifícia Universidade Católica” della stessa città (doveè titolare di Letteratura brasiliana), ha insegnato in diversi periodi all´estero, in particolare nell´Uruguai e in Portogallo.
Libri di poesia pubblicati: Alvorada (1955); Estrela-d´alva (1956), Planície (1958), Fábula de fogo (1961), Pássaro de pedra (1962), Sintaxe invisível (1967), A raiz da fala (1972), Arte de amar (1977), Plural de nuvens (1984), etc.
Descobrimento – I. Palavra
Pego a palavra amor e dentro
dela semeio meu sigilo:
este rumor de mar batendo
esta paixão, este suspiro.
Reparo como vai ficando
densa a estrutura desse termo:
é como se as coisas que planto
contivessem ossos e nervos.
É como se houvesse no fundo
alguma luz, um pouco de alma,
como se um pouco fosse muito
e muito tudo o que me falta.
Daí ser preciso ir ao ponto
interior do que a contorna:
o espesso que se vai compondo
no corpo vivo que se forma.
E bem devagar ir abrindo
não a palavra — o seu caroço:
a essência mesma do recinto
que sabe a mel, de saboroso.
E só, além do grito,
sobre a beleza do momento,
ver no percurso acontecido
o que ficou acontecendo.
Conflito
O Antônio me fala em alunissagens e crateras,
se entusiasma com as viagens interplanetárias,
discute a matéria comprimida de estrelas e nebulosas
e me diz que há buracos negros no azul do céu.
Conhece livros e filmes sobre o cosmo,
sobre os dragões do Éden:
cita Carl Sagan, Asimov e outros clássicos do gênero.
Sabe de estrelas supernovas, de nêutrons,
e me descreve uma anã branca,
os quasares,
os pulsares,
os buracos de minhoca
e o sentido do ovo cósmico
no formidável colapso do universo.
E eu, que nem acredito nessa história de homens na lua!
E eu que, que continuo vendo apenas uma falua de prata
singrando silenciosa as nuvens da minha infância,
quando ainda não havia mar nem transatlânticos,
mas havia canoa nas cheias de Meia-Ponte
e fantasmas embrulhados de luar.
E eu, que até hoje procuro
(disfarçadamente)
o cavalo guerreiro de São Jorge?
Modernismo
No fundo, eu sou mesmo é um romântico inveterado.
No fundo, nada: eu sou romântico de todo jeito.
Eu sou romântico de corpo e alma,
de dentro e de fora,
de alto a baixo, de todo lado: do esquerdo e do direito.
Eu sou romântico de todo jeito.
Sou um sujeito sem jeito que tem medo de avião,
um individualista confesso, que adora luares,
que gosta de piqueniques e noitadas festivas,
mas que vai se esconder no fundo dos restaurantes.
Um sujeito que nesta reta de chegada dos cinqüenta
sente que seu coração bate mais velozmente
que já nem agüenta esperar mais as moças
da geração incerta dos dois mil.
Vejam, por exemplo, a minha cara de apaixonado,
a minha expressão de timidez, as minhas várias
tentativas frustradas de D. Juan.
Vejam meu pessimismo político,
meu idealismo poético,
minhas leituras de passatempo.
Vejam meus tiques e etiquetas,
meus sapatos engraxados,
meus ternos enleios,
meu gosto pelo passado
e pelos presentes,
minhas cismas,
e raptos.
Veja também minha linguagem
cheia de mins, de meus e de comos.
Vejam , e me digam se eu não sou mesmo
um sujeito romântico que contraiu o mal do século
e ainda morre de amor pela idade média
das mulheres.
Criação
ao Carlos Nejar
O verbo nunca esteve no inicio
dos grandes acontecimentos
No início estamos nós, sujeitos
sem predicados,
tímidos,
embaraçados
às voltas com mil pequenos problemas
de delicadezas,
de tentativas e recuos,
neste jogo que se improvisa à sombra
do bem e do mal.
No início estão as reticências,
este-querer-não-querendo,
os meios tons,
a meia-luz,
os interditos
e as grandes hesitações
que se iluminam
e se apagam de repente.
No início não há memória nem sentença,
apenas um jeito de o coração
enunciar que uma flor vai-se abrindo
como um dia de festa, ou de verão.
No início ou no fim (tudo é finício)
a gente se lembra de que está mesmo com Deus
à espera de um grande acontecimento,
mas nunca se dá conta de que é preciso
ir roendo,
roendo,
roendo
um osso duro de roer.
