ONDE ESTÃO OS MORTOS?
Onde estão os mortos que nos acompanham desde o início?
A palavra move-lhes os lábios. Esperam
como se nada tivessem feito, parecem disputar-nos
amores que não realizamos. Terrível a respiração
que lhes encrespa as narinas! São terríveis!
Avançam lentamente segurando cachimbos
e coisas derelictas. Na hora
em que as andorinhas enterram o verão, acenam
insensíveis e próximos, tangidos para trás.
Estão no meio de nós, colhem fios de erva sobre os
muros. Machucam amoras com a ponta dos dedos.
Riem-se. Riem-se de dentro da terra, enquanto
os olhos observam a súbita aparição
de um homem e uma mulher enlaçados.
da CORPO A CORPO (1973)
DOVE SONO I MORTI?
Dove sono i morti che da sempre ci accompagnano
La parola muove loro le labbra. Aspettano
come se nulla avessero fatto, paiono contenderei
amori che non realizziamo. Terribile il respiro
che corruga loro le narici! Sono terribili!
Avanzano lentamente con in mano pipe
e cose derelitte. Nell'ora
in cui le rondini sotterrano l'estate, ammiccano
insensibili e prossimi, indietro sospinti.
Sono in mezzo a noi, colgono fíli d'erba sui
muri. Schiacciano more con la punta delle dita.
Ridono. SelIa ridono dentro la terra, mentre
gli occhi osservano 1'improvvisa apparizione
di un uomo e una donna avvinghiati.
SE FOSSE DIA AMOR
Se fosse dia Amor e o espinho rebentasse
da terra dos claros olhos da terra
e fosse espinho em silêncio no meio
das palavras e as palavras doessem
no lugar dos dedos onde a lisura da pele
estoura em rocio sob o casco dos cavalos
ah se fosse silêncio entre a carne
e o espírito e a flama cobrisse os lábios
e os nervos atrelassem ao sol as coisas
e elas ardessem na língua do mundo
eu te apertaria Amor contra uma nebulosa
e te extrairia da boca de Deus
quando Ele te soprou para a morte
em meus braços em meus braços cobertos
do musgo de mil outros braços.
SE FOSSE GIORNO AMORE
Se fosse giorno Amore e la spina erompesse
dalla terra dai chiari occhi della terra
e fosse spina in silenzio nel mezzo
delle parole e le parole dolessero
al posto delle dita dove la morbidezza della pelle
esplode in rugiada sotto lo zoccolo dei cavalli
ah se vi fosse silenzio tra la carne
e lo spirito e Ia fíamma coprisse le labbra
e i nervi guinzagliassero ai sole le cose
e esse ardessero nella lingua del mondo
io t'avrei stretta Amore a una nebulosa
e favrei estratta dalla bocca di Dio.
quando Lui ti soffiò verso la morte
nelle mie braccia nelle mie braccia coperte
di muschio di mille altre braccia.
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da A MESA DO SILÊNCIO (1982)
ELEGIA DA SEMENTE
Em nossa carne, ó Amada, a lição aprendamos:
somos uma semente que do bico de uma ave
fulminou a terra. Espera-nos o lixo,
a traição de árvores podres. Dor suave
há-de roer-nos até que outro bicho
desperte em nós, oferecendo-nos o amplexo
de hastes batidas pelo vento, e a aparição de um fruto.
Deitados, sempre deitados, como convém a amantes,
as fibras se desfarão. Os glóbulos explodidos
cantarão no silêncio das larvas. E quietas,
dentro de nós, sob as calhas do desespero,
tecerão manhãs de mel as geladas borboletas.
Com elas sairemos aos céus. Assim reforjados. Amada,
assim trazidos ao mundo,
o corpo com novo papel sem escrita nenhuma,
rolaremos sobre capins que não viram a espuma
de amores já passados, já ilegíveis.
Boca a boca, dente a dente, com novo calor
seremos uma só carne, inoxidável, sabendo-a
dom último de Deus, e sua amêndoa.
da LA TAVOLA DEL SILENZIO (1982)
ELEGIA DEL SEME
Nella nostra carne, o Amata, Ia lezione apprendiamo:
siamo un seme che dal becco di un uccello
ha fulminato la terra. Ci aspetta l'immondizia,
il tradimento di alberi marci. Un dolore soave
ci roderà fínché qualcos'altro
si risvegli in noi, offrendoci l'amplesso
di aste abbattute dal vento, e l'apparizione di un frutto.
Sdraiati, sempre sdraiati, come si confà a degli amanti,
lê fíbre si disferanno. I globuli esplosi
canteranno nel silenzio delle larve. E quiete,
dentro di noi, sotto le gore delia disperazione,
tesseranno inattine di miele le gelide farfalle.
Con esse saliremo ai cieli. Cosi rifoggiati, Amata,
nuovamente ai mondo,
il corpo con nuova carta senza scritta alcuna,
rotoleremo sull'erba che non ha visto la spuma
di amori già passati, già illeggibili.
Bocca a bocca, dente a dente, con nuovo calore
saremo una sola carne, inossidabile, sapendola
dono ultimo di Dio, e sua mandorla.