POESIA BRASILIANA – POETI BRASILIANI
Affonso Romano de Sant´Anna sendo homenageado na abertura da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília,
dia 3 de setembro de 2008.
AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA
N. a Belo Horizonte, Stato de Minas Gerais, il 27 marzo 1937. Poeta e saggista. Dottore in Lettere, professore di letteratura della Pontificia Universidade Catolica e della Universidade Federal do Rio de Janeiro. Há impartito corsi di letteratura brasiliana, como professore visitante, in università degli Stati Uniti, Germania, Danimarca, Francia e Portogallo.
Libri di poesia pubblicati: Canto e palavra (1965), Poesia sobre poesia (1975), A grande fala do índio guarani... (1978), Que país é este? (1980), A Catedral de Colônia e outros poemas (1985), A poesia possível (1989), etc.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTI EN ITALIANO
TEORRÉIAS
# Dom Miguel de Saavedra y Cervantes, talvez porque perdesse muito tempo prisioneiro no Norte da África até que a rainha o resgatasse por 500 moedas de prata, não pôde estudar estilística com Dámaso Alonso e Helmut Hatzfeld, mas já temia que Borges e Pierre Menard lhe escrevessem o Dom Quixote.
#Scheherazade, sem que o Rei notasse e acoimada pela irmã, pulou as páginas da 1001 Noites escritas por Tzvetan Todorov sabendo que naquele exato momento ele estava reescrevendo o Decamerão.
#Rabelais ainda pôde ler Starobinski, Skolovsky e os pesquisadores da École de Hautes Études, mas soube de Balzac que ele deixou de lado a A Comédia Humana, tão interessado ainda no S/Z de Barthes e nos cursos de semiologia da Sorbonne.
# O cacique Bororo com O Cru e o Cozido debaixo dos braços bateu à porta da Alliance Française pedindo que M. Lévi-Strauss lhe ensinasse finalmente a língua de Montaigne..
# Joyce certamente escreveu o Finneganas Wake, viveu em Trieste e sabia mil línguas , mas morreu, e isto é grave, sem ter lido o Plano Piloto da Poesia Concreta.
TEORREE
# Don Miguel de Saavedra y Cervantes, forse perché aveva peduto molto tempo prigioniero nel NOrd Africa fino a quando la regina lo riscattoò con 500 monete d´argento, non pote studiare stilistica con Dámaso Alonso e Helmut Hatzfeld, m già temeva che Borges e Pierre Menard gli scrivessero il Don Quijote.
# Scherahezade, senza che il Re s´accorgesse e rimproverata dalla sorella, salto le pagine delle Mille e una notte scritte da Tvetan Todorov sapendo che il quel preciso istante egli stava reiscrivendo il Decamerone.
# Rabelais non há ancora potuto leggere Starobinski, Skolovsky e i ricercatori della École de Hautes Études, ma ho saputo da Balzac che ha messo da parte La Commedia Umana, impregnato com´è com l´S/Z de Barthes e con i corsi di semiologia della Sorbonne.
-----------------------------------------------------------------------------------
SEPARAÇÃO
Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos
das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermédio.
Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juízo final do desamor.
Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
— pareciam se amar tanto!
Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.
Amou-se um certo modo de despir-se,
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.
No entanto, o amor bate em retirada
com suas roupas amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.
No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afetos natimortos.
O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.
Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?
Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo.
SEPARAZIONE
Smontare la casa
e l´amore. Staccare
i sentimenti
da pareti e da lenzuola.
Levare le tende
dopo la tempesta
delle discussioni.
L´amore non há resistito
a colpi, insulti, fiori
e corpi intramezzati.
Impilare libri, quadri,
dischi e rimorsi.
Aspettare l´infernale
giudizio finale del disamore.
Vicini si spaventano la mattina
davanti alle macerie accanto alla porta:
— sembrava s´amassero tanto!
Vi fu un tempo:
una casa di capagna,
foto a Venezia,
un tempo in cui sorridente
l´amore agglutinava feste e cebe,
Si amò un certo modo di spogliarsi,
di pettinarsi.
Si amò un sorriso e un certo
modo di preparar la tavola. Si amò
un certo modo di amare.
Eppure, l´amore batte in ritirata
coi suoi panni ammassati, shieri di insulti
valigie disperate, singhiozzi trattenuti.
Mancò amore nell´amore?
Si logorò l´amore per amoré?
Si stancò l´amore?
Nella stanza dei figli
un´altra sconfitta in vista:
papazi e giochi pendono
in un collage di affetti nati morti.
L´amore è crollato e há fretta di andarsene
vergognoso.
Erigerè un´altra casa, amoré?
Scegliera oggetti, abiterà in spiaggia?
Viaggerà nella neve e nella nebbia?
Attonito, perplesso, senza meta
un corpo esce di casa
con frammenti di passato per la testa
e un impreciso futuro.
Nel petto il cuore pasa
più di uma valigia di piombo.
----------------------------------------------------------------------
Epitáfio para o século XX
1.
Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.
2.
Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.
3.
Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.
4.
Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.
5.
Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.
6.
Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.
7.
Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas,sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.
8.
Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.
9.
Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.
10.
Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.
11.
Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
— per seculae seculorum.
Epitaffio per il sec. XX
1.
Qui giace un secolo
che vide due o tre guerre
mondiali e migliaia
di altre minori
e ugualmente bestiali.
2.
Qui giace un secolo
che credette
che esser di sinistra
o di destra
eran questioni centali.
3.
Qui giace um secolo
che quasei svani
nel fungo atomico.
Si salvarono il caso
e i pacifisti
col loro omeopatico
atteggiamento
— nux-vomica.
4.
Qui giace il secolo
che un muro divise.
Un secolo di cemento
armato, canceroso,
drogato, appestato,
che alla fine sopravvisse
ai batteri che partori.
5.
Qui giace un secolo
che s´identificò
con le stelle
sugli schermi
e che il suicidio
dell supernovae
contemplò.
Un secolo fimato
che via col vento andò.
6.
Qui giacfe un secolo
semiotico e dispotico,
che si penso dialettico
e fu patético ed eidetico.
Un secolo que decreto
la morte de Dio,
la morte della storia,
la morte dell´uomo,
in cui si passeggiò sulla luna
e si morì di fame.
7.
Qui giace un secolo
che opponendo classe a classe
quase si declassò.
Secolo pieno di anatemi
e antenne, siberie e gestapo
e ideologiche safene;
secolo technicolor
che tutto trapiantò
e il bianco, al Nero,
a fática accostò.
8.
Qui giace un secolo
che si stese sul lettino.
Secolo narciso & schizo,
che non pote computare
i suoi neologismi.
Secolo avanguardista,
marxista e guerrigliero,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
Borges-kafkiano.
Secolo di utopie e hippies
che ci starebbero in in chip.
9.
Qui giace un secolo
che si chiamò moderno
e guardando presuntuoso
il passato e il futuro
si crede eterno;
secolo che di se
fece tanto sfoggio
e, tuttavia,
— poteva andarsene prima.
10.
Fu duro attaversarlo.
Molte volte morii, altre
volli ritornare al 18º
o 16º, saltare al 21º,
andarmene di qui
in nessun posto.
11.
Abbiate pietà di noi, o voi
che in altri tempi ci giudicate
dalla confortevole galassia
in cui ironici state.
Abbiate pietà di noi
— moderni medievali —
abbiate pietà como Villon
e Brecht per voce mia
di nuovo implorano. PÇIetà
di chi visse in questo secolo
per saecula saeculorum.
Página publicada em novembro de 2008.
|