Tatilismo
Estou mesmo contíguo.
Terno e próximo,
tateio a densidade das paredes,
toco a força do barro e, digital,
vou apalpando o limo, o lodo, o gesso,
o que se faz de seda — o signo alado
que ainda move o céu quase tangível
na sua consistência.
Algumas vezes,
tomo a forma de chuva: é quando sinto
o visco, o peso, o comichão da terra,
quando inteiro me planto, agarranhando
o pelos da raiz e me aderindo
à substância da imagem que te grava
no carbono da noite.
Unida ao gesto,
a mão que te copia e te faz cócegas
disfarça o movimento e te assinala,
te despe e te inicia no sentido
do mais puro e compacto — o da matéria:
mármore, cobre, zinco, essas linguagens
granulada nos poros e nas fibras
indóceis da manhã.
Eu sempre tive
olhos nas pontas líricas dos dedos.
Sou dátilos, troqueus e muitos iambos
para escandir um dia os teus veludos
e por dentro alisar o teu mais íntimo
refúgio de silêncio.
Pele a pele,
conservo o teu desejo. Palmo a palmo,
manuseio teu ritmo e, no alvoroço,
viajamos na sombra o nosso impulso.
O amor vai-se fazendo corpo
na espessura da vida
EN ITALIANO
Scoperta – I. Parola
Prendo la parola amore e dentro
vi semino il mio sigilllo:
questo rumore di maré violento
questa passione, questo sospiro.
Ossevo come sta diventando
densa la struttura di questo termine
è como se le cose che pianto
contenessero ossa e nervi.
É come se vi fosse nel fondo
quelcehe luce, un poco d´anima,
como se il poco fosse molto
e molto tutto quel che mi manca.
É quindi necessário andare al punto
interno a quanto la contorna:
l´ispessimento che si va componendo
nel corpo vivo che si forma.
E molto lentamente andar aprendo
non la parola — il suo nocciolo:
l´essenza stessa del recinto
che sa di miele, tant´è delizioso.
E solo, oltre il grido,
nella bellezza del momento,
vedere nel percorso compiuto
quel che si ando compiendo.
Conflitto
Antonio mi parla di allunaggi e crateri,
si entusiasma per i viaggi interplanetari,
discute di matéria compressa di stelle e nebulose
e mi dice che ci sono buchi neri nell´azzurro del cielo.
Conosce libri e film sul cosmo
sui draghi dell´Eden:
cita Carl Sagan, Asimov e altri classici del genere.
As di stelle supernovae, di neutroni,
e mi descrive una nana bianca,
i quasar,
le pulsar,
i buchi di verme
e il senso dell´atomo primitivo
nell´inmenso colasso dell´universo.
E io, che neanche credo molto a quella storia dell´uomo sulla luna!
E io, che continuo a vedere solo uma feluca d´argento
che veleggia silenziosa le nuvole della mia infanzia,
quando ancorfa non c´erano transatlantici né maré,
ma c´erano canoe nelle piene di Meia-Ponte
e fantasmi avvolti dal chiarore lunare.
E io, che ancor oggi cerco
(dissimulatamente)
il vallo guerriero di San Giorgio?
Modernismo
In fondo, io sono proprio un romantico inveterato.
In fondo, niente: io sono romantico in ogni aspetto,
Io sono romantico nel corpo e nell´alma,
dentro e fuori,
dall´alto al basso, da ogni lato: a sinistra e a destra.
Io sono romantico in ogni aspetto.
Sono un soggetto madestro che há paura dell´aereo,
un individualista confesso, che adora i chiari di luna,
che ama i picnic e le notti di festa,
ma che si va a nascondere negli angoli dei ristoranti.
Um soggetto che su questo rettilineo d´arrivo dei cinquanta
sente che il suo cuore batte cosi velocemente
che ormai non ce la fa più ad aspettare le regazze
della generazione incerta del duemila.
Guradate, ad esempio, la mia faccia d´innamorato,
la mia espressione di timidezza, i miei vari
tentativi frustati di dongionvanni.
Guardate il mio pessimismo politico,
il mio idealismo poetico,
le mie lettture per passatempo.
Guardate i miei tic ed etichette,
le mie scarpe lucidate,
i miei teneri turbamenti,
il mio gusto per il passato
e per i presenti,
le mie manie,
e rapimenti.
Guardate anche il mio linguaggio
pieno di me, di miei e di come.
