REGIS BONVICINO
Bonvicino was born in Sao Paulo (1955), where he has remained to become a central figure in Brazilian poetics. He graduated frorn law school in 1978, and
works as a judge. But his major energies are devoted to poetry, as a translator—of Oliverio Girondo, Jules La Forge, and several American poets including Michael Palmer, Douglas Messerli, and Robert Creeley—as an editor and poet.
Não Nada
Não nada ainda do outro
semelhante ainda ao mesmo
mínimo ainda o outro
ele mesmo não ainda outro
de um mesmo morto outro
insulado em seu corpo
Vincos do mesmo ainda
no íntimo do outro tampouco
cicatrizes unem
tatuagens dissipam
antenas clavadas, em tinta
cacos do outro estilhaços do outro
Uma borboleta fixa encobre
cicatrizes num corpo
(from Outros Poemas, 1993)
NoNothing
No nothing still the other
similar still to the same
minimal still the other
he himself not yet the other
of the same dead another
secluded in his body
Traces still of the same
deep inside the other not yet
scars link
tattoos dissipate
bludgeoned antennas, in ink
shards of the other splinters of the other
A stilled butterfly screens
scars on a body
—Translated from the Portuguese by Regina Alfa
revised by Dana Stevens
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Quadrado
(para Bruna)
Uma formiga
picando nuvens
formigas traçam
trilhas quadradas
enquanto brancas
nuvens passam
o pôr-do-sol
e as girafas
de quatro em quatro
(from Ossos de Borboleta, 1996)
Quadrate
(to Bruna)
One ant
cropping clouds
ants trace
quadrate paths
while white
clouds pass
the sunset
giraffes
four by four
—Translated from the Portuguese by
revisions by Robert Creeley
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Onde
Onde eu escrevo
há o ruído
do lixo da cidade depois
de recolhido
sendo triturado
ha um abajur
uma cômoda
com espelho
e uma cama
desarrumada
o outono está próximo
a janela fechada
um cansaço súbito
toma conta das palavras.
NYC/29 Set/1994
(from Ossos de Borboleta, 1996)
Where
Where I write
there's the noise
of the city garbage after
it's collected
being ground
there's a lamp
a chest of drawers
with a mirror
and a bed
unmade
autumn is near
the window closed
a sudden fatigue
takes charge ofthe words.
NYC/Sept 29 /i994
—Translatedfrom the Portuguese by John Milton
Seleção de poemas publicados originalmente em:
NOTHING THE SUN COULD NOT EXPLAIN: 20 CONTEMPORARY BRAZILIAN POETS, edited by Régis Bonvicino, Michael Palmer and Nelson Ascher. In> THE PIPE – ANTHOLOGY OF WORLD POETRY OF THE 20TH CENTURY. Vol. 3. Los Angels, USA: Green Integer, 2003.
Edição com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Consulado Geral do Brasil em San Francisco, California, USA
ENCOUNTRARIES: 6 poetas brasileiros: 6 Brazilian poets. Nelson Ascher et al. Projeto e coordenação editorial Josely Viana Baptista, projeto gráfico e desenhos Francisco Faria, versões dos poemas para o inglês Regina Alfarano et al. Curitiba: Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba/ FCC; Associação Cultural Avelino Vieira / Bamerindus, 1995. 158 p. ilus. “ Josely Viana Baptista “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Às vezes
(depois de La Fontaine)
Às vezes burro
chifre carniça
mosca no corpo
raposa inútil
Às vezes corvo
falcão e águia
pavão serpente
pupilas foscas
Às vezes lobo
cão e cobiça
o rato mudo
e rosna lorpa
Deus e as abelhas
às vezes flores
unhas e dentes l
agoa seca
Quem quer a voz?
cão sem orelhas
rã sem orelhas
rato à Van Gogh
02-04-95
(inédito)
Sometimes
(after La Fontaine)
Sometimes donkey
carrion, horn
fly on the body
useless fox
Sometimes crow
falcon, eagle
peacock-snake
glazed pupils
Sometimes wolf
dog and greed
mute rat
idiot growl
God and bees
sometimes flowers
nails and teeth
a dry lake
Who wants the voice?
an earless dog
an earless frog
rat à la Van Gogh
(manuscript
Translated by Regina Alfarano
revised by Dona Stevens)
Entre
Entre motores
e ruídos
(pio
dissonante
e seco
estilhaço)
o voo do pássaro
cria
uma hipótese
de espaço
Among
Among motors
and noises
(dry
chirp
and dissonante
splinter)
the bird’s flight
creates
a new hypothesis
of space
(manuscript)
Translated by Dona Stevens
Março, no. 2
(depois de Creeley)
No rápido
pôr-do-sol
janela
primeira
luz da noite
indistintas
árvores
prédios
e o verão
alguém
dobrando
a esquina
March, n. 2
(after Creeley)
In the quick
sunset
window
first
light of night
insdistinct
trees
buiildings
and summer
someone
turns
a corner
(manuscript)
Translated by Dona Stevens
Sombras cúmplices
Sombras cúmplices
silêncio
seres
na cerimónia fúnebre.