Guardate, e ditemi se io non sono proprio
um soggetto romântico che há contratto il male del secolo
e ancora muore d´amore per l´età di mezzo
delle done.
Creazione
a Carlos Nejar
Il verbo non fu mai all´inizio
dei grandi avvenimenti
All´inizio siamo noi, soggetti
senza predicati,
timidi,
imbarazzati
alle prese con mille piccoli problemi
di delicatezze,
di tentativi e arretramenti,
in questo gioco che si improvvisa all´ombra
del bene e del male.
All´inizio sono le reticenze,
questo-volere-non-volendo,
i mezzi toni,
la mezza luce,
le titubanze,
e le grandi esitazioni
che si illuminano
e si spengono all´improvviso.
‘’’All´inizio non c´è memória né sentenza,
appena un modo del cuore
di annunciare che un fiore si sta aprendo
come un giorno di festa, o d´estate.
All´inizio o alla fine (tutto è finizio)
ce si ricorda di stare próprio con Dio
in attesa di um garande avvenimento,
ma no ci si rende mai conto che è necessario
andar rodendo,
rodendo,
rodendo
un osso duro de rodere.
Tattilismo
Sono proprio contiguo.
Tenero e prossimo,
tasto la densità delle pareti,
tocco la forza della creta e, digitale,
vado palpando il limo, il fango, il gesso,
quel che si fa seta — il segno alato
che ancora muove il cielo quase tangibile
nella sua consistenza.
Qualche volta
prendo forma di pioggia, à quando sento
il richiamo, il peso, la smania della terra,
quando intero mi pianto, affegraffiando
i peli della radice e unendomi
alla sostanza dell´immagine che ti imprime
nella notte carbone.
Unita al gesto,
la mano che ti copia e ti solletica
dissimula il movimento e ti segna,
ti spoglia e ti inizia al senso
di quanto è più puro e compatto — alla materia:
marmo, rame, zinco, quei linguaggi
granulati nei pori e nelle fibre
indocili del mattino.
Ho sempre avuto
l´impulso di toccare com le mie liriche dita.
Io sono dattili, trocheim e molti giambi
per scandire un giorno i tuoi velluti
e per dentro accarezzare il tuo più intimo
rifugio di silenzio.
Pelle a pelle,
conservo il tuo desiderio. Palmo a palmo,
maneggio il tuo ritmo e, nel tumulto,
viggiamo nell´ombra il nostro impulso.
L´amore si va facendo corpo a corpo
nella selva della vita.
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TELES, Gilberto Mendonça. Plurale di nuvole. Antologia poetica a cura di Giovanni Ricciardi. Traduzione e note Carmen Pugliuca. Plural de nuvens. Antologia poética. Napoli: Liguori, 2006. 25 p. 11X19 CM. ISBN 88-207-3934-8 Col. A.M.
La scelta antologica di composizioni poetiche di Gilberto Mendonca Teles qui presentata prende il titolo da una sua significativa raccolta del 1982. Dopo i primi componimenti che ci permettono di fare la conoscenza dell'Autore, riuniti a formare il suo Autoritratto, il criterio seguito è quello cronologico. Il lettore potrà così seguire il percorso poético ed esistenziale dell'Autore che porta sempre con sé il,profumo della sua terra d'origine, gli altipiani di Goiàs e Brasilia, pur mostrando quanto intensamente viva il suo tempo e le infinite contraddizioni del suo Brasile.
Docente universitario, è noto anche come saggista e storico della letteratura. Personalità di grande ricchezza e interesse, ci propone qui le sue Nuvole.
Nuvole come i pensieri: cangianti, mobili, imprevedibili, misteriosi. Nuvole come la vita: multiforme e sfaccettata, radiosa e drammatica, scanzonata e crudele.
CURRICULUM
Fiz o meu curso de madureza,
passei nos testes com bom conceito:
conheço tudo de cama e mesa,
tenho diplomas dentro do peito.
Aluno médio de neolatinas,
vi línguas mortas, literaturas...
Mas eram tantas as disciplinas,
as biografias, nomenclaturas,
tantos os rumos na encruzilhada,
tantas matérias sem conteúdo,
que eu acabei não sabendo nada,
embora mestre de quase tudo.
Doutor em letras, as minhas cartas
são andorinhas nos vãos dos templos;
ensino o fino das coisas fartas
e amores livres com bons exemplos.
Livre-docente, sou indecente
e nunca ensino o pulo-do-gato:
esta a razão por que há sempre gente
contra o meu jeito de liter-rato.
Sou bem casado, mas já fiz bodas;
Já fui cassado, tive anistia:
e, buliçoso, conheço todas
as coisas boas de cada dia.
Só não conheço o que mais excita,
o que me envolve por todo o lado:
talvez a essência da coisa escrita,
talvez a forma dum mau-olhado.
[Plural de nuvens, 1984]
CURRICULUM
Ho fatto il mio corso di maturità,
passato gli esami con buon giudizio:
so tutto dalla tavola al letto,
porto diplomi dentro al petto.
Alunno medio di materie neolatine,
ho visto lingue morte, letterature...
Ma erano tante le discipline,
le biografìe, nomenclature,
tante le direzioni al crocevia,
tante materie senza contenuto,
che ho finito per non saper niente
anche se ho il master in quasi tutto.
Dottore in lettere, la mia corrispondenza
sono rondini nei vani dei templi;
delle cose sature insegno la quintessenza
e amori liberi con buoni esempi.
Libero docente, sono indecente
e non insegno mai il salto del gatto*
questo il motivo per cui c'è sempre gente
contraria alla mia attitudine di lette-ratto.
Sono felicemente sposato ma già con nozze d'argento;
Già fui radiato', ma ebbi amnistia:
e, irrequieto, sono andato conoscendo
d'ogni giorno tutto il buono che ci sia.
* Le parole o espressioni in corsivo sono spiegate nel
Glossario.
' Riferimento all'Atto Istituzionale n° 5, con cui nel 1968
il poeta viene esonerato dai suoi incarichi di professore. Si
noti, in portoghese, il gioco di parole tra cassado e casado.
ENIGMA
Que gesto colherá o pássaro terrível
que sobre nós traçou a condição de efémeros?
Quem na noite virá clareando os caminhos
por onde nunca mais, nunca mais passaremos?
Um grito de renúncia aprofunda a distância
que um dia sobre a terra os nossos passos trôpegos
estenderam, deixando uma só esperança
a desfazer-se eterna em fundo desespero.
Nenhum pássaro canta o segredo esquecido
nem abre no metal um céu de pedra e fogo.
As sombras nos desvãos bocejam num cochilo
e a tarde esconde o som do mundo no seu bojo.
Mas no longo silêncio entre os sonhos da vida
e a inútil solidão dos homens,
mais profunda,
uma estrela tresluz num símbolo de eterno
plantado em diagonal no centro da pergunta.
(De Pássaro de pedra, 1962)
ENIGMA
Quale gesto raccoglierà l'uccello terribile
che su di noi tracciò la condizione di effimeri?
Chi nella notte verrà a rischiarare i cammini
per dove mai più, mai più passeremo?
Un grido di rinuncia approfondisce la distanza
che un giorno sulla terra i nostri passi stentati
distesero, lasciando una sola speranza
a disfarsi eterna in profonda disperazione.
Nessun uccello canta il segreto dimenticato
ne incide nel metallo un cielo di pietra e fuoco.
Le ombre in soffitta sbadigliano sonnecchiando
e il pomeriggio nasconde il suono del mondo nella
[sua pancia.
Ma nel lungo silenzio tra i sogni della vita
e l'inutile solitudine degli uomini,
più profonda,
una stella traluce in un simbolo d'eterno
piantato in diagonale in mezzo alla domanda.
LETRA
Desculpa o tanto que te fiz de mal
e esquece tudo o que te fiz de bem.
Desculpa o meu amor tão natural
e que por ser assim foi mais além.
E te deu essa forma de horizon-
te que se abre nas lâminas de abril,
sempre tentando aproveitar o tom
das nuvens roxas para o teu perfil.
E num giro de luz (lua e farol)
anoiteceu teu corpo sem nenhum
sinal que revelasse o girassol
da tua imagem no falar comum.
E da raiz mais limpa da manhã
foi recolhendo a essência até da úl-
tima gota de orvalho, neste afã
de te dar sempre a gota mais azul.
E amou teu nome de silêncio e mel
e amou teu canto de distância e fim.
Esquece agora quem te foi fiel,
desculpa o tanto que te dei de mim.
(De Arte de armar, 1977)
LETTERA
Perdona il tanto che ti feci di male
e dimentica tutto quello che ti feci di bene.
Perdona il mio amore così naturale
che tanto in là è andato perché tale.