Obscuro infortúnio
do dia-a-dia:
extinto o corpo,
uma alma se inicia.
E a vida persevera
|em sol,
em sol e miséria.
Exéquias
Uma nuvem no céu
segue-as.
(Outros poemas, 1993)
Accomplice shadows
Accomplice shadows
silence
beings
at the funeral.
Obscure misfortune
of day-to-day:
the body extinct,
a soul begins.
Life perseveres
through sun,
sun and misery.
Obsequies.
A cloud in the sky
like this.
Translated by Regina Alfarano
Olhar de dentro
Olhar de dentro,
tocar de dentro —
só, em si mesmo,
onde em silêncio
adentro,
onde os de fora,
avessos,
me concentro
de estar
dentro
que se concentra
numa rajada
de vento
mas está dentro
do dentro —
às vezes, monumento
os dos outros e os meus
de fora
com eles entro —
cabelos de dentro,
unhas de dentro —
miragem-fragmento
de peitos
dentro,
e o de fora me desconcentra
dentro do dentro —
ainda pouco
íntimo para um dentro —
subcutâneo
mas não aonde não mais veias,
onde apenas além âmago
dentro sem aparências —
dentro,
por um momento,
extremidades
do dentro
(Outros poemas, 1993)
Inner look
Inner look,
inner touch —
alone, in itself,
in silence
I go inside,
the outsiders
inside out
|I concentrate
from being
inside
concentrated
in a gust
of wind
the inside
sometimes, a monument
other’s and mine
from the outside
with them I go inside —
hair from the inside,
nails from the inside —
niirage-fragment
of breasts
inside,
the outside distracts me
from the inner inside —
still less
than intimate, for inside —
subcutaneous
but not towards where veins end,
where there is only marrow
an inside without semblances —
inside,
for one moment
extremities
of the inside
Translated by Regina Alfarano
(revised by Dona Stevens)
O tempo
O tempo foi de encontro
ao galho da quaresmeira
podre, no chão,
depois da chuva
Folhas murchas
de outra árvore
encurvadas pelo calor
como mãos fechadas
Menos vivas,
agora, as cores da estrelítzia
O portão da casa,
não lembra seu primeiro dia
Um buraco
exauriu
um pedaço de asfalto
O vermelho,
do automóvel na esquina
Os azuis em tons,
na fachada do edifício,
quase invisíveis
Grafites coloridos nos muros,
tampouco
poupados pelo tempo,
tornaram-se ilegíveis
(Outros poemas, 1993)
Time
Time struck
the branch of a glorybush
rotten, on the ground
after the rain
Withered leaves
from another tree
hent from the heat
like closed fists
Less live
now, the colors of the hird-of-paradise
The gate to the house,
not a reminder of the first day
A hole
has exhausted part of the asphalt
The red
of the car on the corner
The blues in shades,
on the huilding façade,
almost invisible
Colored graffiti on the walls,
also unspared by time,
have become illegible
Translated by Regina Alfarano
(revised by Dona Stevens)
Dentro
(para Michael Palmer)
Dentro do túnel
no muro
lapso, térebra?
"vatos locos
tamos cheios
de merda"
enquanto lodo
se acelera
novos ocos
ante o
céu
pedras
Inside
(for Michael Palmer)
Inside the tunnel
on the wall
a lapse, a drill?
“cra-Z bards
we be full
of shit”
while slime
speed up
new hollows
faciang
the sky
stones
(manuscript)
Translated by Dona Stevens
Outras palavras do por-do-sol
O sol se põe
como quem
o sol se põe
como se não
girasse
(a terra)
entre pontas côncavas de terra
o sol se compõe
como quem
soletra
estrelas
o sol se sobrepõe:
noitessol e sal,
aqui
entre pontas agora convexas
(súbito mergulho da gaivota)
o sol se recompõe
como quem
pesca
(33 poemas, 1990)
Other words for a sunset
The sun sets
like someone who
the sun sets
as if it did not
turn (s)
(the earth)
between the concave-edges of the earth
the sun settles
like someone
who spells
stars
the sun oversets:
nightsun and salt,
here
hetween now-convex edges
(sudden dive of the seagull)
the sun resettles
like someone
fishing
Translated by Regina Alfarano
(revised by Dona Stevens)
NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6 Includes 60 poets in Portuguese and English
Ex. bibl. Antonio Miranda
Entre
Entre motores
e ruídos
(pio
dissonante
e seco
estilhaço)
o voo do pássaro
cria
uma hipótese
de espaço
In between
Among engines
and noise
(dissonant
chirp
and dry
splinter)
the bird´s flight
creates
a hypothesis
of space
Página publicada em novembro de 2009; ampliada e republicada em fevereiro ded 2016
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