E dell'orizzonte ti diede la figura
di quando s'apre sulle lame d'aprile
sempre tentando di sfruttar la sfumatura
delle nuvole lillà per il tuo profilo.
E in un giro di luce (luna e faro)
Oscurò il tuo corpo senza alcun
segno che rivelasse il girasole
della tua immagine nel parlar comune.
E dalla radice mattutina più luminosa
fino all'ultima goccia di rugiada raccoglieva,
per coglierne l'essenza, in questa voglia ansiosa
di darti sempre la goccia più azzurra che poteva.
E amò il tuo nome di silenzio e miele
e amò di distanza e fine il tuo canto.
Dimentica adesso chi ti fu fedele,
perdonami l'averti dato tanto.
ARS LONGA...
Assim como os deuses cochilam
para dar tempo de sobra à sedução do amante
e mais vida e mais força a quem tem mais amor,
assim também saberão descontar do Tempo
nosso tempo de pesca e de poesia.
Quando olho a fundura de um poço de sombras
e vejo a linha se esticando na fisgada,
começo a perceber que o tempo ficou boiando
num remanso de espuma e redemoinhos,
ficou batendo nas águas como a curva
da vara na correnteza ou no alvoroço
de trazer um bom peixe para o almoço.
(De longe, os deuses parecem sorrir
do meu prazer amargo de mostrar
a linha arrebentada...)
Seguramente os deuses estão dormindo
quando gasto a manhã procurando pescar
as palavras ariscas que se escondem
nas locas do silêncio ou se repetem
na duração do risco ou na espessura
de uma linha partida na fundura.
(Na outra margem,
de cima do barranco,
alguém contempla o fundo da linguagem
na superfície do papel em branco.)
(De Plural de nuvens, 1984)
ARS LONGA...
y come gli dei siappisolano
JH dar tempo a iosa alla seduzione degli amanti
e più vita e più forza a chi più amore ha,
così sapranno anche scontare dal Tempo
tro tempo di pesca e di poesia.
do osservo la profondità d'un pozzo d'ombre
edo la lenza allungarsi per l'impulso ricevuto,
"comincio a capire che il tempo è rimasto a galla
su di uno specchio di spuma e vortici,
|è rimasto a battere le acque come la curva
della canna nella corrente o nella preoccupazione
di rimediare un buon pesce per colazione.
(Da lontano, gli dei sembrano sorridere
del mio piacere amaro di mostrare
K? lenza rotta.)
Sicuramente gli dei dormono
lllSìdo spreco il mattino nel tentativo di pescare
le parole sabbiose che si nascondono
nelle tane del silenzio o si ripetono
Hllla durata del solco o nello spessore
•l'ima lenza spezzata lungo le profondità.
(Sull'altra sponda,
da uno scosceso fianco,
Qualcuno contempla il fondo del linguaggio,
Sulla superficie del foglio bianco.)
POIÉTICA (Fragmento)
A José Fernandes
I. Tudo em mim é desejo de linguagem:
minha própria emoção, esta passagem
à espessura das coisas, o convite
ao mais além da sombra e do limite
e esta confirmação da realidade
na plumagem dos nomes, na verdade,
têm seu lado e segredo, é pura essência
do que se fez silêncio e reticência.
7. Eu sei que a poesia é um vento escuro
e belo, com seu risco e seu futuro,
água de rio abaixo, repartida
entre o fluir e a margem, entre a vida
e o que ficou de lado, bem no fundo
de sua própria história e de seu mundo,
matéria intransitiva, força alada
de luz abrindo o azul da madrugada.
POIETICA (Frammento)
I. Tutto in me è desiderio di linguaggio:
la mia propria emozione, questo passaggio
verso lo spessore delle cose, l'esortazione
a superare l'ombra e la demarcazione
e questa conferma della realtà
attraverso il piumaggio dei nomi, in verità,
hanno il loro lato ed il loro segreto, è pura
[essenza
di ciò che si è fatto silenzio e reticenza.
7. Io so che la poesia è uii vento scuro
e bello, col suo rischio e il suo futuro,
acqua di fiume a valle, spartita
tra il corso e il margine, tra la vita
e quel che le è rimasto a lato, molto in fondo
alla sua stessa storia e al suo mondo,
materia intransitiva, forza alata
di luce che dischiude l'alba azzurrata.
Página publicada em dezembro de 2008. Ampliada e republicada em janeiro de 2014
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